Por Ricardo Beliel
Corisco era pássaro livre. Não tinha nascido para viver na gaiola. Via com
desconfiança a oferta de anistia aos cangaceiros desertores, anunciada pelo
bonachão Vargas lá do distante Rio de Janeiro. Na companhia de Dadá e seu grupo
de cerca de dez bandoleiros seguiu se acoitando por meses nas caatingas
inóspitas do interior baiano. Em um tiroteio na Lagoa do Mel o Diabo Louro teve
os dois braços destroçados por balaços, perdendo-os para a serventia na luta, e
só conseguiu sobreviver com o apoio de Dadá, que apanhou seu fuzil e lhe deu
cobertura atirando contra os macacos. Quando acabaram as balas atacou-os com
pedras e fúria.
Certa vez, Dadá preocupada com as "persigas" constantes, as duras condições de sobrevivência no isolamento do sertão e a redução do bando perguntou a Corisco se ele andava pensando em se entregar. O destemido guerrilheiro matutou, demorou a responder e quando tentou justificar a demora no aparte, Dadá, revoltada, fuzilou o marido: "então, tome aqui minha roupa e me dê a sua, que isso não é proceder de homem!"
Foto de Benjamin Abrahão, feita em 1936 em Alagoas. Notem que Dadá estava grávida.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário