Por:
Clerisvaldo B. Chagas, 30 de outubro de 2012. Crônica Nº 886
DONA LICA, A
REZADEIRA
Sou daqueles
que acreditam que Jesus deixou poderes para seus seguidores diretos. Mas, mesmo
nos tempos presentes, muitos mistérios ainda surgem no mundo inteiro como
partes divinais. Nascido e criado no Sertão de Alagoas, fui ouvindo, vendo e
respeitando histórias e ações. O próprio Lampião mesmo rondou por várias vezes
a casa de seu Rodrigues na Ribeira do Capiá.
O velho não desejava vê-lo e fazia
suas orações para tal. Certo dia, porém, Lampião mandou recado que queria
conversar com ele e que não tivesse receio, que não lhe faria mal nenhum.
Rodrigues acedeu até que o chefe de bando chegou a sua fazenda, acampando nas
imediações da casa-grande. O velho Rodrigues foi lá e Lampião afastou-se com
ele, dos cangaceiros e disse saber da sua vidência e orações consideradas
fortes. Queria apenas duas ou três delas contra os “macacos”. O velho falou que
não sabia escrever. Lampião pegou um lápis e uma caderneta e foi garatujando o
papel. Por fim, o bandoleiro agradeceu e foi embora. O velho Rodrigues
continuou com suas devoções para manter o bandido afastado da sua fazenda. O
homem morreu com 104 anos, predizendo com antecedência a data correta e a hora
da sua futura morte.
No
pátio da nossa escola uma mangueira bonita e formosa, enfeitava-se ainda
mais quando se aproximava a florada. Numa ocasião notei uma tristeza na planta.
Percebi que ela estava doente e pensei que o problema fazia parte do solo
encharcado da região. Passados mais alguns dias, o problema se
agravava, quando um estalo despertou a consciência. Aquilo era olho grande,
olhado, como falam por aí. Procurei saber se alguém conhecia uma rezadeira.
Indicaram dona Lica e sua morada. Fui lá imediatamente. Uma casa humilde no
meio de outras com os mesmos aspectos, na entrada da cidade. Dona Lica marcou a
hora e com pontualidade chegou para espiar a mangueira, quando foi logo
dizendo: “olho grande. O senhor devia ter me procurado antes, mas vou rezar
três vezes na planta. Em geral só rezo uma. Mas, devido à
situação...” Rezada às três vezes, a planta deixou de morrer e voltou a
ser como era antes.
Admiro e
respeito os rezadores, as rezadeiras, benzedeiras com esses nomes ou com outros
quaisquer. É o dom de Deus agindo nos humildes e respeitadores dos princípios
de Jesus. Ah! Para mim não importa de quem duvida. Tenho ainda muitos exemplos
nos bornais. Nem sei se ainda é viva, DONA LICA, A REZADEIRA.
Autobiografia
do autor:
Clerisvaldo
Braga das Chagas nasceu no dia 2 de dezembro de 1946, à Rua Benedito Melo ( Rua
Nova) s/n, em Santana do Ipanema, Alagoas. Logo cedo se mudou para a Rua do
Sebo (depois Cleto Campelo) e atual Antonio Tavares, nº 238, onde passou toda a
sua vida de solteiro. Filho do comerciante Manoel Celestino das Chagas e da
professora Helena Braga das Chagas, foi o segundo de uma plêiade de mais nove
irmãos (eram cinco homens e cinco mulheres). Clerisvaldo fez o Fundamental
menor (antigo Primário), no Grupo Escolar Padre Francisco Correia e, o
Fundamental maior (antigo Ginasial), no Ginásio Santana, encerrando essa fase
em 1966.Prosseguindo seus estudos, Chagas mudou-se para Maceió onde estudou o
Curso Médio, então, Científico, no Colégio Guido de Fontgalland, terminando os
dois últimos anos no Colégio Moreira e Silva, ambos no Farol Concluído o Curso
Médio, Clerisvaldo retornou a Santana do Ipanema e foi tentar a vida na capital
paulista. Retornou novamente a sua terra onde foi pesquisador do IBGE –
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Casou em 30 de março de 1974
com a professora Irene Ferreira da Costa, tendo nascido dessa união, duas
filhas: Clerine e Clerise. Chagas iniciou o curso de Geografia na Faculdade de
Formação de Professores de Arapiraca e concluiu sua Licenciatura Plena na AESA
- Faculdade de Formação de Professores de Arcoverde, em Pernambuco (1991). Fez
Especialização em Geo-História pelo CESMAC – Centro de Estudos Superiores de
Maceió (2003). Nesse período de estudos, além do IBGE, lecionou Ciências e
Geografia no Ginásio Santana, Colégio Santo Tomaz de Aquino e Colégio Instituto
Sagrada Família. Aprovado em 1º lugar em concurso público, deixou o IBGE e
passou a lecionar no, então, Colégio Estadual Deraldo Campos (atual Escola
Estadual Prof. Mileno Ferreira da Silva). Clerisvaldo ainda voltou a ser
aprovado também em mais dois concursos públicos em 1º e 2º lugares. Lecionou em
várias escolas tendo a Geografia como base. Também ensinou História,
Sociologia, Filosofia, Biologia, Arte e Ciências. Contribuiu com o seu saber em
vários outros estabelecimentos de ensino, além dos mencionados acima como as
escolas: Ormindo Barros, Lions, Aloísio Ernande Brandão, Helena Braga das
Chagas, São Cristóvão e Ismael Fernandes de Oliveira. Na cidade de Ouro Branco
lecionou na Escola Rui Palmeira — onde foi vice-diretor e membro fundador — e
ainda na cidade de Olho d’Água das Flores, no Colégio Mestre e Rei.
Sua vida
social tem sido intensa e fecunda. Foi membro fundador do 4º teatro de
Santana (Teatro de Amadores Augusto Almeida); membro fundador de escolas em
Santana, Carneiros, Dois Riachos e Ouro Branco. Foi cronista da Rádio Correio
do Sertão (Crônica do Meio-Dia); Venerável por duas vezes da Loja Maçônica Amor
à Verdade; 1º presidente regional do SINTEAL (antiga APAL), núcleo da região de
Santana; membro fundador da ACALA - Academia Arapiraquense de Letras e Artes;
criador do programa na Rádio Cidade: Santana, Terra da Gente; redator do
diário Jornal do Sertão(encarte do Jornal de Alagoas); 1º diretor eleito
da Escola Estadual Prof. Mileno Ferreira da Silva; membro fundador da Academia
Interiorana de Letras de Alagoas – ACILAL.
Em sua trajetória, Clerisvaldo Braga das Chagas, adotou o nome artístico Clerisvaldo B. Chagas, em homenagem ao escritor de Palmeira dos Índios, Alagoas, Luís B. Torres, o primeiro escritor a reconhecer o seu trabalho. Pela ordem, são obras do autor que se caracteriza como romancista: Ribeira do Panema (romance - 1977); Geografia de Santana do Ipanema (didático – 1978); Carnaval do Lobisomem (conto – 1979); Defunto Perfumado (romance – 1982); O Coice do Bode (humor maçônico – 1983); Floro Novais, Herói ou Bandido? (documentário romanceado – 1985); A Igrejinha das Tocaias (episódio histórico em versos – 1992); Sertão Brabo CD (10 poemas engraçados).
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