Há 81 anos
morria o mais famoso cangaceiro brasileiro. Conheça sua carreira de atrocidades
que, de heróica, não tinha nada.
LIRA NETO
PUBLICADO EM 28/07/2019, ÀS 12H00
Rubens Antonio
Eles faziam do
assassinato um ritual macabro. O longo punhal, de até 80 centímetros de
comprimento, era enfiado com um golpe certeiro na base da clavícula – a popular
“saboneteira” – da vítima. A lâmina pontiaguda cortava a carne, seccionava
artérias, perfurava o pulmão, trespassava o coração e, ao ser retirada,
produzia um esguicho espetaculoso de sangue. Era um policial ou um delator a
menos na caatinga – e um morto a mais na contabilidade do cangaço.
Quando não
matavam, faziam questão de ferir, de mutilar, de deixar cicatrizes visíveis,
para que as marcas da violência servissem de exemplo. Desenhavam a faca feridas
profundas em forma de cruz na testa de homens, desfiguravam o rosto de mulheres
com ferro quente de marcar o gado.
Exatos 80 anos
após a morte do principal líder do cangaço, Virgulino Ferreira da Silva, o
Lampião, a aura de heroísmo que durante algum tempo tentou-se atribuir aos
cangaceiros cede terreno para uma interpretação menos idealizada do fenômeno.
Uma série de livros, teses e dissertações acadêmicas lançados nos últimos anos
defende que não faz sentido cultuar o mito de um Lampião idealista, um
revolucionário primitivo, insurgente contra a opressão do latifúndio e a
injustiça do sertão nordestino.
Virgulino não
seria um justiceiro romântico, um Robin Hood da caatinga, mas um criminoso
cruel e sanguinário, aliado de coronéis e grandes proprietários de terra.
Historiadores, antropólogos e cientistas sociais contemporâneos chegam à
conclusão nada confortável para a memória do cangaço: no Brasil rural da
primeira metade do século 20, a ação de bandos como o de Lampião desempenhou um
papel equivalente ao dos traficantes de drogas que hoje sequestram, matam e
corrompem nas grandes metrópoles do país.
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