Por Junior
Almeida
Além da enorme
bagagem cultural e aprendizado, um dos momentos mais interessantes e
gratificantes dos encontros do Cariri Cangaço, é a interação entre seus
participantes, quem vêm de vários lugares do Brasil. Durante as palestras e
visitas técnicas, alguns momentos de descontração, assim como nos deslocamentos
e nas folgas das atividades são imprescindíveis na relação das pessoas.
São contados
causos e anedotas, trocadas experiências entre pesquisadores e, sempre sai
alguma conversa sobre fatos de temática nordestina de oitenta, noventa, cem
anos atrás, e até datas mais antigas, curiosamente como se fossem relatos de
passagens da semana anterior ou do mês passado. Acho fantástico esse tipo de
coisa.
Por exemplo,
no terceiro dia do encontro de São José do Belmonte, Pernambuco, quando nos
dirigíamos de ônibus à Casa da Pedra, local onde em 1924 Lampião se escondeu
para tratar de um grave ferimento no pé, e à Pedra do Reino, lugar de um
funesto movimento “Sebastianista” em 1838, na área da Serra do Catolé, conversa
vai, conversa vem, resenha pra lá, resenha pra cá, o “paraibano” de Mossoró, ou
“norte rio grandense” de Nova Floresta, o confrade Kydelmir Dantas, se saiu com
essa:
Segundo
“Kydel”, o centenário avô de um amigo, residente em Mossoró precisaria saber de
uma má notícia, e ele foi o encarregado da ingrata tarefa. É que um dos seus
tios, Zequinha, beirando os oitenta anos tinha falecido, e por ser ele o xodó
do velho foi escolhido pelos demais parentes para dar tal notícia. O amigo de
Kydelmir resolveu então dizer da morte à prestação. Primeiro disse ao avô que o
tio tinha adoecido e que tinha precisado ficar internado em um hospital. O
velho até que aceitou bem. – Bom. – Pensou ele.
Na manhã do
outro dia, já depois do velório e o enterro, o patriarca ficou sabendo pelo
neto que o estado de saúde do seu filho tinha se agravado. O cabra até se
surpreendeu com a tranqüilidade do avô, então resolveu “abrir todo o jogo”,
mas, preocupado, ainda pensando no abalo que a notícia poderia causar ao avô,
deixou para o final da tarde.
Já perto de
ouvir a difusora da igreja tocar a Ave Maria, o neto disse ao seu avô de 106
anos que o tio Zequinha, de 78, havia falecido, e por recomendação do médico
que tinha o atendido, já tinham inclusive o enterrado. “Soltou a bomba” para o
velho e ficou apreensivo, esperando ele passar mal, uma crise de choro ou algo
nesse sentido. Nada.
Pensativo, com a mão no queixo e o olhar distante, o velho
disparou:
Zequinha
sempre teve a saúde delicada. Bem que sua avó dizia que era bem capaz desse menino não se criar...
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