Por Sálvio Siqueira
Em setembro de
1926, Lampião faz uma ‘visita relâmpago’ ao Estado baiano. Como se trata de uma
visita ‘dele’, logicamente já havia ao que parece ser uma olhada em ampliar
suas fronteiras de ação, na mente, logicamente, ou algo para que, se por
ventura ocorre-se uma necessidade, seria um lugar de ‘escape’. Claro que,
acreditamos, o “cego” nunca imaginaria ter que voltar escorraçado dos Estados
da margem esquerda do rio São Francisco para tal recanto nordestino. No
entanto, em agosto de 1928, obrigatoriamente, transpõe as águas do “Velho
Chico” de uma vez por todas, indo estabelecer as raízes do seu ‘reinado de
sangue’ nas terras que outrora visitara.
Naquelas
terras, sem ser incomodado por ninguém, por nenhuma autoridade, esconde-se sob
a proteção do coronel Petronilo de Alcântara Reis, em uma de suas fazendas
denominada ‘Gangorra’. Como nas localidades em que agiu anteriormente, desde o
princípio da sua saga, Lampião, sabiamente, começa a procurar, e encontra,
proteção da alta sociedade econômica e política na nova região.
Corisco, que
desde sua saída do bando em terras do Pajeú das Flores em 1926, região do
sertão pernambucano, já se encontrava agindo entre os Estados de Alagoas,
Sergipe e Bahia, sabedor da nova ‘morada’ de seu antigo chefe, resolve
aproximar-se e solicita fazer parte do bando novamente. A estada primeira de
Corisco, época em que recebe essa alcunha, no bando de Lampião é curta. Seu
chefe direto, na ocasião, foi o cangaceiro ‘Jararaca’. Aceito, intercede para
que seu parente, o cangaceiro “Arvoredo”, também entre na parada. O que,
logicamente, acontece. A partir daí, começa-se a formar, mais uma vez, um novo
bando de terríveis cangaceiros que iriam assolar povoados, vilas e cidades da
Bahia, Sergipe e Alagoas.
Lampião quando
transpôs as águas do rio São Francisco, sua caterva estava reduzida a cinco
homens que eram: Ponto Fino, Moderno, Luiz Pedro, Mariano e Mergulhão. Desde a
fracassada tentativa de saque a cidade de Mossoró, RN, quando o bando teve uma
das maiores elasticidades em se tratando de contingente, por volta de mais de
cem homens, que fazendo um caminho diferente do da ida, na volta para o Estado
de Pernambuco, os ‘cabras’ foram sendo mortos, alguns presos e outros
desertaram.
Algum tempo
depois do reencontro entre Corisco e Lampião, já em dezembro de 1928, estando
tendo ficado na surdina nesse tempo, Lampião resolve voltar a ação. Não sabemos
citar se um encontro do bando com alguns Praças da PM baiana fora programado ou
se fora mero acaso, mas, sabemos que desses militares o chefe cangaceiros
consegue mais de quinhentas balas de fuzil. O encontro deu-se próximo a um
aglomerado de casas chamado Canché. A imprensa fora contatada e o caso
publicado como sendo uma ação dos cangaceiros, porém, não há divulgação de
contratempo, luta, briga nem mortes, só a notícia da perda da munição da
volante que fazia parte do destacamento comandado pelo tenente Abdias.
É fato que
ganhando um soldo miserável, o mínimo do mínimo, e passando vários meses sem
recebê-lo, alguns soldados das Forças Públicas dos Estados que deram combate ao
banditismo, vendiam parte da sua munição aos cangaceiros para conseguirem
manter suas famílias. Depois, davam alguns disparos e, incluíam na conta
destes, somavam, a munição vendida em seus relatórios.
Pois bem,
pegando essa munição, seguem para o mato sem deixar pistas. Mais tarde aparecem
numa comunidade chamada “Vila do Cumbe”, hoje, cidade de Euclides da Cunha, BA,
e usando de uma nova tática, Lampião ‘discursa’ para os presentes referindo
estar naquele Estado em missão de paz. Que estando ele impossibilitado de
trabalhar, estava a viver com a ajuda das pessoas de bem que quisessem
ajuda-lo.
“(...) “Os
cangaceiros chegaram aqui já pelo fim da manhã e pouco (se) demoraram. Lampião
manteve entendimento com o chefe político da cidade, Coronel José Abreu (Dedé),
e fez umas poucas exigências aos homens importantes daqui, alegando estar sem
dinheiro e ter compromissos a saldar, além de ter que alimentar seus homens.
Por isso, vários comerciantes se cotizaram e entregaram-lhe o dinheiro apurado.
Os ‘cabras’ compraram nas bodegas, beberam, pagaram as despesas, não provocaram
qualquer alteração e ganharam o mundo depois.” (João Siqueira dos Santos,
entrevista))” (“CORISCO – A SOMBRA DE LAMPIÃO” – DANTAS – Sérgio Augusto de S..
1ª Edição, 2015)
Assim, Lampião
vai conquistando a confiança dos baianos. A notícia daquela visita a Vila de
Cumbe espalha-se rapidamente. Há alguns quilômetros de distância de Cumbe,
ficava a cidade de Tucano. Nessa, a visita é anunciada antecipadamente. A população
fica em pavorosa. Não com medo ou receio, mas, com curiosidade para conhecerem
o “Rei do Cangaço”. É designado um automóvel, o transporte do vigário local,
Padre José Eutímio, para irem buscar os cangaceiros e seu chefe. De automóvel,
Lampião chega à pequena cidade, desce em pose, em frente à praça central.
A maior parte da população se aglomera para verem de perto Lampião e seus cangaceiros. São convidados para comerem, e é o que fazem. Já na hora da ceia, quando o manto escuro da noite começa a encobrir a vasta região, todos estão a se alimentarem, quando Corisco começa a improvisar versos, nesses referindo o que tinha feito nas quebradas do sertão dos três Estados que margeiam o ‘Velho Chico’, do lado direito Sergipe e Bahia e do lado esquerdo as Alagoas, quando da sua solitária saga. Nos contos contados pelos improvisos, narrado e cantado pelo alagoano, deixam o “rei vesgo” admirado, que chega a comentar:
“Este Corisco
é uma peste! Vai em qualquer tempo; seja no inverno ou nas trovoadas!” (O
Serrinhense, dezembro de 1928)
Após comerem,
vão proseando e se divertindo com os versos de Corisco. Nisso chega o
farmacêutico local e, encarecidamente, solicita uma entrevista com Virgolino,
no que é atendido. Vão para a casa do solicitante para fazerem a entrevista.
“(...) O
próprio Andrade anotaria depois:
“Por essa
época, Tucano vivia às escuras. Lampião chamou ‘Corisco’ e acompanhou-me, sem
nenhum receio e sem outras precauções, naturalmente porque percebeu quem era
eu; viu que a minha casa ficava no centro da Matriz, não sendo, portanto, em
local isolado, onde pudesse ser vítima de uma emboscada”.)” (Ob. Ct.)
No dia
seguinte, a horda segue para outra cidade. Já era 17 de dezembro de 1928 quando
ela chega para visitarem a “Vila de Ribeira do Pombal”. A tática, ou a nova
tática, procede do mesmo modo como aconteceu nas outras povoações ‘visitadas’
pelos cangaceiros. Tudo calmo, sem provocações nem agressões de maneira alguma.
Nessa cidade, ou vila, Lampião se deixa fotografar. O fotógrafo, amador, é um
alfaiate, “Alcides Fraga”. O alfaiate faz várias cópias da captura e vende-as
para pessoas da localidade e de outras regiões.
“(...) Várias
cópias são feitas e vendidas nos dias seguintes pelo alfaiate e fotógrafo
amador Alcides Fraga (...).” (Ob. Ct.)
Lampião faz uma
solicitação às autoridades da cidade, referindo querer ser ‘escoltado’ pela
Força local. O comandante do destacamento local, cabo Esmeraldo, escolta o
bando até a próxima cidade ‘visitada’, na época, Bom conselho, hoje Cícero
Dantas. Nesta, demoram-se pouco, só o tempo de fazerem algumas compras e
danam-se dentro do mato. Sumindo novamente por vários dias.
Fonte “CORISCO
– A SOMBRA DE LAMPIÃO” – DANTAS – Sérgio Augusto de S.. 1ª Edição, 2015
Foto Ob Ct.
Benjamin Abrahão
Foto Ob Ct.
Benjamin Abrahão
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