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quinta-feira, 16 de abril de 2020

CABACEIRAS NA ÉPOCA DO CANGAÇO - ENTRE PAIXÃO E ÓDIO



Borborema e Águida baseado nas histórias contadas por Apolônia Barros. Acontecida nos anos 1912.

Certo dia do ano 1912, o fazendeiro Severino de Barros Leira se preparava para uma festa no Paço Municipal de Cabaceiras. Logo mandou que dois dos seus vaqueiros arriassem alguns cavalos. Visto que algumas pessoas da família queriam ir à festa.

Uma jovem chamada Maria Águida, também estava na fazenda. Sendo ela sobrinha do dito fazendeiro e filha do Coronel Zé de Barros. A moça tinha ido passar uns dias na fazenda. Lá também se encontrava um primo da jovem. E os dois namoravam escondidos de seus pais. O jovem se chamava Borborema Barros. Que também visitava a fazenda do tio quando sabia que a sua namorada estava lá.

Nesse dia da festa, antes do pôr do sol, o fazendeiro Severino de Barros Leira saiu em seu cavalo acompanhado de algumas pessoas da sua família. Caminharam quilômetros pelos caminhos pedregosos da fazenda Corredor com destino a vila Cabaceiras. Onde lá no Paço Municipal aconteceria um baile dançante.

Na fazenda só havia ficado algumas pessoas que trabalhavam na lida do gado. Borborema Barros não se encontrava mais na Fazenda Corredor. Havia retornado para sua casa na fazenda Salambaia. Mas assim que soube que sua namorada Maria Águida tinha ido também para a festa na vila, não teve demora. Prontamente tratou de arriar seu cavalo e saiu a galope. Chegando à vila quase ao anoitecer. Vestido na mais alta elegância e acompanhado de mais dois rapazes.


O sol já havia se posto quando começou o baile no paço municipal da vila. E lá dentro a filha do Coronel Zé de Barros dançava aos cuidados de sua mãe. Que também estava acompanhada de outras damas. Enquanto Águida dançava no salão.

Mas em dado momento a jovem avistou Borborema Barros que entrava no Paço Municipal. No mesmo instante Águida interrompeu sua dança. E na ocasião aproximou-se do seu primo e chamou-o para dançar. Os dois saíram dançando no salão. Ela orgulhava-se ao dançar com o cavalheiro. E por alguns minutos encostava sua cabeça no ombro dele. Mas depois de alguns movimentos dançantes, os dois rapidamente saíram sem serem percebidos.

Do lado de fora do Paço Municipal de Cabaceiras, no clarear das luzes dos lampiões, o Coronel Zé de Barros conversava com pessoas amigas e influentes na política local. Nem sabia o que estava se passando naquela hora com a sua filha. Enquanto isso, sua esposa procurava a filha Águida pensativamente. Sem chamar atenção das outras pessoas.

Alguns minutos depois ficaram sabendo que Águida tinha fugido com o primo. Já era noite desse dia. Os dois se esconderam na casa de Jovino Modesto Cavalcante de Albuquerque, que morava por trás da igreja matriz. (Segundo dados em arquivo municipal, Jovino era cabaceirense, 2º Tenente do 13º Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional da Comarca de Campina Grande, Estado da Paraíba). (* 1861 +1936).

Conta-se que nessa época, Águida tinha apenas dezesseis anos de idade. Havia poucas tentativas de namoro com o seu primo legitimo Borborema Barros, de vinte anos de idade. Ela Já falava em casamento. Pois era uma moça bonita, feliz e graciosa. E logo depois que os dois se ausentaram do Paço Municipal, uma mulher chamada Maria de Jesus tinha ido chamar o coronel Zé de Barros. Assustada falava: __ Coronel! Coronel Zé de Barros! Estão lhe chamando na casa do Tenente Jovino Albuquerque.

O Coronel Zé de Barros era homem de feição dura e ignorante ao extremo. Só falava com tom de brutalidade. E vendo o desespero da mulher que estava preocupada lhe chamando, queria que ela lhe contasse de imediato o que diabo estava acontecendo. A pobre mulher sem querer dizer o nome da moça, pausadamente, com a voz calma e tremula falava ao coronel que o seu sobrinho Borborema Barros tinha carregado uma moça.

Somente na frente da casa de Jovino Albuquerque, Tenente do Batalhão da Guarda Nacional, foi que o fazendeiro Severino de Barros Leira contou ao Coronel Zé de Barros que a tal moça que seu sobrinho havia escondido era sua filha Águida. E o coronel não teve demora. No mesmo instante sombreou o olhar descendo as sobrancelhas e sentiu que o problema era mais grave do que ele pensava. Sacou logo de uma arma na cintura, alongou seu olhar no sentido da porta da casa de Jovino Albuquerque e disparou três tiros. O coronel partiu bravo e furioso querendo matar o casal de namorados. As pessoas tentavam acalmá-lo para que ele não entrasse na casa.

Enquanto isso, na escuridão da noite. O negro chamado Damião Santos ajudou os namorados a fugirem pelos fundos da casa. Na madrugada do dia seguinte os namorados fujões chegaram à fazenda Corredor.

Assim que o sol da manhã raiou na fazenda Corredor os vaqueiros levaram o gado para pastar na serra. E nesse dia quando se aproximaram da furna de Anacleto foram surpreendidos pelos cangaceiros de Antonio Silvino. Os cangaceiros já eram acostumados andar nas caatingas da dita fazenda. Logo os vaqueiros ficaram proseando com os cangaceiros.

Nesse dia do ano 1912, na fazenda Corredor um dos vaqueiros que se chamava Negro Velho cantou alguns versos de aboios para os cangaceiros. Negro Velho era um poeta repentista que cantava seus versos descrevendo o cenário da vegetação. Onde se via os pés de angicos todo desfolhados e sem vidas. A terra estava coberta pelas folhagens secas. Os lajeados ajudavam na decoração do cenário, onde repousavam. Os cangaceiros ouvindo o vaqueiro cantador, também observava a paisagem verde amarelado com alguns pés de juazeiros, mandacarus, xiquexiques e macambiras.

Nesse dia o cangaceiro Antonio Silvino se revestiu de lembranças ao escutar os versos do vaqueiro. O poeta também falava da vida desgraçada que os vaqueiros levavam na lida do campo. Sua pele negra e queimada pelo sol admirava Antonio Silvino que lhe apelidou de: “Sabiá Cantador”.

Nesse dia, depois de uma caminhada rápida de ida e volta até os cangaceiros, Negro Velho quem noticiou ao seu patrão a chegada dos cangaceiros. Onde lá havia contado tudo que estava se passando. Ou seja, um pouco das histórias que lhe contara sobre Borborema Barros e Águida. Os dois namorados fujões, sobrinhos do fazendeiro Severino de Barros Leira.

Conta-se que depois o cangaceiro Antonio Silvino juntou o bando e rumou para a casa grande da fazenda Corredor. O bando fez caminhadas por entre os serrotes e as caatingas. Chegaram silenciosamente ao local desejado. Perto dali surpreenderam seis capangas do Coronel Zé de Barros a procura dos namorados fujões, que já se encontravam escondidos na fazenda. Os capangas foram desarmados e colocados deitados em cima de um carro de bois. Onde ficaram debaixo de uma quixabeira ao lado de um curral. Com os pés e as mãos amarradas. Dizem que um deles havia sofrido várias chicotadas por desagradar Antonio Silvino.

Segundo as histórias contadas, numa manhã quente de verão do ano 1912, que o cangaceiro Antonio Silvino havia chegado à fazenda Corredor. Lá o bando tinha sempre a permissão do fazendeiro para pousar na fazenda. E visto nesse dia o cangaceiro achou de encontrar um grande problema entre a família “Barros Leira”. Conta-se que essa família vez por outra entrava em questões. Até mesmo com os parentes. E o cangaceiro Antonio Silvino havia encontrado um grande problema. O mesmo se sentiu autorizado a resolver essa questão de Borborema Barros e Águida. Dessa vez não foi preciso derramamento de sangue entre as famílias envolvidas.

Sabe-se que o cangaceiro Antonio Silvino não era família da moça e muito menos do rapaz. Mas essa situação ficou agravante demais e sendo amigo do fazendeiro lhe obrigou interferir. Era caso de vida ou morte entre as famílias. E o cangaceiro entrou na questão como amigo da família para apaziguar a situação. Como de fato conseguiu sugerindo a família fazer o casamento dos namorados fujões, ou seja, do rapaz com a moça. Mas foi logo dizendo: _ Se não fossem filhos dos seus amigos, a moça ia levar uma surra. E o rapaz ser feito a capação, ou então a morte do cabra.

O Coronel Zé de Barros era homem muito conhecido no município de Cabaceiras. E por conta dos namorados fujões estava incontrolável. Ignorava qualquer opinião. A sua brutalidade lhe deixava cego de raiva. Nesse dia na fazenda Corredor ele fumava um charuto atrás do outro para se acalmar. Tragava e cuspia todo instante por uma janela da sala que ficava ao lado de um curral. Seu desejo era matar a sua filha e o seu sobrinho pela desonra que eles tinham feitos. Mas o fazendeiro Severino de Barros e o cangaceiro Antonio Silvino lhe acalmou. Depois de muitas pelejas, o coronel foi convencido que era bobagem reagir à situação. O rapaz era seu sobrinho legítimo e a moça sua filha.

Segundo as histórias contadas por Apolônia Barros, na manhã do dia seguinte quando a situação havia se acalmado na fazenda Corredor, logo mandaram buscar o Padre José Cabral para fazer o casamento de Borborema e Águida. Que até então se encontravam escondidos numa furna próxima da casa, vigiada por Justino e Felipe, dois dos vaqueiros da fazenda Corredor, temendo que o Coronel Zé de Barros pudesse matá-los.

No dia seguinte, depois de toda agonia passada na fazenda Corredor, quando as pessoas já haviam se acalmados, uma mulher que se chamava Inácia Barros, tia de Borborema e Águida, foi até ao esconderijo buscar o casal de namorados para casa do tio. Lá eles chegaram feridos pela vegetação. Momentos depois cuidaram em tomar banhos e trocarem as suas vestes. Mas antes de tudo foram submetidos a responderem algumas perguntas. E entre as pessoas a interrogá-las estava o cangaceiro Antonio Silvino, que depois de todas as falações aos namorados, conta-se que havia dito a Borborema Barros que se não fosse pela amizade que ele tinha ao seu tio Severino de Barros Leira, ele estaria morto.

O Padre José Cabral que já se encontrava na fazenda Corredor. E sem muita filosofia religiosa mandava a família apressar o casamento de Borborema Barros com Águida Barros. A pressa do padre era pegar a estrada de volta para a vila de Cabaceiras, antes do anoitecesse. Nesse dia o cangaceiro Antonio Silvino pediu para o padre não se preocupar porque ele mesmo mandava alguns cabras lhe acompanhar até a vila.

Mas o Padre José Cabral que não carecia de companhias. Além das que lhe acompanhava. Sem se contar que já tinha a de Deus. Nessa época do cangaço de 1912, o padre José Cabral ao improvisar o casamento de Borborema Barros e Águida aconselhava os cangaceiros a viverem numa vida cristã. Pois havia sido Deus quem tinha chamado ele ali. E que se ele não tivesse cruzado seus caminhos, os fujões poderiam ter sido mortos pelo pai da moça. Ou então castrado por Antonio Silvino como se fosse um capão no chiqueiro. Dizem que nesse dia depois do casório o padre recebeu algumas moedas do fazendeiro Severino de Barros Leira e do Coronel Zé de Barros e colocou num bolso que tinha em sua batina.

Conta-se que o Padre Zé Cabral dessa vez agradeceu os favores prestados pelo cangaceiro Antonio Silvino, mas também o aconselhou a deixar o cangaço. Nesse dia depois de acalmada a situação difícil entre a família “Barros Leira” o bando deixou a fazenda Corredor no final da tarde.

De acordo com as informações dos familiares de Borborema Barros e Águida é que, ano depois do casamento foram morar no Estado do Paraná, na Região Sul do Brasil. Onde nunca mais retornaram ao município de Cabaceiras.


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