Por José Mendes Pereira
Quem conheceu o famoso e perverso Amâncio Ferreira da Silva? Assim como eu, se você não o conheceu não perdeu nada, pois este homem era cruel, e podemos dizer que era mais cruel do que os próprios cangaceiros. Pois sim, o nome que você terminou de ler era de um dos mais famosos caçadores de bandidos de que se têm notícias na história da polícia militar de Sergipe.
O escritor Alcino Alves afirma e o pesquisador e colecionador do cangaço Ivanildo Alves Silveira comprovam que, este militar era pernambucano; uns dizem ser de São Bento do Una, e outros garantem que a cidade do comandante de volante era Gravatá. Sabe-se com certeza que Amâncio Ferreira da Silva nasceu no dia 11 de agosto de 1905. O nome de batismo ficou no esquecimento. Desde criancinha recebera a alcunha de Deluz.
Quando jovem abraçou a profissão de policial no Estado de Sergipe, e por ser dono de bons procedimentos junto às autoridades do governo, recebeu ordens para ir destacar no porto navegável do Baixo São Francisco, o pequeno lugarejo dos Brito, Canindé do São Francisco.
Nesse tempo o capitão Lampião já era pra lá de famoso, casava e batizava nas regiões do nordeste sem nenhum medo da justiça. Deluz foi incumbido pelo comandante da polícia seguir os passos dos facínoras, e essa lhe serviu bastante, recebendo graduações em sua vida de militar.
Era quase certo que o Deluz já apresentava coragem para enfrentar aqueles homens destemidos, e isso fez com que o seu nome passou a ser famoso em toda região do baixo São Francisco. No seu dicionário a palavra medo era coisa antiga, apenas estava adormecida nas suas páginas. O sargento Deluz era genioso, violento, bruto e além do mais perverso ao estremo.
OS FILHOS DE LAMPIÃO FICARAM ÓRFÃOS.
O fato mais comentado que aconteceu no sertão nordestino foi quando os sertanejos souberam que o rei do cangaço tinha se atrapalhado com as suas estratégias, quando ele, sua amada Maria Bonita e mais nove cangaceiros haviam sido exterminados no dia 28 de julho de 1938, na Grota do Angico, no Estado de Sergipe. Por último, sem o rei dirigindo as suas maldades e ordenando aos facínoras as invasões que deveriam ser feitas, o cangaço de Lampião também morreu na presença de todos os bandidos. E com esse acontecimento não tendo mais ataques de cangaceiros Deluz encarregou-se por conta própria de perseguir o restante de bandidos que havia sobrado da "Empresa de Cangaceiros Lampiônica & Cia", do capitão Lampião. Agora seria encontrar por toda região os ex-cangaceiros para exterminá-los, e um deles, posteriormente em 1941 foi o famoso cangaceiro Juriti covardemente preso na Pedra D'água de Rosalvo Marinho, e desumanamente assassinado nas terras do perverso. Agarrar facínora e tanger como se fosse um animal para prendê-lo na cadeia de Propriá ou amarrá-lo a uma pedra e levá-lo para ser jogado nas águas do rio São Francisco era um dos seus maiores desejos e não tinha ninguém empatasse as suas crueldades. Enquanto os dias se passavam mais ainda o seu nome continuava além de temido pela população das regiões adjacentes a Propriá e bem aplaudido pelos militares. O delegado era até admirado pelas mocinhas jovens e bonitas desejando-o e muitas delas chegaram a se apaixonar quando viam o temido policial passeando pelas ruas do pequeno lugarejo do Rio São Francisco. Sabia-se que ele era como uma suçuarana invencível, capaz de exterminar de uma só patada um cangaceiro solitário e órfão desde julho de 1938
UM FILHO CHAMADO JOÃO.
Em Poço Redondo uma numerosa família deixou o vilarejo de Luís da Cupira e de China e foi morar na pequena localidade de Curituba, nas terras de Canindé do São Francisco, na intenção de acompanhar a um tio paterno o João Grande que naquela localidade residia. Um filho de nome João filho de Hipólito José dos Santos e dona Marinha Cardoso dos Santos carinhosamente Vevéia, sendo seus filhos: Geminiano, Joaquim, Chiquinho, José, apelidado de Zé Hipólito, Antônio, alcunhado de Touca, Miguel, Manuel de Naninga, além do João que ganhara o apelido de João Marinho e as irmãs Isabel, apelidada de Iaiá; Maria, Antônia Rosa, Júlia, Filomena e Francelina, somando quatorze irmãos, descendentes daquela que era uma das mais tradicionais famílias das areias brancas de Poço Redondo.
JOÃO MARINHO APAIXONA-SE E CASA.
João Marinho não tendo outro meio para sobreviver vivia ali mesmo no chão de Canindé. Vendo o bom comportamento de uma donzela bonita descendente dos Gomes, família de nome e renome naquele chão seco e sofrido, João apaixonou-se e os dois fincaram caminhando para o matrimônio. João Marinho foi trabalhar em uma das propriedades do Chico Porfírio Fazenda Brejo, uma excelente fazenda. O casal não estranhou porque já era adaptado aos trabalhos da época, e lá tiveram uma numerosa filharada. A cada ano passado um filho botava o focinho no mundo. Foram os seguintes filhos: Hortêncio, Jonas, Zé Marinho, Santana, Totonho Marinho, Agenor, João, Fausto, Mãezinha, Angelina, Maria (Maninha), Dalva e Santa.
JOÃO MARINHO MELHORA DE VIDA E COMPRA PROPRIEDADE.
Os anos caminhavam agasalhando-se ao tempo e o João Marinho disposto no trabalho e sempre fazendo planos para comprar a propriedade que morava. E viu o seu sonho ser realizado. Sim Senhor! Comprou a própria fazenda Brejo que antes era um simples empregado. E como não escolhia serviço para ganhar o pão do cada dia fez do Brejo uma das mais consideradas propriedades lá do Canindé do São Francisco. O nome do João Marinho era falado por toda localidade. Não lhe faltavam elogios.
Dois irmãos Chiquinho e Zé Hipólito foram com ele para o Canindé do São Francisco, e lá casaram com duas irmãs: a Delfina e Anália. Chiquinho apaixonado pela luta de gado optou por ser vaqueiro no Belo Horizonte. Já o Zé Hipólito fez sua moradia em Pindoba, nome que ele mesmo escolheu.
Diz Ivanildo Alves Silveira pesquisador e colecionador do cangaço que o lugar é o mesmo que nos dias atuais é a grande fazenda Rancho do Vale, e que atualmente é propriedade de um senhor chamado Jair Monteiro Santos. Depois que vendeu a propriedade Pindoba ao tenente João Maria da Serra Negra, Zé Hipólito fez nova moradia, dando-lhe o nome de Vertente.
VAMOS VOLTAR À CASA DE JOÃO MARINHO?
Afirma ainda Ivanildo Silveira que o João Marinho se tornou num patriarca, ganhando a consideração e respeito daquela gente na região. Namorar os filhos e as filhas de João Marinho era o sonho de toda juventude sertaneja.
Amâncio Ferreira da Silva o Deluz se rendeu à beleza de uma das filhas do famoso fazendeiro. Estava apaixonado pela Dalva filha de João Marinho e da Dona Maria Gomes. Era neta de Hipólito José dos Santos e dona Marinha Cardoso dos Santos a Vevéia.
João Marinho o pai de Dalva não via com bom olhar àquela união da filha com o sargento Deluz, porque sabia da sua fama. Aquele engodo poderia atrapalhar a felicidade que reinava no seio da sua família. A paz e o sossego era a sua paixão, e queria o melhor para a querida filha. O seu medo era que aquele namoro da Dalva com o patenteado se tornasse em casamento. E foi o que aconteceu. O fazendeiro não estava o condenando como forma de protesto, e sim, o delegado não tinha respeito por ninguém, e como pai, jamais havia se enganado. E até desejava que o coração que o conservava vivo errasse o seu pensamento. Mas de gosto ou contra gosto infelizmente preparou e presenciou o casamento da filha com o temido Deluz.
Quando a família pensava que tudo era flor na casa da Dalva três dias após o casamento o desumano Deluz fez gracinha, cometendo a primeira injúria com a esposa e seus familiares, decepcionando pai, mãe, irmãos e todos da comunidade, levando a Dalva de volta à casa dos pais.
Agora sim, por que isso aconteceu logo nos primeiros dias de união, entregar a esposa aos seus pais? O sargento Deluz teria descoberto que a Dalva não era mais virgem, ou não a quis mais por pura maldade? A família tinha que saber o porquê da entrega da Dalva.
CONTINUA AMANHÃ...
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