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quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

CASARÃO DE CAJUEIRO, CANGAÇO, HISTÓRIA E ABANDONO.

 Por Rangel Alves da Costa

Cajueiro é uma povoação ribeirinha fincada nas beiradas são-franciscanas do município sergipano de Poço Redondo, no Alto Sertão do São Francisco. O Casarão abaixo retratado sintetiza, mesmo na lamentável situação de abandono e desolação em que se encontra, todo um ciclo de memórias e histórias: apogeu da navegação ribeirinha, clãs familiares, senhores com passagens na história do cangaço. Ora, Cajueiro está situado nas proximidades do coito final de Lampião, na Gruta do Angico. 

Está encravado na região do Angico, nas proximidades de Jacaré, Piranhas e Entremontes, estes dois últimos já nas Alagoas. Faz parte de um contexto geográfico entre riachos e serras, carrascais catingueiros e veredas cheias de segredos. Além, logicamente, do Velho Chico que passa adiante. Região que foi berço e lar de importantes famílias como os Félix, os Rodrigues, os Pinto, os Dias, os Cruz, dentre outras, e que muitas vezes são da mesma semente brotando em ramagens diferentes. Neste Casarão, por exemplo, mesmo em seus silêncios de agora, ainda ecoam as vozes de Durval Rodrigues Rosa e de Adauto Félix. 

Durval Rodrigues, filho de Seu Cândido e Dona Guilhermina, e irmão do famoso coiteiro Pedro de Cândido, passou sua meninice até se tornar rapaz, na propriedade familiar na região do Angico. Já era rapazote quando, na madrugada ainda escurecida de 28 de julho de 38, foi retirado de sua casa pela força volante e levado até as beiradas da Gruta do Angico, onde ainda presenciou o fogo aberto pelas volantes contra os cangaceiros. Irmão de Pedro de Cândido (que já estava em poder da volante desde a travessia do rio, pois morando e atuando entre Piranhas e Entremontes), e mais novo que este, certamente achavam que Durval também estaria envolvido no acobertamento do coito e ajudado na estadia da cangaceirama, e, por isso mesmo, conhecia passo a passo da presença dos bandoleiros. Mas muitas outras histórias rondam as circunstâncias de tal presença, fatos que ainda adormecem entre os segredos e mistérios de Angico. 

Depois de Angico, pois, o já casado Durval resolveu construir uma moradia na sede da povoação de Cajueiro. Foi assim que surgiu o Casarão de Cajueiro, depois vendido a Adauto Félix. Passando a morar na sede do então distrito de Poço Redondo, tempos após Durval se tornou em importante liderança política, sendo eleito prefeito por duas vezes. 

O novo dono do casarão, Adauto Félix, também já havia feito parte do contexto do cangaço na condição de coiteiro. Aliás, os Félix da beira do rio foi a família que mais teve membros fazendo parte do coiteirismo de Lampião. Citando apenas alguns, temos Mané Félix (o maior dos coiteiros e fiel amigo do Capitão Virgulino), Lourival Félix, Erasmo Félix, João, Júlio, e o próprio Adauto, dentre outros. O Casarão é o que resta de todo esse livro de tantas histórias e memórias. Histórias e memórias que vão sendo tristemente abandonadas, relegadas aos sopros implacáveis do tempo.

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