Cabanagem foi uma revolta social ocorrida no Império do Brasil, na então província do Grão-Pará,
estendendo-se de janeiro de 1835 a 1840, durante o período regencial brasileiro. Marcado por um
cenário de pobreza extrema, fome e doenças, o conflito existiu muito devido à
irrelevância política à qual a província foi relegada pelo príncipe regente Pedro
I após a independência do Brasil. Dado o seu saldo
de mortos exorbitante, a Cabanagem é um dos maiores conflitos já ocorridos na
história do país.
Nos antecedentes da revolta, havia uma mobilização da
província do Grão-Pará para expulsar forças reacionárias que desejavam manter a
região como colônia portuguesa. Muitos líderes locais da elite fazendeira, ressentidos
pela falta de participação política nas decisões do governo brasileiro
centralizador, também contribuíam com o clima de insatisfação após a instalação
do governo provincial.[1]
A revolta teve início em 6 de janeiro de 1835 quando o
quartel e o palácio do governo de Belém foram
tomados por tapuias,
cabanos, negros e índios liderados por Antônio Vinagre. O então presidente da
província foi assassinado e instituiu-se um novo presidente, Clemente Malcher; a tomada de poder promoveu
uma apoderação de material bélico por parte dos grupos revolucionários.
Malcher, no entanto, mais identificado com as classes dominantes, foi rapidamente
deposto. [ Sucedeu-se um conflito entre as tropas dele e as do líder dos
cabanos,Eduardo Angelim, tendo estas saído vitoriosas. O
frágil e instável controle cabano do Grão-Pará durou cerca de dez meses.
O império, então, nomeou por si um novo presidente, o barão de Caçapava, e,
frente a essa afronta às tendências centralizadoras do governo central,
bombardeou impiedosamente Belém. A deposição dos cabanos do poder foi rápida,
porém, como muitos deles, mesmo fora do poder, continuaram a lutar, o império
usou de seu poderio militar para sufocar a revolta e, até 1840, promoveu um
extermínio em massa da população paraense. Estima-se que cerca de 30 a 40% da
população de 100 mil habitantes do Grão-Pará tenha morrido no conflito.[1]
Origem do nome
A "cabanagem" remete ao tipo de habitação da
população ribeirinha, espécie de cabanas, constituída por mestiços.
História
Após a independência do Brasil, a província do Grão-Pará
(atual estado do Pará, na região norte do Brasil) mobilizou-se para expulsar as
forças reacionárias que pretendiam manter a região como colônia de Portugal.
Nessa luta, que se arrastou por vários anos, destacaram-se as figuras do cônego
e jornalista João Batista Gonçalves Campos, dos
irmãos Vinagre e do fazendeiro Félix Clemente Malcher. Formaram-se diversosmocambos de escravos foragidos
e eram frequentes as rebeliões militares. Terminada a luta pela escravidão e
instalado o governo provincial, os líderes locais foram marginalizados do
poder. A elite fazendeira do Grão-Pará, embora com melhores condições,
ressentia-se da falta de participação nas decisões do governo central, dominado
pelas províncias do Sudeste e do Nordeste.[1]
Em julho de 1831, uma rebelião na
guarnição militar de Belém
do Pará resultou na prisão de Batista Campos, uma das lideranças
implicadas. A indignação do povo cresceu, e em 1833 já se falava
em criar uma federação. O presidente da província, Bernardo Lobo de Sousa, desencadeou uma política
repressora, na tentativa de conter os inconformados. O clímax foi atingido em 1834, quando Batista
Campos publicou uma carta do bispo do Pará, Romualdo de Sousa Coelho, criticando
alguns políticos da província. Por não ter sido autorizada pelo governo da
Província, o cônego foi perseguido, refugiando-se na fazenda de seu amigo
Clemente Malcher. Reunindo-se aos irmãos Vinagre (Manuel, Francisco Pedro e
Antônio) e ao seringueiro e jornalista Eduardo
Angelim reuniram um contingente de rebeldes na fazenda de Malcher.
Antes de serem atacados por tropas governistas, abandonaram a fazenda. Contudo,
no dia 3 de novembro, as tropas conseguiram matar Manuel
Vinagre e prender Malcher e outros rebeldes. Batista Campos morreu no último
dia do ano, ao que tudo indica de uma infecção causada por um corte que sofreu
ao fazer a barba.
O movimento
Eduardo Angelim, um dos líderes da revolta.
Na madrugada de 7 de janeiro de 1835, liderados por
Antônio Vinagre, os rebeldes (tapuios, cabanos, negros e índios) tomaram de
assalto o quartel e o palácio do governo de Belém, nomeando Félix Antonio
Clemente Malcher presidente do Grão-Pará. Os cabanos, em menos de um dia,
atacaram e conquistaram a cidade de Belém,
assassinando o presidente Lobo de Souza e o Comandante das Armas, e
apoderando-se de uma grande quantidade de material bélico. No dia 7,
Clemente Malcher foi libertado e escolhido como presidente da província e Francisco Pedro Vinagre para
Comandante das Armas. O governo cabano não durou muito tempo, pois o novo
presidente, Félix Malcher - tenente-coronel, latifundiário e dono de engenhos
de açúcar - era mais identificado com os interesses do grupo dominante
derrotado, e é deposto em 19 de fevereiro de 1835, com o apoio das classes
dominantes, que pretendiam manter a província unida ao Império do Brasil.[1]
Francisco Vinagre, Eduardo
Angelim e os cabanos pretendiam se separar. O rompimento aconteceu
quando Malcher mandou prender Angelim. As tropas dos dois lados entraram em
conflito, saindo vitoriosas as de Francisco Vinagre. Clemente Malcher,
assassinado, teve o seu cadáver arrastado pelas ruas de Belém. Assumiu Francisco
Vinagre como o primeiro governador Cabano que participara ativamente da
conquista de Belém.
Devido a intervenção do clero e outras mazelas no
governo, Francisco Vinagre concordou em entregar pacificamente o governo a
Manuel Jorge Rodrigues (julho 1835) em troca de anistia aos revolucionários e
outras ações de cidadania. Muitos revolucionários descontentes e não
acreditando no cumprimento do acordo, principalmente por lembranças do massacre
do Brigue Palhaço em 1823, não entregaram as armas e se refugiaram no interior.
Como previsto Jorge Rodrigues não cumpriu o acordo e mandou prender Francisco
Vinagre. Os cabanos, indignados, reorganizaram suas forças e atacaram novamente
Belém sob o comando de Antonio Vinagre e Eduardo Angelim, em 14 de
agosto. Após nove dias de batalha, mesmo com a morte de Antônio Vinagre, os
cabanos retomaram a capital.
Eduardo Angelim assumiu a presidência. Durante dez meses,
a elite se viu atemorizada pelo controle cabano sobre a província do Grão-Pará.
A falta de um projeto com medidas concretas para a consolidação do governo
rebelde, provocaram seu enfraquecimento. Diante da vitória das forças de
Angelim, o império reagiu e nomeou, em março de 1836, o brigadeiro Francisco José de Sousa Soares
de Andréa como novo presidente do Grão-Pará, autorizando a guerra
total contra os cabanos. Em fevereiro, quatro navios de guerra se aproximavam
de Belém, prontos para atacar a cidade, tomada pela desordem, fome e varíola.
Foi realizado um bloqueio naval na cidade pelo brigadeiro d'Andrea que
estacionou sua esquadra em frente a Belém. Os cabanos insurgentes escapavam
pelos igarapés em pequenascanoas, enquanto
Eduardo Angelim e alguns líderes negociavam a fuga.[1]. Uma
esquadra inglesa chegou a oferecer ajuda a Eduardo Angelim para que este
acabasse com o bloqueio naval brasileiro, mas este recusou. Eduardo Angelim
conseguiu furar o bloqueio naval e se refugiou no interior. Os cabanos deixaram
a capital Belém vazia para as tropas de d´Andrea.
O brigadeiro d'Andrea, entretanto, julgando que Angelim,
mesmo foragido, seria uma ameaça, determinou que seus homens fossem ao seu
encalço. Em outubro de 1836, numa tapera da selva, ao lado de sua mulher,
Angelim foi capturado, tornado prisioneiro na fortaleza da Barra, até seguir
para o Rio de Janeiro e depois Fernando de Noronha. A Cabanagem, porém, não
acabou com a prisão de Eduardo Angelim. Os cabanos, internados na selva,
lutaram até 1840, até serem completamente exterminados (nações indígenas foram
chacinadas; os murá e os mauê praticamente desapareceram).[1]
Calcula-se que de 30 a 40% de uma população estimada de
100 mil habitantes morreu. Em 1833 o Grão-Pará tinha 119.877 habitantes; 32.751
eram índios e 29.977, negros escravos. A maioria mestiça
("cruzamento" de índios, negros e brancos) chegava a 42 mil. A
minoria totalizava 15 mil brancos, dos quais mais da metade eram portugueses.[1]
Em homenagem ao movimento Cabano foi erguido um
monumento, projetado pelo arquiteto Oscar
Niemeyer, na entrada da cidade de Belém: o Memorial da Cabanagem.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cabanagem
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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