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quinta-feira, 18 de março de 2021

JUMENTO CANINDÉ E COLOLÔ

 Clerisvaldo B. Chagas, 18 de março de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2. 491



 

Passamos do dia 15. No sertão se diz: “Mês miou mês findou”. A frase é usada pelos menos instruídos que usam miou no lugar de meiou. E agora que o mês “miou”, passa um bando de aves voando em direção leste e nós logo achamos que elas estão indo em direção ao açude do Bode, na periferia da cidade. O espanta-boiada ou tetéu, em outros lugares chamado quero-quero, gosta muito de mudanças de tempo e frequentam os arredores de rios, lagoas e açudes, embora façam seus ninhos em lugares altos. Ainda madrugada revoam em alaridos anunciando a proximidade da aurora. O espanta-boiada é cheio de histórias, assim como outras aves que metem medo e estão enraizadas no folclore das superstições e das certezas. Não são muito apreciadas pelo povo e servem de apelidos para muita gente feia.

Entre as aves lúgubres do Sertão, apresentam-se a coruja, o caboge, o caboré, o bacurau e o cololô, entre outras. Algumas são parentes entre si e hoje em dia nem os dicionários registram mais nomes já consagrados pelo povo. Lembro-me que fui com o Cololô pegar uma carga de palma no sopé da serra Aguda. Eu, pré-adolescente, Cololô, filho de um nosso empregado rural. O transporte era um jegue da raça Canindé – menor que o jumento pêga – cor de macaco, peludo e força descomunal. Jumento com dois caçuás, viajamos no caminho do sítio Lagoa do João Gomes, beirando a serra Aguda que na época pertencia quase toda ao Sr. Marinho Rodrigues. Mas nós tínhamos um grande cercado de palma por ali. Enchemos os caçuás que o jegue chega impava de tanto peso, Cololô achou pouco e me colocou na garupa do animal. Eu tinha pena, mas esse Cololô não tinha.

Diante daquele cenário de pé de serra, ainda desconhecido para mim, pensei em estudar plantas e animais da região, além das belas paisagens sertanejas. Conduzimos a carga até à Rua Professor Enéas, antiga Rua de Zé Quirino, onde tínhamos cercado na beira do Ipanema, lugar em que o gado leiteiro dormia e comia ração, além de suínos que eram alimentados com abóboras, vindas da nossa fazenda Timbaúba.

Tempos depois Cololô deixou o emprego e passou a frequentar a praça central da cidade numa aventura sem futuro. Parece-me que chegou até motorista, depois... nem notícia do homem.

Jumento Canindé e ave Cololô se misturam no baú da memória. Hoje procuro cololô e não o encontro nem mesmo nos melhores dicionário do País.

 


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