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domingo, 6 de outubro de 2019

OS DESEJOS INSATISFEITOS EM VIRGULINO FERREIRA DA SILVA, VULGO LAMPIÃO.

Por Verluce Ferraz

As exigências da vida levam algumas reservas energéticas e não sucumbem totalmente ao princípio da inércia. A mente é obrigada a transformar as atividades de tais energias para obter satisfações, nem sempre adequadas a obtenção dessas, podendo assim, serem conduzidas às alucinações para obter suas satisfações. E a alucinação é considerada, segundo os melhores estudiosos do assunto, o caminho mais curto para a realização do desejo, sendo considerado esse uma atividade primária. 


Na vida de Virgulino, o emprego da força psíquica estava de acordo com a exigência de sua vida. Era imperativo de seu pensamento tecer um mundo interior e realizar o seu percurso no mundo exterior. Cabe aqui clarear essas funções, substituir o desejo alucinatório interior e obter o resultado que apresentasse relação à monção (1) do seu desejo: vingança. Mas, vingar o que? O que desejava vingar Virgulino? De onde vinham essas atividades alucinatórias para o matador vingador? Ao buscar repetir a percepção ligada à vivência de satisfação, o aparelho psíquico produz o fenômeno da alucinação indicando a tendência do aparelho à repetição dos estados de desejo. Virgulino não suportava o aumento de suas tensões, daí entrar em cena o deslocamento da quantidade de energia para entrar em ação o seu ‘estatuto’: o prazer de matar e ver sangue. Mas ainda não respondemos de onde provinha tal desejo. Ao que tudo indica, é a produção da atividade alucinatória como fruto da regressão da excitação, e a porta da entrada foi o registro psíquico da consciência, que possui canal direto com a percepção, denominado consciência-percepção. 


Segundo David-Ménard (2000), o sistema ω (2) registra não quantidades de energia, mas sim diferenças relativas de frequência ou duração, aproxima da noção freudiana de período e daquilo que se denomina sinal da consciência. Lembranças anteriores podem desencadear grande quantidade de energias e o organismo interior que transitam em forma de alucinação; mecanismos das memórias. Lampião sempre afirmou que não gostava de ouvir choro de crianças, associando ao berro de cabritos. Essa informação é recebida como sendo uma recordação gravada na memória dos tempos em que sua avó fazia partos... Virgulino foi incapaz de se livrar daquelas lembranças... Em Virgulino os desejos eram combustível para suas atividades criminosas. 


Isso exigia memória, é claro que também condições deveriam também de estar presente ao mesmo tempo. As condições ele foi buscar na própria exclusão social, ao viver de forma anormal atuando sempre dentro de grupos dominados por ele. Embora não se comprove nenhuma experiência de como ele compartilhava suas exigências no tocante a sua ‘double conscience’; sabe-se que supria suas necessidades biofisiológicas capacitando-se no modo de atacar, feito lobos que vivem isolados dentro da caatinga, suportando a própria natureza; usava da força para saciar seus desejos de possuir vantagens, que, alguns, tomam por inteligência e, mora aí, a falta de uma análise mais profunda que há de mostrar alguns exageros. Virgulino não possuía as características da inteligência emocional, não tinha capacidade de controlar impulsos, canalizar emoções para situações adequadas, praticar gratidão e motivar as pessoas para o bem, além de outras qualidades que poderiam ajudar a encorajar indivíduos; não sabia seguir em frente diante de suas frustrações e desilusões. E, assim, durante a vida, Virgulino transitou em ‘atitudes passionnelles’ (fase alucionatória) que acabou no dia 28 de julho de 1938. E com ele, os seus seguidores.


(1) Monção (do árabe: موسم [mausim], estação) é a designação dada aos ventos sazonais, em geral associados à alternância entre a estação das chuvas e a estação seca, que ocorrem em grandes áreas das regiões costeiras tropicais e subtropicais. A palavra tem a sua origem na monção do oceano Índico e sudeste da Ásia, onde o fenómeno é particularmente intenso. A palavra aqui citada no texto é para aproximar o estado psíquico em que transitava o pensamento do cangaceiro que volitava e estaria governado por monção. Em Virgulino os desejos eram combustíveis para suas atividades criminosas. Isso exigia memória,

(1) ω O que é Ômega:

O termo ômega possui o significado de “fim” quando utilizado associado à primeira letra do alfabeto grego “alfa”, por exemplo, na expressão “alfa e ômega”, que representa “princípio e fim”. Na Física, a representação gráfica da letra maiúscula Ω e da letra minúscula ω é utilizada em diferentes contextos.


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