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sexta-feira, 2 de abril de 2021

CORISCO INCENDEIA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA, SÍMBOLO DO GOVERNO

Por João Costa

Um dos ensinamentos mais profundos na Arte da Guerra e de Guerrilha consiste na destruição dos símbolos reverenciados pelo inimigo como maneira de quebrar o ânimo e espalhar terror.

Foi isto que aconteceu no distrito de Itumirim, hoje Juacema em Jaguarari(BA), em junho de 1929, quando Lampião e seu bando atacaram a estação ferroviária.

No início do século XX as ferrovias eram sinônimo do desenvolvimento, partidas e chegadas das locomotivas despertavam frisson na população, animava o comércio, a estação virava um mercado persa de intenso convívio social, mas para os cangaceiros nada mais era que ponto de chegada das volantes no Sertão procedentes da capital.

O bando de Lampião por esse período, década de 20, cresce e se fortalece com os reingressos de Corisco e dos Irmãos Engrácia, Cirilo e Antônio, bandoleiros temidos, experientes e com atuação no Norte da Bahia.

O bando evita vilas maiores e cidades, lançando terror e medo em fazendas e arruados; quem se recusa a pagar por segurança, resgate ou pedágio tem a propriedade incendiada como aviso ou animais abatidos a tiros de fuzil como represália.

Lampião sabe que não terá sossego e espera por acocho por parte das volantes; sabe, também, que as tropas deslocadas da capital chegam à caatinga não apenas por estradas de barro, mas também por trilhos, e “destruir uma estação ferroviária” teria a dimensão de enfraquecer um símbolo do inimigo e sua capacidade de força.

Numa certa manhã Itumirim desperta não com o apito do trem, mas com o desfilar de bandoleiros bem armados e apetrechados, com chapéus de couro de aba grande dobradas para trás com uma única missão: destruir e estação ferroviária do lugar porque dali os trens costumam despejar soldados.

Atônitos e temendo pelo pior, os funcionários da estação são afastados do trabalho e retirados do lugar para assistirem de longe a destruição do orgulho do lugar, o ponto não só de desembarque de soldados, mas também de venda e troca de mercadorias, de convivência e congraçamento social.

Causa impressão as ordens dadas por um cangaceiro de tez branca, cabelos longos, era Corisco, o “Diabo Loiro”, que a coices do seu fuzil comanda o quebra-quebra dos móveis e do telégrafo.

- Quebrem tudo, amontoem tudo aí do lado de fora e façam uma fogueira!

Enquanto a estação ferroviária queima, o capitão Virgulino requisita cavalos e burros que sirvam de montaria.

O bando parte deixando para trás a estação ferroviária em chamas e o governo da Bahia furioso com os despachos telegráficos dando conta da ineficiência da polícia no combate ao banditismo nas caatingas da Bahia.

A polícia muda de tática diante da inutilidade de dar combate a Lampião com soldados e oficiais que desconheciam o terreno, nuances da guerra híbrida, e a iniciativa parte do tenente Manoel Campos de Menezes, nascido em Chorrochó, que apresenta ao Comando seu plano.

Quero uma força composta de soldados da corporação e de soldados-contratados, homens da região, sertanejos calejados e acostumados com o bioma caatinga, que não se desespere e saiba procurar e achar fontes de água e alimentos; não quero corneteiro, o que eu preciso mesmo é de um rastejador.

O tenente é atendido, faz mudanças na sua volante com a incorporação de tal José Félix, rastejador famoso, de temperamento frio e ambicioso pelo butim, em caso de sucesso da tropa.

Enquanto o tenente Menezes põe seus homens no rastro do bando de Lampião, Corisco se afasta por uma temporada para dedicar-se a Sérgia Ribeiro da Silva, a Sussuarana ou Dadá como ficou conhecida e famosa a sua companheira, mas foi por pouco tempo.

O cabecilha Tenente Menezes tem dificuldades e adestrar a tropa que comete imprudências e erros na “persiga” do bando, mas à certa altura José Félix volta de um giro na mata e segreda ao tenente Menezes.

- Junte a tropa sem alarido, tem rastro do bando a menos de uma légua daqui – uns vinte cangaceiros bem armados.

E não demora muito, nos domínios do município de Jeremoabo, a volante do tenente Menezes se divide em duas para atacar Lampião pelas laterais e na liderança de uma delas um tal de José Serra Negra, inimigo figadal de Cristino.

De novo o pipocar dos tiros de fuzil irrompe na caatinga, o tempo se fecha e o inferno se instaura mais uma vez.

O soldado-contratado Serra Negra é o primeiro a avistar Cristino a uma certa distância, mas não se contém.

- Corisco, filho de uma égua! Sai da toca desgraçado e vem brigar como homem, seu covarde! Grita Serra Negra sem dar descanso ao fuzil.

Mais uma vez, Cristino põe em prática sua tática “susto e terror”, gritando, correndo, girando em torno dele mesmo disparando em movimento e em cadência matemática, experiência adquirida no tempo em que serviu ao Exército.

- Covarde é você, macaco do cão filho de uma égua! Você sempre só teve foi conversa, hoje aqui você come chumbo! Foi a resposta de Corisco.

O tenente Menezes vê sua oportunidade de matar Lampião se esvair ao começar a contar os feridos na sua tropa.

Por outro lado, Lampião faz soar seu apito e o bando desaparece com se por um encanto.

Acossado pela volante do tenente Menezes, Lampião alarga seu raio de ação e cruza a divisa da Bahia levando consigo o inferno para as caatingas de Sergipe, tendo Corisco como seu lugar-tenente e os Irmãos Ingrácia como sócios de empreitadas.

Acesse: blogdojoaocosta.com.br

Fonte de consulta: Corisco, a Sombra de Lampião, de Sérgio Augusto de S. Dantas.

Lampião, a Raposa das Caatingas, de José Bezerra Lima Irmão.]Fotos de Benjamim Abraão.

O pequeno bando de Lampião, em 1928, fotografado em Ribeira do Pombal: Lampião, Ezequiel (irmão de Lampião), Moderno, Luís Pedro, Antônio de Engrácia, Jurema, Mergulhão e Corisco (Foto feita por Alcides Fraga).

Foto 2. Corisco e seus cães. Foto 3. Virgulino Ferreira.

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