Clerisvaldo B. Chagas, 30 de março de 2021
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.500
Explanando para os futuros pesquisadores sobre o Casarão/Museu de Santana. Além do que foi descrito em crônica anterior com o nome de PERGUNTA NO AR, o prédio ainda possuía (e possui), um pequeno quintal. Continuando o quintal, lateralmente havia (e ainda há) um compartimento com frente para a Rua Ministro José Américo, via também da feira livre. Em determinado tempo, aquele compartimento foi cedido ou alugado e passou a funcionar como bodega de cachaça para os viciados da feira. Nessa época o museu para algumas autoridades, era apenas um lixo que a ignorância não sabia como se livrar do entulho. Bem que o compartimento poderia ter servido para ser instalada a parte administrativa da permanente exposição. A cachaça e o cuspe no pé da mesa venciam a Cultura.
No oitão do edifício, voltado para o Largo da Feira, ainda hoje existe uma pequena porta no sótão. Alguns feirantes guardavam ali suas mercadorias após a feira. Um deles chagou até a negociar suas bugingangas, parte dentro do sótão e parte fora. Era um homem amigo de meu pai, dente de ouro e pronúncia aberta para feijão a que ele chamava de féjão. Vizinho à entrada do sótão (nós chamávamos de porão) o senhor Audálio colocou ali uma barraca vertical para vender cigarros e que funcionou por muito tempo. Houve ocasiões em que os viciados procuravam os tubos de fumo na cidade e não encontravam, mas na barraca do Audálio sempre havia cigarros, servidos, alíás, com muita rapidez e agilidade no troco, quando precisava. Seu Audálio tornou-se uma pessoa muita conhecida em Santana, com sua barraca de cigarros ao lado do museu. No porão, atendeu por muito tempo o sapateiro Genésio, onde formou sua tenda.
Muitas e muitas histórias foram contadas na barraca do fumo por ele mesmo, o dono. Sentado em banquinho de madeira, bem como seus assíduos frequentadores das palestras, principalmente as noturnas, como a presença marcante do saudoso professor José Maria Amorim, a noite era consumida. Como o tempo é o senhor de tudo, Audálio, nem sei o motivo, fechou o ponto e foi para casa. “Vão comprar cigarros agora na casa da peste!” – disse um gaiato da rua como desabafo.
O que você acha? Essa é a história do museu que não é do museu. Entretanto, acho que daria um livro completo de tantos e tantos casos do “Seu Audálio da Barraca de Cigarros” e seus compromissados com os ouvidos.
Quer saber?! Acho que o homem não fumava e se fumava era com a boca alheia. Ô vida de gado!...
ANOITECER DE DOMINGO NO LARGO DA FEIRA, VENDO-SE A LATERAL DO MUSEU DARRAS NOYA E A MATRIZ DA CIDADE. (FOTO: ACERVO/ B. CHAGAS).
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