Exumados
os despojos de José Baiano e seus sequazes enterrados num formigueiro. A cabeça
do facínora temido! – o estado dos cadáveres – quase criança e já perigoso
delinquente – o regresso da caravana
“O Estado de
Sergipe” ouve o major Osvaldo Nunes, chefe de polícia.
Sabedores do regresso do major Osvaldo Nunes, zeloso chefe de Polícia do
Estado, que anteontem fora ao teatro da luta na qual os bandidos perderam a
vida, tratamos de procurar a distinta autoridade, que nos recebeu com a lhaneza
de trato que lhe é peculiar.
Sua Senhoria disse-nos, preliminarmente: - Não esqueça de explicar no seu
jornal que o Governo de Sergipe e as autoridades policiais tinham conhecimento
da ação que há meses se preparava para extinção do grupo de cangaceiros
chefiado por José Baiano, pois as volantes, quase sempre pressentidas, só podem
oferecer combate aberto, ao qual os bandidos ordinariamente fogem.
E acrescentou a ilustre autoridade: - Todos sabem que o desaparecimento de um grupo de cangaceiros é um benefício para a coletividade, diante do que esses homens, que expuseram a própria vida para eliminar os ferozes bandoleiros, só mereciam a ajuda eficiente dos poderes públicos.
Inquirimos então ao major chefe de Polícia:
- Havia vestígios da luta no local?
- Claro. Galhos quebrados, chão revolvido, tudo indicava a luta de vida e morte ali desenrolada, na qual só a arma branca foi utilizada.
- Não houve dúvida na identificação dos bandidos? – Perguntamos, do que obtivemos a seguinte resposta:
- Nenhuma. A identificação principal, que era a de José Baiano, foi perfeita, não só pelos sinais característicos do facínora, e conformação craniana, como pelo confronto feito com a fotografia do mesmo.
- E é intenção do governo premiar o esforço dos valentes sertanejos?
- Sim, disse-nos Sua Senhoria, no entanto por ora nada posso dizer de positivo.
Terminando a rápida entrevista, o major Osvaldo Nunes teve as seguintes palavras:
- O governo está providenciando com urgência o reforço policial das localidades mais assoladas pelo banditismo, apesar das dificuldades oriundas do pequeno efetivo da tropa, especialmente Alagadiço, Carira, Pinhão e outros pontos distantes, de difícil comunicação.
Conforme
dissemos em nossas edições anteriores, às 5 horas da manhã de anteontem, uma
caravana composta do major Osvaldo Nunes, chefe de Polícia, seu assistente
militar, tenente Ulisses Vieira, comandante Rivaldo Brito, senhor Raimundo
Carvalho, oficial de gabinete do governador Eronides de Carvalho, tenente
Afonso Mota e Oscar Pinho, Dr. Carlos Menezes, médico legista da Polícia, os
sertanejos Antônio Pereira e Pedro Guedes, que tão saliente papel tiveram na
dizimação do bando de José Baiano, fotógrafo Artur Alves Costa, escoltados por
um contingente composto de 15 soldados da milícia estadual, viajou de automóvel
para o local onde se dera o desforço que redundou no aniquilamento total do
perigoso grupo de bandoleiros chefiado pelo célebre José Baiano, a fim de
proceder às medidas julgadas necessárias pela lei para comprovação do ocorrido,
entre as quais, a exumação dos cadáveres dos quatro facínoras desaparecidos.
A estrada, devido às últimas chuvas, retardou um pouco a chegada a São Paulo, que se deu às oito e trinta horas. Aí, após servirem-se de um lanche reconfortador, descansaram os servidores da lei até as 10 horas, rumando em seguida para Alagadiço, que alcançaram às 12 horas, onde se apearam e continuaram a marcha a pé, em vista das dificuldades que a estrada oferecia para a passagem dos veículos.
O LOCAL DA
TRAGÉDIA
Às 12 e meia
precisamente chegavam o chefe de Polícia e seus companheiros à Lagoa Nova, onde
se deu a luta que resultou no benefício social da extinção de José Baiano e
seus caibras.
ISOLANDO O
LOCAL
O comandante
Rivaldo Brito ordenou providências para que o local fosse isolado, valendo-se
para este fim da tropa volante que, sob o comando do sargento Epaminondas,
viera de Carira e se juntara, à saída de Alagadiço, aos 15 homens do
contingente.
EXUMADO OS
CADÁVERES
Após o
isolamento, o Dr. Carlos Menezes mandou que dois trabalhadores das cercanias
abrissem a cova onde jaziam os bandidos, no que foi coadjuvado pelos sertanejos
Antônio de Chiquinha e Pedro Guedes, que apontavam onde devia ser feita a
escavação. Verificou-se que os bandidos haviam sido enterrados num formigueiro,
por ser de areia frouxa, mais fácil portanto para ser cavada...
A CABEÇA DE
JOSÉ BAIANO
Logo mais, a
picareta de um dos homens trouxe a descoberto a cabeça separada do tronco, do
bandido José Baiano, ainda perfeitamente reconhecível, apesar de cheia de
areia. O doutor Carlos Meneses lavou a cabeça do facínora temido, que tantos
males concebera e praticara, transparecendo então uma fisionomia morena,
cabelos crescidos e encaracolados, boa dentadura, onde faltava apenas um dente,
que foi incontinenti fotografada. Prosseguindo a escavação, surgiu o corpo de
um bandoleiro, tipo atarracado, alvo, que entrara recentemente no grupo. Também
foi fotografada. O segundo corpo a surgir foi o de um bandido corpulento,
claro, aquele, no dizer de Antônio de Chiquinha, que mais reagiu na luta e que
semimorto, ainda quis empunhar o fuzil. O terceiro corpo estava em adiantado
estado de desagregação, e era de um rapazinho há tempos integrante do grupo.
Por último apareceu, decepado, o tronco de José Baiano, revelando uma forte
compleição física. Trajava mescla azul, camisa de quadrinhos da mesma cor e
culote.
HORRÍVEL MAU
CHEIRO
Devido aos
vários dias já decorridos desde a consumação do trágico episódio, os despojos
exalavam horrível odor, tornando a atmosfera quase irrespirável, apesar da água
de colônia e outros perfumes e desinfetantes que os presentes utilizavam a fim
de assistir aos trabalhos.
GRANDE
AFLUÊNCIA AO LOCAL
Durante o
decorrer da diligência policial, chegavam, continuadamente, grupos de curiosos
procedentes das cercanias e até de Itabaiana, São Paulo, Alagadiço e Carira.
O REGRESSO
A caravana
policial regressou incontinenti, chegando a esta cidade cerca das vinte e uma
horas e alguns minutos.
Fonte: facebook
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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