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domingo, 10 de março de 2024

ZÉ SERENO, CABRA DE LAMPIÃO.

Por Beto Rueda

Lampião, ao atravessar o Rio São Francisco em direção a Bahia, conheceu muitos homens dispostos que fizeram parte seu grupo. Entre eles, Zé Sereno.

José Ribeiro Filho nasceu em vinte e dois de agosto de 1913, nas proximidades do município de Chorrochó, Bahia.

Seu pai, José Ribeiro dos Santos, faleceu meses depois do seu nascimento. A mãe, Lídia Maria da Trindade, era irmã dos cangaceiros conhecidos como os Engrácias, Antônio e Cirilo. Também do conhecido Cionário, cujos filhos Antônio e Luiz foram igualmente cangaceiros. Outro irmão de Lídia era vulgarmente chamado de Faustino Mão de Onça e pai do afamado Zé Baiano.

Zé de Lídia, como era chamado, teve vários irmãos: Rufino, o mais velho, deixou a casa para constituir sua própria família. Pobre, não tinha condições de ajudar nas despesas da casa materna. Antão, sentou praça na polícia, destacado para a vila de Capim Grosso. Também não deu nenhum apoio a viúva. Matias, caiu no mundo e sumiu. Leocádio, morreu cedo. Zeca, de saúde frágil, esteve muito tempo adoentado. As irmãs eram três, Lúcia, Otília e Luiza.

Na sua infância sofrida e sem perspectivas, fazia pequenos serviços para ajudar no sustento de casa. Comprava e vendia peles de bode e outros pequenos negócios. Com quinze para dezesseis anos passou a montar burros bravos e andava pelos matos a procura de reses desgarradas, ficando entre a vida de domador e vaqueiro.

Por motivo da doença de seu irmão Zeca, mudaram-se para Capim Grosso, onde morava o mano Antão, que os recebeu com indiferença, negando-lhes qualquer auxílio. José, ainda adolescente, ficou com a responsabilidade do sustento familiar. Trabalhou muito, não enjeitava serviço.

Depois de mais um período enfermo, Zeca não resistiu e também faleceu.

O tempo passou e Zé de Lídia, após uma briga feia com um soldado de nome Lau, jurado de morte e aconselhado por amigos, resolveu procurar um coiteiro do bando cangaceiro dos tios Antônio e Cirilo de Engrácia, ligados a Lampião. Chegou em casa e contou para a mãe que ia participar de uma novena em um sítio distante. A velha deu a benção ao filho, jamais imaginou que seria a última vez que o veria, a despedida.

Acompanhado do coiteiro, seguiram em direção as caatingas existentes da fazenda Retiro. Quando chegaram na metade do caminho, o guia tomou outra direção e ensinou José o caminho a seguir para encontrar os outros cabras que o levariam até Cirilo e Antônio. José desarmado, ficou aguardando no lugar combinado. Nesse intervalo de tempo, aconteceu a morte de Antônio, assassinado pelo próprio irmão Cirilo, que ficou como líder do grupo.

Logo depois apareceram seus dois primos, Sabonete e Manoel Moreno, que tinham entrado no grupo dias antes. Deram a ele uma Mauzer e os três foram ao encontro de Cirilo. Era o princípio do mês de junho, de 1931.

No dia seguinte ao seu ingresso, foram encontrar Lampião que estava acoitado no Raso da Catarina. Zé Baiano apresentou o rapaz ao chefe maior. A partir desse encontro, recebeu a alcunha de Zé Sereno.

Meses depois, Lampião seguiu para Pernambuco e Cirilo ficou com os seus parentes, Manoel Moreno, Zé Sereno e Jararaca. Após alguns dias de viagem, José se desentendeu seriamente com Moça, companheira de Cirilo. O tio, que tinha ido buscar algumas encomendas de um coiteiro, quando voltou, tomou as dores da amada e foi tirar satisfação com o sobrinho, querendo bater. José manobrou o fuzil e disse: - Me bate e eu não conto os buracos!

Jararaca e Manoel Moreno ficaram atrás de Sereno cobrindo-lhe as costas, afirmaram o seu apoio ao primo. Resolveram deixar o tio. Viajaram os três e nunca mais encontraram o parente. Esse foi o início da sua ascensão. Era o ano de 1932.

- Julho de 1935 - Morre Cirilo de Engrácia.

- 1936 - Visita de Zé Sereno e Mariano a fazenda Barra do Ipanema em Alagoas.

- 07 de junho de 1936 - Morte de Zé Baiano e seus três cabras no lugar Alagadiço, Sergipe.

- 1936 - Zé Sereno une-se a Sila em Sergipe.

- Agosto de 1936 - Zé Sereno e Lampião prendem Dao de Chico Carvalho.

- Janeiro de 1937 - Os irmãos de Sila entram no grupo de Zé Sereno.

- 1937 - Tiroteio na lagoa do Crauá ou fogo da lagoa de João Domingos, ferimento do cangaceiro Novo Tempo, irmão de Sila.

- Junho de 1937 - Nasce João do Mato, primeiro filho de Zé Sereno e Sila.

- 1937 - Zé Sereno e seu grupo entram na vila de Gado Bravo, Sergipe.

- 1937 - Zumbi, um dos cabras de Zé Sereno, é morto no tiroteio da fazenda Salobro.

- Junho de 1937 - Morre Manoel Moreno, primo de Zé Sereno.

- 28 de julho de 1938 - Angico: morte de Lampião, Maria Bonita e mais nove companheiros. Morre também o soldado Adrião. Zé Sereno e Sila que estavam presentes, conseguem escapar.

- Agosto de 1938 - Tiroteio em Pinhão, Sergipe.

- Fins de agosto de 1938 - Entrega de Zé Sereno e mais vinte cabras em Serra Negra, Bahia.

- 1938 - Zé Sereno e outros cangaceiros ajudam na perseguição dos grupos de Corisco e Ângelo Roque, o Labareda.

- 1939 - Zé Sereno e outros cangaceiros são levados a Salvador, para prestar depoimentos.

- 1939 - Vinte dias depois Zé Sereno e seus companheiros retornam para a cidade de Geremoabo.

- Fins de 1939 - O capitão Aníbal aconselha Zé Sereno a ir embora da região onde vivera como chefe de grupo.

Após deixarem o cangaço, Zé Sereno e Sila andaram pelo Sul da Bahia, Minas Gerais, interior de São Paulo, retornaram a Minas Gerais e finalmente mudam para a capital paulista em 1945, onde fincam raízes e formam família.

Em dezesseis de fevereiro de 1981, Zé Sereno, um personagem real figura controversa e importante para o estudo do tema cangaço, que percorreu as caatingas dos Estados da Bahia e Sergipe como chefe de grupo de Lampião, morre no Hospital Municipal de São Paulo aos 67 anos de idade.

REFERÊNCIAS:

ARAÚJO, Antônio Amaury Corrêa de. Gente de Lampião: Sila e Zé Sereno. São Paulo: Traço, 1987.

ARAÚJO, Antônio Amaury Corrêa de. Lampião: As mulheres e o cangaço. 2.ed. São Paulo: Traço, 2012.

https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste

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