Borborema e
Águida baseado nas histórias contadas por Apolônia Barros. Acontecida nos anos
1912.
Certo dia do
ano 1912, o fazendeiro Severino de Barros Leira se preparava para uma festa no
Paço Municipal de Cabaceiras. Logo mandou que dois dos seus vaqueiros arriassem
alguns cavalos. Visto que algumas pessoas da família queriam ir à festa.
Uma jovem chamada
Maria Águida, também estava na fazenda. Sendo ela sobrinha do dito fazendeiro e
filha do Coronel Zé de Barros. A moça tinha ido passar uns dias na fazenda. Lá
também se encontrava um primo da jovem. E os dois namoravam escondidos de seus
pais. O jovem se chamava Borborema Barros. Que também visitava a fazenda do tio
quando sabia que a sua namorada estava lá.
Nesse dia da
festa, antes do pôr do sol, o fazendeiro Severino de Barros Leira saiu em seu
cavalo acompanhado de algumas pessoas da sua família. Caminharam quilômetros
pelos caminhos pedregosos da fazenda Corredor com destino a vila Cabaceiras.
Onde lá no Paço Municipal aconteceria um baile dançante.
Na fazenda só
havia ficado algumas pessoas que trabalhavam na lida do gado. Borborema Barros
não se encontrava mais na Fazenda Corredor. Havia retornado para sua casa na
fazenda Salambaia. Mas assim que soube que sua namorada Maria Águida tinha ido
também para a festa na vila, não teve demora. Prontamente tratou de arriar seu
cavalo e saiu a galope. Chegando à vila quase ao anoitecer. Vestido na mais
alta elegância e acompanhado de mais dois rapazes.
O sol já havia
se posto quando começou o baile no paço municipal da vila. E lá dentro a filha
do Coronel Zé de Barros dançava aos cuidados de sua mãe. Que também estava
acompanhada de outras damas. Enquanto Águida dançava no salão.
Mas em dado
momento a jovem avistou Borborema Barros que entrava no Paço Municipal. No
mesmo instante Águida interrompeu sua dança. E na ocasião aproximou-se do seu
primo e chamou-o para dançar. Os dois saíram dançando no salão. Ela
orgulhava-se ao dançar com o cavalheiro. E por alguns minutos encostava sua
cabeça no ombro dele. Mas depois de alguns movimentos dançantes, os dois
rapidamente saíram sem serem percebidos.
Do lado de fora
do Paço Municipal de Cabaceiras, no clarear das luzes dos lampiões, o Coronel
Zé de Barros conversava com pessoas amigas e influentes na política local. Nem
sabia o que estava se passando naquela hora com a sua filha. Enquanto isso, sua
esposa procurava a filha Águida pensativamente. Sem chamar atenção das outras
pessoas.
Alguns minutos
depois ficaram sabendo que Águida tinha fugido com o primo. Já era noite desse
dia. Os dois se esconderam na casa de Jovino Modesto Cavalcante de Albuquerque,
que morava por trás da igreja matriz. (Segundo dados em arquivo municipal,
Jovino era cabaceirense, 2º Tenente do 13º Batalhão de Infantaria da Guarda
Nacional da Comarca de Campina Grande, Estado da Paraíba). (* 1861 +1936).
Conta-se que
nessa época, Águida tinha apenas dezesseis anos de idade. Havia poucas
tentativas de namoro com o seu primo legitimo Borborema Barros, de vinte anos
de idade. Ela Já falava em casamento. Pois era uma moça bonita, feliz e
graciosa. E logo depois que os dois se ausentaram do Paço Municipal, uma mulher
chamada Maria de Jesus tinha ido chamar o coronel Zé de Barros. Assustada
falava: __ Coronel! Coronel Zé de Barros! Estão lhe chamando na casa do Tenente
Jovino Albuquerque.
O Coronel Zé
de Barros era homem de feição dura e ignorante ao extremo. Só falava com tom de
brutalidade. E vendo o desespero da mulher que estava preocupada lhe chamando,
queria que ela lhe contasse de imediato o que diabo estava acontecendo. A pobre
mulher sem querer dizer o nome da moça, pausadamente, com a voz calma e tremula
falava ao coronel que o seu sobrinho Borborema Barros tinha carregado uma moça.
Somente na
frente da casa de Jovino Albuquerque, Tenente do Batalhão da Guarda Nacional,
foi que o fazendeiro Severino de Barros Leira contou ao Coronel Zé de Barros
que a tal moça que seu sobrinho havia escondido era sua filha Águida. E o
coronel não teve demora. No mesmo instante sombreou o olhar descendo as
sobrancelhas e sentiu que o problema era mais grave do que ele pensava. Sacou
logo de uma arma na cintura, alongou seu olhar no sentido da porta da casa de
Jovino Albuquerque e disparou três tiros. O coronel partiu bravo e furioso
querendo matar o casal de namorados. As pessoas tentavam acalmá-lo para que ele
não entrasse na casa.
Enquanto isso,
na escuridão da noite. O negro chamado Damião Santos ajudou os namorados a
fugirem pelos fundos da casa. Na madrugada do dia seguinte os namorados fujões
chegaram à fazenda Corredor.
Assim que o
sol da manhã raiou na fazenda Corredor os vaqueiros levaram o gado para pastar
na serra. E nesse dia quando se aproximaram da furna de Anacleto foram
surpreendidos pelos cangaceiros de Antonio Silvino. Os cangaceiros já eram
acostumados andar nas caatingas da dita fazenda. Logo os vaqueiros ficaram
proseando com os cangaceiros.
Nesse dia do
ano 1912, na fazenda Corredor um dos vaqueiros que se chamava Negro Velho
cantou alguns versos de aboios para os cangaceiros. Negro Velho era um poeta
repentista que cantava seus versos descrevendo o cenário da vegetação. Onde se
via os pés de angicos todo desfolhados e sem vidas. A terra estava coberta
pelas folhagens secas. Os lajeados ajudavam na decoração do cenário, onde
repousavam. Os cangaceiros ouvindo o vaqueiro cantador, também observava a
paisagem verde amarelado com alguns pés de juazeiros, mandacarus, xiquexiques e
macambiras.
Nesse dia o
cangaceiro Antonio Silvino se revestiu de lembranças ao escutar os versos do
vaqueiro. O poeta também falava da vida desgraçada que os vaqueiros levavam na
lida do campo. Sua pele negra e queimada pelo sol admirava Antonio Silvino que
lhe apelidou de: “Sabiá Cantador”.
Nesse dia,
depois de uma caminhada rápida de ida e volta até os cangaceiros, Negro Velho
quem noticiou ao seu patrão a chegada dos cangaceiros. Onde lá havia contado
tudo que estava se passando. Ou seja, um pouco das histórias que lhe contara
sobre Borborema Barros e Águida. Os dois namorados fujões, sobrinhos do
fazendeiro Severino de Barros Leira.
Conta-se que
depois o cangaceiro Antonio Silvino juntou o bando e rumou para a casa grande
da fazenda Corredor. O bando fez caminhadas por entre os serrotes e as
caatingas. Chegaram silenciosamente ao local desejado. Perto dali surpreenderam
seis capangas do Coronel Zé de Barros a procura dos namorados fujões, que já se
encontravam escondidos na fazenda. Os capangas foram desarmados e colocados
deitados em cima de um carro de bois. Onde ficaram debaixo de uma quixabeira ao
lado de um curral. Com os pés e as mãos amarradas. Dizem que um deles havia
sofrido várias chicotadas por desagradar Antonio Silvino.
Segundo as
histórias contadas, numa manhã quente de verão do ano 1912, que o cangaceiro
Antonio Silvino havia chegado à fazenda Corredor. Lá o bando tinha sempre a
permissão do fazendeiro para pousar na fazenda. E visto nesse dia o cangaceiro
achou de encontrar um grande problema entre a família “Barros Leira”. Conta-se
que essa família vez por outra entrava em questões. Até mesmo com os parentes.
E o cangaceiro Antonio Silvino havia encontrado um grande problema. O mesmo se
sentiu autorizado a resolver essa questão de Borborema Barros e Águida. Dessa
vez não foi preciso derramamento de sangue entre as famílias envolvidas.
Sabe-se que o
cangaceiro Antonio Silvino não era família da moça e muito menos do rapaz. Mas
essa situação ficou agravante demais e sendo amigo do fazendeiro lhe obrigou
interferir. Era caso de vida ou morte entre as famílias. E o cangaceiro entrou
na questão como amigo da família para apaziguar a situação. Como de fato
conseguiu sugerindo a família fazer o casamento dos namorados fujões, ou seja,
do rapaz com a moça. Mas foi logo dizendo: _ Se não fossem filhos dos seus
amigos, a moça ia levar uma surra. E o rapaz ser feito a capação, ou então a
morte do cabra.
O Coronel Zé
de Barros era homem muito conhecido no município de Cabaceiras. E por conta dos
namorados fujões estava incontrolável. Ignorava qualquer opinião. A sua
brutalidade lhe deixava cego de raiva. Nesse dia na fazenda Corredor ele fumava
um charuto atrás do outro para se acalmar. Tragava e cuspia todo instante por uma
janela da sala que ficava ao lado de um curral. Seu desejo era matar a sua
filha e o seu sobrinho pela desonra que eles tinham feitos. Mas o fazendeiro
Severino de Barros e o cangaceiro Antonio Silvino lhe acalmou. Depois de muitas
pelejas, o coronel foi convencido que era bobagem reagir à situação. O rapaz
era seu sobrinho legítimo e a moça sua filha.
Segundo as
histórias contadas por Apolônia Barros, na manhã do dia seguinte quando a
situação havia se acalmado na fazenda Corredor, logo mandaram buscar o Padre
José Cabral para fazer o casamento de Borborema e Águida. Que até então se
encontravam escondidos numa furna próxima da casa, vigiada por Justino e
Felipe, dois dos vaqueiros da fazenda Corredor, temendo que o Coronel Zé de
Barros pudesse matá-los.
No dia
seguinte, depois de toda agonia passada na fazenda Corredor, quando as pessoas
já haviam se acalmados, uma mulher que se chamava Inácia Barros, tia de
Borborema e Águida, foi até ao esconderijo buscar o casal de namorados para
casa do tio. Lá eles chegaram feridos pela vegetação. Momentos depois cuidaram
em tomar banhos e trocarem as suas vestes. Mas antes de tudo foram submetidos a
responderem algumas perguntas. E entre as pessoas a interrogá-las estava o
cangaceiro Antonio Silvino, que depois de todas as falações aos namorados,
conta-se que havia dito a Borborema Barros que se não fosse pela amizade que
ele tinha ao seu tio Severino de Barros Leira, ele estaria morto.
O Padre José
Cabral que já se encontrava na fazenda Corredor. E sem muita filosofia
religiosa mandava a família apressar o casamento de Borborema Barros com Águida
Barros. A pressa do padre era pegar a estrada de volta para a vila de
Cabaceiras, antes do anoitecesse. Nesse dia o cangaceiro Antonio Silvino pediu
para o padre não se preocupar porque ele mesmo mandava alguns cabras lhe
acompanhar até a vila.
Mas o Padre
José Cabral que não carecia de companhias. Além das que lhe acompanhava. Sem se
contar que já tinha a de Deus. Nessa época do cangaço de 1912, o padre José
Cabral ao improvisar o casamento de Borborema Barros e Águida aconselhava os
cangaceiros a viverem numa vida cristã. Pois havia sido Deus quem tinha chamado
ele ali. E que se ele não tivesse cruzado seus caminhos, os fujões poderiam ter
sido mortos pelo pai da moça. Ou então castrado por Antonio Silvino como se
fosse um capão no chiqueiro. Dizem que nesse dia depois do casório o padre
recebeu algumas moedas do fazendeiro Severino de Barros Leira e do Coronel Zé
de Barros e colocou num bolso que tinha em sua batina.
Conta-se que o
Padre Zé Cabral dessa vez agradeceu os favores prestados pelo cangaceiro
Antonio Silvino, mas também o aconselhou a deixar o cangaço. Nesse dia depois
de acalmada a situação difícil entre a família “Barros Leira” o bando deixou a
fazenda Corredor no final da tarde.
De acordo com
as informações dos familiares de Borborema Barros e Águida é que, ano depois do
casamento foram morar no Estado do Paraná, na Região Sul do Brasil. Onde nunca
mais retornaram ao município de Cabaceiras.
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