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sábado, 12 de agosto de 2017

"ZACIMBA GABA, A PRINCESA GUERREIRA'.

Por: Paiva Neves

"Zacimba Gaba, a princesa guerreira' é o novo cordel do poeta Evaristo Geraldo, com capa de Francisco Lisboa, publicado pela Cordelaria Flor da Serra. O lançamento está previsto para ocorrer na II Feira do Cordel que acontecerá de 17 a 20 de agosto na Caixa Cultural, em Fortaleza.

A lei 10.639 de 2003 obriga a que o currículo contemple a história e a cultura das africanidades e dos povos indígenas. nesse sentido, o cordel de Evaristo chega em um bom momento, pois resgata uma história esquecida, ou melhor, que nunca foi contada.

A história brasileira, nos últimos cinco séculos, tem sido a história dos conquistadores brancos europeus e seus descendentes de classe. Tem sido a história onde os heróis são Condes, Duques e Barões brancos e onde a mulher, quando aparece é no papel de subalternidade.

Por essa história, a libertação dos escravos não veio pela luta dos negros e setores abolicionistas urbanos, mas pela ação bondosa de uma princesa branca, que pela ausência do Príncipe regente, é influenciada por terceiros a assinar a Lei Áurea.

Essa história, durante séculos, escondeu a resistência das populações negras, como as fugas em massa das fazendas, a auto defesa armada, a construção de verdadeiros aparatos de defesa e ataque militar, com tática de guerrilha nos quilombos e de comunidades alternativas onde conviviam harmoniosamente negros, índios e a participação das mulheres nessas lutas, como lideres guerreiras.

Zacimba Gaba foi uma dessas heroínas. Originária de uma etnia angolana, Zacimba era uma princesa que foi capturada na sua terra de origem e trazida para o Brasil, em um navio negreiro, como escrava. Foi desembarcada no Porto do Espírito Santo e vendida para um fazendeiro do interior. Nessa fazenda, articulou-se com outras pessoas do seu povo, organizaram uma revolta, fugiram e construíram um quilombo. Zacimba, por ser uma excelente estrategista militar, destacou-se e se tornou líder máxima dessa luta. Ela e seus guerreiros, em canoas silenciosas e velozes, à noite, atacavam os navios negreiros e libertavam os negros aprisionados. Durante quase dez anos Zacimba reinou e tornou-se famosa na luta contra a escravidão. 

Agora leia alguns versos do folheto de cordel de Evaristo Geraldo e, para ler a obra completa compre diretamente com o autor ou faça seu pedido pelo E-mail cordelariaflordaserra@gmail.com ou pelo WhatsApp (085) 9.99569091. Enviamos pelo Correio.



Paiva Neves

Zacimba Gaba fugiu
Com seus irmãos angolanos.
Ela se embrenhou nas matas
Sem temer riscos ou danos
E em um longínquo local
Fundaram um arraial,
Distante dos vis tiranos.

Para os lados de Itaúnas
Ficava o acampamento,
Próximo ao Riacho Doce
Lugar farto em alimento.
Lá a Princesa guerreira
Fez da luta sua “bandeira”,
Deu aos negros livramento.

Um Quilombo organizado
Formou-se à margem do rio.
Quem chegava lá vivia
Só da pesca e do plantio.
Ali reinava igualdade,
Mas, manter a liberdade
Era um grande desafio.

A princesa em seu Quilombo
Com amor sempre acolhia
Todo nativo africano
Que por lá aparecia.
Os escravos foragidos
Eram por ela acolhidos
Sempre com grande alegria.

Zacimba Gaba era ousada,
Mulher de arrojados planos.
Ela passou a atacar 
Os traficantes tiranos.
Junto a seus bravos guerreiros
Atacavam os veleiros
Que transportavam angolanos.

Esses navios negreiros
Transportavam nos porões
Pessoas escravizadas
Vindas de várias nações.
Trazidas acorrentadas,
Feito feras enjauladas,
Sofrendo mil privações.

Muitos cativos morriam
Durante a transposição
De fome, sede, maus tratos,
Diarreia, inanição.
Quem morria era jogado
No mar pra ser devorado
Por peixes ou tubarão.

Zacimba Gaba formou
Um grupo de combatentes.
Homens fortes, valorosos,
Guerreiros experientes.
Ela à frente dos guerreiros
Invadiam os tais veleiros
Pra salvar seus descendentes.

Quando os navios negreiros
Ancoravam próxima a foz
Do extenso Cricaré,
Rio imponente e veloz,
Então a bela princesa
Atacava de surpresa 
O barco de forma atroz.

Sempre abordo de canoas
Feitas de toscos madeiros,
O grupo rompia as ondas,
Os sucessivos banzeiros
E ao entrar na embarcação
Libertavam da prisão
Irmãos negros prisioneiros.

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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