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quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A morte de Lampião e seus cabras - Parte III

 

Cabeças decepadas na casa do matador

O que mais impressiona ainda hoje não é a sanha com que os "macacos" correram para assegurar o butim que lhes cabia em face da derrota dos inimigos, mas a maneira cruel como agiram com os cadáveres, cortando-lhes as cabeças e exibindo-as como se fossem um troféu. Ao cortá-las colocaram-nas dentro de sacos de pano, embarcaram-nas no porto de Piranhas com destino a Maceió. Antes, porém, a encomenda macabra passou pela residência do Tenente João Bezerra, em Piranhas, pois o oficial fez questão de que sua mulher, Cyra Bezerra visse e reconhecesse a cabeça do "Cego", como chamavam Lampião. Eis o relato de Cyra, em entrevista concedida à Revista Manchete, em 28 de novembro de 1964, referida por Elise Grunspan-Jasmim:

"Um grupo de homens surgiu no fim da rua. Na frente deles eu vi Bezerra caminhando todo ensanguentado. Atrás vinham os seus soldados trazendo cabeças seguras pelos seus cabelos. Foi o quadro mais terrível que presenciei na vida. Corri para dentro, apavorada, e me debrucei no berço da minha filha. Não conseguia tirar as mãos do rosto. Foi quando senti entrar gente no meu quarto. Era Bezerra. Ele disse:

- Minha filha, venci. O cego está morto. Venha ver. Mas eu não tinha coragem de tirar as mãos do rosto. Bezerra insistiu:

- Você não quer ver? Olhe, eu estou ferido. Quando me levantei os soldados já estavam no quarto, muito alegres, jogando uns nos outros perfume encontrado com os cangaceiros. Dançavam e cantavam Mulher Rendeira. Eu tinha uma sensação estranha, um arrepio me passava pelo corpo todo. Minha filha no berço e os soldados dançando e cantando em volta dele. Tudo cheirava a suor e a perfume. Aquilo me sufocava. Peguei minha filha e corri para a sala(...) Nossa casa foi invadida. Todo o mundo queria ver as cabeças decepadas. Depois Bezerra olhou para mim e disse:

- Quero ver se você se lembra da cara de Lampião. Quando menina você o conheceu, não é verdade? O cheiro de sangue agora dominava o ambiente. Espalhados pelo chão se achavam os apetrechos dos cangaceiros. Onze cabeças decepadas e ensanguentadas se apoiavam no chão,contra a parede. Uma delas era Maria Bonita. A seu lado estava a de Lampião, com uma expressão de desespero. Disse comigo:

- Nunca mais vai haver Lampião. Sentia um grande alívio.

CONTINUA...

Fonte: Nordestevinteum - Edição nº 41- Dez.2012.

Gentilmente cedida pelo poeta, escritor e pesquisador do cangaço Kydelmir Dantas

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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