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terça-feira, 18 de setembro de 2018

NÃO SOU PSIQUIATRA, SUA LOUCA!

*Rangel Alves da Costa

Às vezes eu chego a pensar que para a devida correção de muitas de suas atitudes insanas e destrambelhadas, bastaria uma boas palmadas, palavras duras e sem fugir de nada, ou mesmo o distanciamento imediato. Mas sei que não adiantaria.
E não adiantaria por que seu caso parece clínico mesmo. É coisa de internamento em hospício, com camisa de força, ante o grande perigo que representa. Ora, só pode ter alcançado o mais alto grau de loucura.
Mesmo que não queira demonstrar a todos - pois somente a mim seus rompantes são acionados -, a verdade é que os seus problemas mentais são mais que evidentes. Distúrbios, insanidades, doidices, loucuras, desajuizamentos, seja lá o que for, mas alguma coisa de errado há com você.
E de muito errado. Se no passado já era evidente e comprovada sua instabilidade, com instantânea modificação na personalidade, com repentinas mudanças no humor e desajustes comportamentais deploráveis, o que se tem agora vai muito além do mau-humor, da duplicidade de caráter e da incógnita em que sempre se oculta.
Eu até acostumei com seus disparates e inconsequências. Eu até relevei seus achaques, suas frescuras, suas ranzinzas. Eu até pouca importância dei à sua língua ferina, aos seus ódios imotivados, aos seus desejos mais bizarros e às suas atitudes inexplicáveis. Assim fiz na esperança de algum dia você reencontrar o equilíbrio.
Mas não houve jeito. Se já não havia equilíbrio, o desequilíbrio se fez tamanho que até se tornou difícil demais o convívio. Eu, mesmo estando sempre ao lado, passei a ser visto como inimigo, como algo odioso, como um estorvo. E tome pancada.


Erros? Ora, os erros eram repassados inteiramente para mim. Por mais que ela errasse, que fizesse o impensável a uma mulher que se dizia com dignidade, ao invés de reconhecer-se no erro, logo cuidou de lançar os lamaçais sobre quem não tinha nada a ver com suas indignidades.
Eu dizia que não ficava bem a uma mulher agir assim. Eu dizia que pessoas comentavam sobre suas atitudes e que tais comentários eram os mais deploráveis possíveis. Eu dizia que não fizesse assim, eu dizia que precisava ouvir de sua boca alguma resposta sobre aquelas insinuações desonrosas. Mas ela sempre calou. E o pior, aumentava o seu ódio.
Nada do que eu dissesse ela parecia ouvir. Nada do que eu pedia para não fazer ela respeitava. Quanto mais eu insistisse em querer o seu bem, mais ela fazia de conta que eu nem existia e continuava fazendo tudo errado.
Passou a gritar comigo e exigir que eu ficasse calado. Tudo o que eu dissesse ela gritava mais e dizia que não falasse alto com ela. Quer dizer, somente ela podia gritar, somente ela podia esculhambar, somente ela podia fazer o que bem entendesse. Um tipo de pessoa que se vale do silêncio do outro para justificar os seus erros.
Outra prática constante é o da vitimização. Como dito, jamais reconheceu um só erro, jamais respondeu uma pergunta feita, jamais teve coragem de enfrentar a verdade. Sonsa feito cobra, ardilosa feito cascavel, sempre buscava uma saída para se vitimizar. Para o mundo uma perdida, mas para ela a mais inocente do mundo, mesmo sabendo que estava errada.
Uma pessoa assim não pode ser normal de jeito nenhum. Louca, demente, insana, maluca, merecedora de camisa de força e de hospício. Dona de mil impurezas, com moral na lama, ainda assim se passando por santa. E ainda se achando a linda, a gostosa, a poderosa. E errando, errando e errando mais.
Ainda bem que nada disso aconteceu comigo. Tais relatos foram encontrados na lata de lixo na porta de uma clínica de psicólogo. Alguém certamente procurou o profissional em busca de ajuda. E antes que ficasse mais louco que aquela descrita na sua consulta.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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