Seguidores

terça-feira, 18 de abril de 2017

O REENCONTRO DE CORISCO E LAMPIÃO

Por Sálvio Siqueira

Em setembro de 1926, Lampião faz uma ‘visita relâmpago’ ao Estado baiano. Como se trata de uma visita ‘dele’, logicamente já havia ao que parece ser uma olhada em ampliar suas fronteiras de ação, na mente, logicamente, ou algo para que, se por ventura ocorre-se uma necessidade, seria um lugar de ‘escape’. Claro que, acreditamos, o “cego” nunca imaginaria ter que voltar escorraçado dos Estados da margem esquerda do rio São Francisco para tal recanto nordestino. No entanto, em agosto de 1928, obrigatoriamente, transpõe as águas do “Velho Chico” de uma vez por todas, indo estabelecer as raízes do seu ‘reinado de sangue’ nas terras que outrora visitara.

Naquelas terras, sem ser incomodado por ninguém, por nenhuma autoridade, esconde-se sob a proteção do coronel Petronilo de Alcântara Reis, em uma de suas fazendas denominada ‘Gangorra’. Como nas localidades em que agiu anteriormente, desde o princípio da sua saga, Lampião, sabiamente, começa a procurar, e encontra, proteção da alta sociedade econômica e política na nova região.


Corisco, que desde sua saída do bando em terras do Pajeú das Flores em 1926, região do sertão pernambucano, já se encontrava agindo entre os Estados de Alagoas, Sergipe e Bahia, sabedor da nova ‘morada’ de seu antigo chefe, resolve aproximar-se e solicita fazer parte do bando novamente. A estada primeira de Corisco, época em que recebe essa alcunha, no bando de Lampião é curta. Seu chefe direto, na ocasião, foi o cangaceiro ‘Jararaca’. Aceito, intercede para que seu parente, o cangaceiro “Arvoredo”, também entre na parada. O que, logicamente, acontece. A partir daí, começa-se a formar, mais uma vez, um novo bando de terríveis cangaceiros que iriam assolar povoados, vilas e cidades da Bahia, Sergipe e Alagoas.


Lampião quando transpôs as águas do rio São Francisco, sua caterva estava reduzida a cinco homens que eram: Ponto Fino, Moderno, Luiz Pedro, Mariano e Mergulhão. Desde a fracassada tentativa de saque a cidade de Mossoró, RN, quando o bando teve uma das maiores elasticidades em se tratando de contingente, por volta de mais de cem homens, que fazendo um caminho diferente do da ida, na volta para o Estado de Pernambuco, os ‘cabras’ foram sendo mortos, alguns presos e outros desertaram.

Algum tempo depois do reencontro entre Corisco e Lampião, já em dezembro de 1928, estando tendo ficado na surdina nesse tempo, Lampião resolve voltar a ação. Não sabemos citar se um encontro do bando com alguns Praças da PM baiana fora programado ou se fora mero acaso, mas, sabemos que desses militares o chefe cangaceiros consegue mais de quinhentas balas de fuzil. O encontro deu-se próximo a um aglomerado de casas chamado Canché. A imprensa fora contatada e o caso publicado como sendo uma ação dos cangaceiros, porém, não há divulgação de contratempo, luta, briga nem mortes, só a notícia da perda da munição da volante que fazia parte do destacamento comandado pelo tenente Abdias.

É fato que ganhando um soldo miserável, o mínimo do mínimo, e passando vários meses sem recebê-lo, alguns soldados das Forças Públicas dos Estados que deram combate ao banditismo, vendiam parte da sua munição aos cangaceiros para conseguirem manter suas famílias. Depois, davam alguns disparos e, incluíam na conta destes, somavam, a munição vendida em seus relatórios.

Pois bem, pegando essa munição, seguem para o mato sem deixar pistas. Mais tarde aparecem numa comunidade chamada “Vila do Cumbe”, hoje, cidade de Euclides da Cunha, BA, e usando de uma nova tática, Lampião ‘discursa’ para os presentes referindo estar naquele Estado em missão de paz. Que estando ele impossibilitado de trabalhar, estava a viver com a ajuda das pessoas de bem que quisessem ajuda-lo.
“(...) “Os cangaceiros chegaram aqui já pelo fim da manhã e pouco (se) demoraram. Lampião manteve entendimento com o chefe político da cidade, Coronel José Abreu (Dedé), e fez umas poucas exigências aos homens importantes daqui, alegando estar sem dinheiro e ter compromissos a saldar, além de ter que alimentar seus homens. Por isso, vários comerciantes se cotizaram e entregaram-lhe o dinheiro apurado. Os ‘cabras’ compraram nas bodegas, beberam, pagaram as despesas, não provocaram qualquer alteração e ganharam o mundo depois.” (João Siqueira dos Santos, entrevista))” (“CORISCO – A SOMBRA DE LAMPIÃO” – DANTAS – Sérgio Augusto de S.. 1ª Edição, 2015)


Assim, Lampião vai conquistando a confiança dos baianos. A notícia daquela visita a Vila de Cumbe espalha-se rapidamente. Há alguns quilômetros de distância de Cumbe, ficava a cidade de Tucano. Nessa, a visita é anunciada antecipadamente. A população fica em pavorosa. Não com medo ou receio, mas, com curiosidade para conhecerem o “Rei do Cangaço”. É designado um automóvel, o transporte do vigário local, Padre José Eutímio, para irem buscar os cangaceiros e seu chefe. De automóvel, Lampião chega à pequena cidade, desce em pose, em frente à praça central.

A maior parte da população se aglomera para verem de perto Lampião e seus cangaceiros. São convidados para comerem, e é o que fazem. Já na hora da ceia, quando o manto escuro da noite começa a encobrir a vasta região, todos estão a se alimentarem, quando Corisco começa a improvisar versos, nesses referindo o que tinha feito nas quebradas do sertão dos três Estados que margeiam o ‘Velho Chico’, do lado direito Sergipe e Bahia e do lado esquerdo as Alagoas, quando da sua solitária saga. Nos contos contados pelos improvisos, narrado e cantado pelo alagoano, deixam o “rei vesgo” admirado, que chega a comentar:

“Este Corisco é uma peste! Vai em qualquer tempo; seja no inverno ou nas trovoadas!” (O Serrinhense, dezembro de 1928)

Após comerem, vão proseando e se divertindo com os versos de Corisco. Nisso chega o farmacêutico local e, encarecidamente, solicita uma entrevista com Virgolino, no que é atendido. Vão para a casa do solicitante para fazerem a entrevista.

“(...) O próprio Andrade anotaria depois:

“Por essa época, Tucano vivia às escuras. Lampião chamou ‘Corisco’ e acompanhou-me, sem nenhum receio e sem outras precauções, naturalmente porque percebeu quem era eu; viu que a minha casa ficava no centro da Matriz, não sendo, portanto, em local isolado, onde pudesse ser vítima de uma emboscada”.)” (Ob. Ct.)

No dia seguinte, a horda segue para outra cidade. Já era 17 de dezembro de 1928 quando ela chega para visitarem a “Vila de Ribeira do Pombal”. A tática, ou a nova tática, procede do mesmo modo como aconteceu nas outras povoações ‘visitadas’ pelos cangaceiros. Tudo calmo, sem provocações nem agressões de maneira alguma. Nessa cidade, ou vila, Lampião se deixa fotografar. O fotógrafo, amador, é um alfaiate, “Alcides Fraga”. O alfaiate faz várias cópias da captura e vende-as para pessoas da localidade e de outras regiões.

“(...) Várias cópias são feitas e vendidas nos dias seguintes pelo alfaiate e fotógrafo amador Alcides Fraga (...).” (Ob. Ct.)

Lampião faz uma solicitação às autoridades da cidade, referindo querer ser ‘escoltado’ pela Força local. O comandante do destacamento local, cabo Esmeraldo, escolta o bando até a próxima cidade ‘visitada’, na época, Bom conselho, hoje Cícero Dantas. Nesta, demoram-se pouco, só o tempo de fazerem algumas compras e danam-se dentro do mato. Sumindo novamente por vários dias.

Fonte “CORISCO – A SOMBRA DE LAMPIÃO” – DANTAS – Sérgio Augusto de S.. 1ª Edição, 2015
Foto Ob Ct.
Benjamin Abrahão

https://www.facebook.com/groups/545584095605711/permalink/815334018630716/

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário