Por João Costa
Um dos ensinamentos mais
profundos na Arte da Guerra e de Guerrilha consiste na destruição dos símbolos
reverenciados pelo inimigo como maneira de quebrar o ânimo e espalhar terror.
Foi isto que aconteceu no
distrito de Itumirim, hoje Juacema em Jaguarari(BA), em junho de 1929, quando
Lampião e seu bando atacaram a estação ferroviária.
No início do século XX as
ferrovias eram sinônimo do desenvolvimento, partidas e chegadas das locomotivas
despertavam frisson na população, animava o comércio, a estação virava um
mercado persa de intenso convívio social, mas para os cangaceiros nada mais era
que ponto de chegada das volantes no Sertão procedentes da capital.
O bando de Lampião por
esse período, década de 20, cresce e se fortalece com os reingressos de Corisco e
dos Irmãos Engrácia, Cirilo e Antônio, bandoleiros temidos,
experientes e com atuação no Norte da Bahia.
O bando evita vilas
maiores e cidades, lançando terror e medo em fazendas e arruados; quem se
recusa a pagar por segurança, resgate ou pedágio tem a propriedade incendiada
como aviso ou animais abatidos a tiros de fuzil como represália.
Lampião sabe que não terá
sossego e espera por acocho por parte das volantes; sabe, também, que as tropas
deslocadas da capital chegam à caatinga não apenas por estradas de barro, mas
também por trilhos, e “destruir uma estação ferroviária” teria a dimensão de
enfraquecer um símbolo do inimigo e sua capacidade de força.
Numa certa manhã Itumirim
desperta não com o apito do trem, mas com o desfilar de bandoleiros bem armados
e apetrechados, com chapéus de couro de aba grande dobradas para trás com uma
única missão: destruir e estação ferroviária do lugar porque dali os trens
costumam despejar soldados.
Atônitos e temendo pelo
pior, os funcionários da estação são afastados do trabalho e retirados do lugar
para assistirem de longe a destruição do orgulho do lugar, o ponto não só de
desembarque de soldados, mas também de venda e troca de mercadorias, de
convivência e congraçamento social.
Causa impressão as ordens
dadas por um cangaceiro de tez branca, cabelos longos, era Corisco, o
“Diabo Loiro”, que a coices do seu fuzil comanda o quebra-quebra dos móveis
e do telégrafo.
- Quebrem tudo,
amontoem tudo aí do lado de fora e façam uma fogueira!
Enquanto a estação
ferroviária queima, o capitão Virgulino requisita cavalos e burros que sirvam
de montaria.
O bando parte deixando
para trás a estação ferroviária em chamas e o governo da Bahia furioso com os
despachos telegráficos dando conta da ineficiência da polícia no combate ao banditismo
nas caatingas da Bahia.
A polícia muda de tática
diante da inutilidade de dar combate a Lampião com soldados e oficiais que
desconheciam o terreno, nuances da guerra híbrida, e a iniciativa parte do
tenente Manoel Campos de Menezes, nascido em Chorrochó, que apresenta ao
Comando seu plano.
- Quero uma força
composta de soldados da corporação e de soldados-contratados, homens da região,
sertanejos calejados e acostumados com o bioma caatinga, que não se desespere e
saiba procurar e achar fontes de água e alimentos; não quero corneteiro, o que
eu preciso mesmo é de um rastejador.
O tenente é atendido, faz
mudanças na sua volante com a incorporação de tal José Félix, rastejador
famoso, de temperamento frio e ambicioso pelo butim, em caso de sucesso da tropa.
Enquanto o tenente Menezes
põe seus homens no rastro do bando de Lampião, Corisco se
afasta por uma temporada para dedicar-se a Sérgia Ribeiro da Silva, a
Sussuarana ou Dadá como ficou conhecida e famosa a sua companheira, mas foi por
pouco tempo.
O cabecilha Tenente
Menezes tem dificuldades e adestrar a tropa que comete imprudências e erros na
“persiga” do bando, mas à certa altura José Félix volta de um giro na mata e
segreda ao tenente Menezes.
- Junte a tropa sem
alarido, tem rastro do bando a menos de uma légua daqui – uns vinte cangaceiros
bem armados.
E não demora muito, nos
domínios do município de Jeremoabo, a volante do tenente Menezes se divide em
duas para atacar Lampião pelas laterais e na liderança de uma delas um tal de
José Serra Negra, inimigo figadal de Cristino.
De novo o pipocar dos
tiros de fuzil irrompe na caatinga, o tempo se fecha e o inferno se instaura
mais uma vez.
O soldado-contratado Serra
Negra é o primeiro a avistar Cristino a uma certa distância, mas não
se contém.
- Corisco, filho de uma
égua! Sai da toca desgraçado e vem brigar como homem, seu covarde! Grita Serra Negra sem
dar descanso ao fuzil.
Mais uma vez, Cristino põe
em prática sua tática “susto e terror”, gritando, correndo, girando em torno
dele mesmo disparando em movimento e em cadência matemática, experiência
adquirida no tempo em que serviu ao Exército.
- Covarde é você, macaco
do cão filho de uma égua! Você sempre só teve foi conversa, hoje aqui você come
chumbo! Foi
a resposta de Corisco.
O tenente Menezes vê sua
oportunidade de matar Lampião se esvair ao começar a contar os feridos na sua
tropa.
Por outro lado, Lampião
faz soar seu apito e o bando desaparece com se por um encanto.
Acossado pela volante do
tenente Menezes, Lampião alarga seu raio de ação e cruza a divisa da Bahia
levando consigo o inferno para as caatingas de Sergipe, tendo Corisco como
seu lugar-tenente e os Irmãos Ingrácia como sócios de
empreitadas.
Acesse: blogdojoaocosta.com.br
Fonte de consulta:
Corisco, a Sombra de Lampião, de Sérgio Augusto de S. Dantas.
Lampião, a Raposa das
Caatingas, de José Bezerra Lima Irmão.]Fotos de Benjamim Abraão.
O pequeno bando de
Lampião, em 1928, fotografado em Ribeira do Pombal: Lampião, Ezequiel (irmão de
Lampião), Moderno, Luís Pedro, Antônio de Engrácia, Jurema, Mergulhão e Corisco
(Foto feita por Alcides Fraga).
Foto 2. Corisco e seus
cães. Foto 3. Virgulino Ferreira.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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