Por: Archimedes Marques
O bom trabalho
literário, de grande importância para a compreensão da história regional da
Paraíba, intitulado "A Vida do Coronel Arruda, Cangaceirismo e Coluna
Prestes", de autoria do ilustre Promotor de Justiça paraibano, Severino
Coelho Viana, sem dúvida, um dos mais brilhantes pombalenses, constitui-se em
excelente contribuição para o mundo literário pertinente ao tema.
O texto, de
leitura simples e direta, sem subterfúgios ou palavras difíceis, termina por
envolver o leitor do inicio ao fim do livro, buscando mostrar todas as
importantes passagens da vida publica do militar, do policial, do politico, do
homem, do Cel. Arruda, desde a sua compreensão e retransmissão de que aquele
cidadão se tratava de um ser humano espetacular, atencioso e formidável, além
de ser dotado de memória estupenda, de tudo se lembrando nos mínimos detalhes,
apesar da sua idade avançada quando da entrevista prestada ao autor do livro.
No decorrer da
leitura, o leitor, por mais leigo que seja, percebe as grandes qualidades que
possuía o Cel. Arruda, destarte para a sua coragem, destreza, honradez,
honestidade, um grande homem, entretanto, teimoso e afoito por demais, talvez,
por vezes agindo mais pela emoção, mas no intuito de acertar e vencer em
vitórias não só suas, mas do seu povo, do povo a quem tanto amava, do povo
paraibano a quem tanto defendeu. O exemplo maior dessa ousadia e extrema
coragem visando defender o povo da tirania do suposto exército revolucionário
que buscava novos rumos para o país, mas para tanto não deixou de praticar
rosários de arbitrariedades por onde passou, foi o seu enfrentamento a grande e
temível Coluna Prestes, quando da passagem daquela Unidade de Guerra pelo
município de Piancó na Paraíba, em fevereiro do ano de 1926. Sem sombras de
dúvidas, um ato corajoso de um destemido homem, mas ao mesmo tempo temeroso e
intempestivo, vez que de tudo, houve final trágico para muitos combatentes com
a cidade praticamente arrasada em verdadeiro inferno. Entretanto, o exercito
revoltoso de Prestes sentiu a pungência e a força do povo paraibano, apesar de
ter realizado verdadeiro e covarde massacre a certos combatentes de Piancó, já
rendidos e desarmados como foi o caso do Padre Aristides Ferreira da Cruz e
alguns dos seus bravos seguidores.
Tal ato
combativo e heroico rendeu ao então sargento Arruda, a importante e
dignificante honraria do governo do Presidente do Estado, João Suassuna, por
bravura, condecorado com a espada do herói.
Passeando na
interessante leitura do livro, para não muito se alongar no presente comentário
que de fato merece destaque para muitos atos heroicos do bravo Cel. Arruda,
deixamos de tecer dados sobre a sua atuação incansável em busca de criminosos;
sobre a prisão que efetuou do temível e sanguinário bandoleiro Chico Pereira;
sobre a sua luta contra o poderio dos chamados "coronéis"; sobre a
sua trajetória politica de prefeito a deputado estadual; sobre os embates que
ravou com o Padre Manoel Otaviano na época em que ocupava uma cadeira na
Assembleia Legislativa do Estado da Paraíba; sobre a sua inimizade com o famoso
coronel Jose Pereira e sobre tantos outros acontecimentos pelos quais passou o
Cel. Arruda na sua trajetória de militar e delegado de policia em várias
cidades da Paraíba embrenhando-se no matagal, nas caatingas, sob o sol
causticante em busca dos cangaceiros de Lampião, deixando de tudo então, para
melhor se ater a questão da citada batalha contra a Coluna Prestes, a sua mais
arrojada batalha, embora pudesse ter sido evitada se alguém dos combatentes de
Piancó não tivesse disparado tiros contra aquele temível e terrível exército
revolucionário, como de fato ocorreu, ninguém sabendo quem teria sido o autor
de tal audácia que gerou rápida, mas sangrenta guerra naquelas terras da
Paraíba.
Consta da
leitura que quando a Coluna Prestes entrava em Piancó, talvez em passagem
amistosa, ninguém sabe, com os homens da cidade já devidamente preparados e
entrincheirados em diversos piquetes de defesa, tiros certeiros alvejaram
cavalos e cavaleiros daquela tropa, até mesmo oficiais. Daí por diante o tempo
fechou em barulho e desespero, quando intenso tiroteio transformou a cidade de
Piancó em verdadeira praça de guerra.
Havia entre os
defensores de Piancó, um cidadão que na verdade era um preso que ali estava por
demonstrar ser de bom comportamento e assim viver de certas regalias fora da
cadeia. Esse detento que possuía tratamento diferenciado era conhecido por
"preá" e que ganhara tal apelido por ser considerado exímio
rastreador de animais perdidos, que para prova disso, bastavam lhe dar uma
rapadura que ele conseguia trazer do meio da caatinga qualquer caprino que por
ventura se desgarrasse do rebanho. Na delegacia, por conta de tais benesses, o
referido "preá" era uma espécie de faz-de-tudo que lhe mandassem.
Junto aos
defensores da cidade o tenente Antônio Benício, delegado de Piancó, que estava
do outro lado da rua, noutro piquete, solicitou por gestos e algumas poucas
palavras em meio ao barulho ensurdecedor dos estampidos vindos de todos os
lados, que "preá" trouxesse quatro fuzis e munição suficiente para o
piquete dele que assim necessitava. Não havendo a mínima possibilidade de
"preá" atravessar a rua em meio ao cerrado tiroteio sem ser atingido,
principalmente com todo aquele apetrecho pesado, então, o agora protagonista da
história ora comentada, sargento Arruda, teve a idéia de instrui-lo para
pendurar a camisa branca que vestia em um dos fuzis. A estratégia deu certo,
pois quando "preá", mesmo tremendo mais do que vara verde, saiu à rua
com o fuzil hasteando a bandeira branca, imediatamente os revoltosos de
Prestes, ensarilharam suas armas respeitando a decisão contida no símbolo
internacional, ou até quem sabe, pensando que os combatentes pretendiam se
entregar.
Em
contraponto, talvez por não saber o que de fato acontecia naquele momento de
pausa, outro piquete de defesa da cidade ali próximo, o grupo chefiado pelo
Padre Aristides, aproveitou o momento de distração da Coluna Prestes para
intensificar o tiroteio em sua direção, trazendo como resultado de tal
irrazoabilidade, muitos soldados mortos e feridos.
Disso resultou
que a tropa revoltosa, em imensa fúria e ódio, comandada pelo próprio Capitão
Luiz Carlos Prestes, investiu fortemente contra o piquete do Padre Aristides
Ferreira da Cruz, lançando inclusive duas bombas de efeito narcótico dentro da
casa do citado reverendo, o que fez com que aquele grupo, fraco, tonto,
sufocado e desorientado, se entregasse.
Covardemente,
usando tão somente por base, o atroz sentimento de vingança pelos seus mortos
em virtude do incidente ocorrido, o comando da Coluna Prestes determinou que
todos "os prisioneiros de guerra" que estavam na casa, incluindo o
Padre Aristides e o prefeito de Piancó, o Sr. João Lacerda, bem como o filho
deste, fossem conduzidos amarrados a um barreiro ali próximo e lá barbaramente
sangrados, um a um, com ferimentos perpetrados por longos punhais enfiados nas
jugulares, ou em brutais degolas das vitimas que em gritos e desesperos não
foram perdoados, fazendo disso, das maiores arbitrariedades, dos maiores e
horrendos crimes praticados pelos soldados revoltosos na caminhada histórica da
Coluna Prestes. A água do barreiro da morte ficou tão vermelha de sangue quanto
vermelha de vergonha ficou essa covarde ação daqueles homens que diziam lutar
por um Brasil melhor, que se diziam revolucionários reformistas. Uma ação
totalmente injustificada que jamais justificaria a desastrada ação do grupo do
Padre Aristides em ter atirado contra os homens que respeitavam a bandeira
branca carregada por "preá". Uma triste, desolada, insana e macabra
ação de negatividade em extrema falta de hombridade, sensatez e humanidade
contra homens indefesos, desarmados e presos, uma execução sumaria em
verdadeira chacina, que ficou para sempre guardada nos anais da história de
guerra desses valorosos paraibanos contra a poderosa Coluna Prestes.
O discurso do
autor do livro não é um discurso autoritário, ditatorial ou mesmo demagógico, é
um discurso livre, democrático, que busca novas discursões, mas que traz a
verdade, ou pelo menos dela se aproxima, sem mentiras, invencionices,
extravagâncias, baseado na história real até mesmo em certos pontos diferindo
da história oficial, mas não em forma contundente, sim em trabalho
cuidadosamente organizado, de forma realmente consciente, de tudo para mostrar
ao leitor o que foi a trajetória vida do cidadão Manuel Arruda de Assis, um
verdadeiro exemplo para todos os seus familiares, um homem imortal para os
paraibanos, um exemplo a ser seguido por todos os homens de bem.
De parabéns,
portanto está o autor do livro, por resgatar a historia desse homem guerreiro
que tanto enobrece o solo desse tão importante Estado da Paraíba que tantos
ilustres personagens trás para o cenário brasileiro. Uma leitura que de igual
modo espero que todos gostem. Um livro que merece estar em todas as boas
bibliotecas.
Foi assim que
eu vi e senti do livro de Severino Coelho Viana.
Autor:
Archimedes Marques (Delegado de Policia no Estado de Sergipe. Pós-Graduado em
Gestão Estratégica de Segurança Pública pela Universidade Federal de Sergipe)
archimedes-marques@bol.com.br
Fonte: O
CANGAÇO EM FOCO
FONTE: http://clemildo-brunet.blogspot.com.br/2011/11/vida-do-cel-arruda-cagaceirismo-e.html
Enviado pelo professor e pesquisador do cangaço José Romero Araújo Cardoso
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