Por Frederico Pernambucano de Mello
“A longevidade
de dezesseis anos do bando de Lampião [1922 - 1938] fez com que fossem surgindo
certas especializações de função no seio do grupo. Assim, nos Anos 1930,
Lampião passa a designar informalmente um cangaceiro particularmente duro para
as funções de carrasco. O homem das execuções frias, muitas vezes levadas a
efeito sobre inocentes, de modo particular delatores. Além da capacidade de
ignorar sentimentos, exigia-se desse homem do serviço sujo - chamemos
assim - o domínio completo da arte de matar, desenvolvida imemorialmente pelas
gerações de cangaceiros que se sucederam no Nordeste, ao longo de séculos, de
modo particular, o domínio das maneiras mais cruéis de dar morte por emprego de
arma branca, à frente os punhais requintados em seus cabos ornamentados de ouro
e prata, com lâminas que chegavam aos 80 cm de comprimento, como os do chefe
supremo e os de seus chefes de subgrupo.
No início da década mencionada, coube ao cangaceiro Santílio Barros, vulgo Gato,
quase puro em sua etnia indígena pancararé, natural de Brejo do Burgo, na orla
do Raso da Catarina, sertões nordeste da Bahia, empalmar a "honra"
discutível. Passando à chefia de subgrupo, o que o levava a se afastar do grupo
central com seus homens, a tarefa vem a recair sobre o cangaceiro Antônio
Inácio da Silva, vulgo Moreno, natural de Brejo Santo, Ceará, nascido em 1910.
Tipo de caboclo, baixo de cerca de 1,60 m, magro. (http://blogdomendesemendes.blogspot.com - Ver a naturalidade correta do cangaceiro Moreno).
Tomando igualmente grupo próprio, em fins de 1936, depois de dar conta do
ofício de carrasco, com distinção e louvor, por alguns anos, Moreno passa a
missão sombria ao cangaceiro Cacheado, que fica a serviço direto de Lampião, no
grupo central, até morte deste, a 28 de julho de 1938.
Como chefe de subgrupo, Moreno destacou-se na crônica do cangaço como um dos
mais valentes cangaceiros do bando em qualquer tempo. E como um dos mais
perversos e brutais, igualmente. Morto Lampião, Moreno manteve-se "no
pasto" por mais dois anos, com sua mulher, Durvalina Gomes de Sá, a
Durvinha, assaltando sobretudo ao sul dos sertões do Moxotó, derredor do
município pernambucano de Tacaratu, à frente de doze homens. Nessa fase, passou
a usar o vulgo de Morenaje, em alguns bilhetes de cobrança grafando Sebastião
Morenaje.
No início de fevereiro de 1940, em companhia de Durvinha, deixa os sertões do Nordeste, migrando para Minas Gerais, onde organizou a família e teve três filhos. Morreu com 101 anos de idade, feliz da vida, o que deixa muita gente intrigada quanto ao alcance da justiça divina...”
Por Frederico Pernambucano de Mello
(Historiador, pesquisador do cangaço, autor de Guerreiros do Sol
Fonte: DIÁRIO DE PERNAMBUCO -13/07/2015
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