Clerisvaldo B. Chagas, 24 de maio de 2022
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.705
Ninguém pode negar o belo espetáculo das andorinhas na Santana dos anos 60. Tempo como este agora, invernoso, o bando revoava pela região do rio Ipanema e fazia seus malabarismos para os banhistas do Poço dos Homens. Revoavam circulando o poço, pegando bichinhos no ar e tocando o peito nas águas claras ou barrentas que encantavam os adolescentes e adultos frequentadores assíduos do lugar. Às vezes ali se encontrava o cantor “Cícero de Maraquinha” e, seu violão e voz maviosa pareciam uma orquestra para acompanhar as incursões das andorinhas. Do Poço dos Homens dava para vê o retorno do bando em círculo e o assentamento com alarido na torre da Igreja Matriz de senhora Santana.
Essas aves passeriformes, pertencem a família Hirundinidae e gostam muito de construírem seus ninhos colados ao teto dos casarões, dos sobrados, tal com o conhecido “sobrado do meio da rua” (hoje extinto) onde costumavam se abrigar. Sabemos sim que andorinhas são aves que migram conforme a estação do ano, mas retornam sempre. Então, ficamos a indagar por que as andorinhas abandonaram a torre da Igreja Matriz, o Poço dos Homens, a nossa Santana do Ipanema. Dos anos 60 para os anos próximos seguintes, não houve essa transformação apressada dos climas. Portanto as nossas aves que alegravam o cinza do nosso inverno foram embora sem explicações. Teria sido pela morte do cantor Cícero de Mariquinha, que nunca mais tocara para o bando?
A torre da igreja de Senhora Santana, continua bela. Ano 2022 e o mesmo cartão postal máximo da cidade. E se não tem alaridos de andorinhas, também não tem sujeira para a limpeza através de homens intimoratos à altura. O “sobrado do meio da rua” Já não existe para abrigar beleza, romantismo e andorinhas. O Poço dos Homens perdeu o brilho após a construção da Ponte General Batista Tubino. Ficou essa passagem quase em cima do poço. O lixo colocado no local pelos desavisados, fez surgir tapetes verdes de plantas aquáticas por sobre as águas poluídas.. E assim ficou o ballet das aves migratórias apenas na memória dos que viveram à época, notadamente escritores, poetas, historiadores e saudosistas.
Nunca se viu dizer que as andorinhas fizessem mal a alguém.
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