Por Hélio Pólvora
Lampião tinha
leituras, mostrava-se atilado. Admirador de Napoleão, a partir do chapéu, do
qual, com a contribuição de Dadá, criou a variante com estrelas e medalhas, e
chegado a igrejas e bênçãos de padres, porque na caatinga espinhenta o
misticismo era um bálsamo antes dos teólogos da libertação e dos sem-terra do
Sr.Lula da Silva; Lampião, o maior e o mais midiático dos nossos muitos
bandidos amava a visibilidade, o aparato dos ricos.
Estaria
explicada, assim, a opção pelo crime. Os trajes pomposos e fidalgos, de seda
estrangeira, o ouro e a prata são a montra instalada para que os cangaceiros
fossem vistos, admirados, entronizados. Vingavam-se também por esse lado da
exclusão social no semiárido dos patriarcas e políticos esbulhadores.
Servido uma
vez por uma velha de 80 anos que havia abatido uma galinha, Lampião viu um
companheiro que queria carne vermelha sair, voltar com uma cabra morta e gritar
à hospedeira:
- Prepare logo,
velha!
Ai, chorou a
velha.
- Era a minha última, a do leite dos netinhos!
- Pague a cabra,
ordenou o chefe, de vista baixa sobre o ensopado de galinha.
Irritado, o
cangaceiro atirou umas moedas sobre a mesa.
-Tome. Dou de
esmola.
- Pague a
cabra, insistiu o chefe, ainda a comer.
- Mas já
paguei, Lampião.
“- Pagou não.
Esse dinheiro foi de esmola. Você mesmo disse.
Dr. Plínio
Sodré, médico baiano especializado em ultrassonografia, conta que Lampião
entrou em Piritiba com um companheiro ferido. O médico mais próximo, Carlos
Ayres, primo carnal do ministro Ayres Britto, que veio a ser presidente do
Supremo Tribunal Federal, morava no povoado de França. Havia uma senhora
gravemente enferma. Lampião mandou aviar cavalo com duas padiolas laterais e
levar os dois, com recomendações de muito cuidado com a mulher.
O rei do
cangaço tinha um lado bom. Mas vê-lo à luz do puro maniqueísmo de palor
romântico é um erro. Com ele conviviam o estuprador, o saqueador, o assassino
que soltava presos, alinhava soldados e os fuzilava, tal e qual o Guevara do
paredón cubano, por quem a esquerda brasileira tanto se apaixonou. Se Lampião
adotou táticas de guerrilha, não o fez instado por atitude ideológica. Apenas
fugia das volantes que o caçaram até o ataque final na Grota do Angico.
Neste
episódio, a tropa do tenente João Bezerra da Silva — 48 meganhas com metralhadoras
portáteis — e ele próprio portaram-se com uma selvageria em nada inferior à que
o tempo tece sobre heróis e vilões. Desentranhar a verdade do aranzel de lendas
e fatos é carregar água em cesto. De qualquer modo, o cangaço prossegue com
outro rótulo, e outras vestes, e polidos senhores proprietários de sesmarias e
mansões.
http://www.vidaslusofonas.pt/lampiao.htm
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