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segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

“O GLOBO” – 28/09/1927

Material do acervo do pesquisador Antônio Corrêa Sobrinho

A PSICOLOGIA DO CANGACEIRO
O BANDITISMO NOS SERTÕES DO NORDESTE BRASILEIRO
UM ENSAIO POLÍTICO-SOCIAL
(Especial para o GLOBO)

CAPÍTULO IV

A AÇÃO DA POLÍCIA PERNAMBUCANA - CANGACEIROS MORTOS E CAPTURADOS

Até bem pouco tempo nenhuma providência eficaz havia tomado os governos dos Estados nortistas para um combate sério e decisivo ao cangaceirismo, dando-se a circunstância de que um dos motivos que mais dificultava a ação das autoridades em perseguição aos bandoleiros, era o da impossibilidade de continuarem essa perseguição em território de outro Estado, quando os bandidos, perseguidos de perto, atravessam os limites do Estado onde operava e internavam-se em outro.

Mas, depois que o Dr. Estácio Coimbra assumiu o governo de Pernambuco, um dos seus primeiros cuidados foi convocar uma reunião dos chefes de polícia dos Estados vizinhos: Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas e Bahia, a fim de tomarem providências em conjunto para uma perseguição sem tréguas ao celebérrimo Virgulino Ferreira da Silva, vulgo “Lampião”, seus comparsas, e chefes de outros bandos de criminosos.

Nessa reunião, que se realizou em Recife, sob a presidência do Dr. Eurico de Souza Leão, chefe de polícia de Pernambuco, ajustou-se um convênio pelo qual todos os Estados que tomaram parte nela se obrigavam a manter um certo número de praças nos sertões, em perseguição aos cangaceiros, auxiliando-se mutuamente por informações telegráficas sobre o paradeiro dos mesmos e marcha das operações, podendo qualquer força de um Estado atravessar o território do outro, requisitar cavalos, mediante indenização aos seus proprietários, para perseguir os bandidos em fuga, bem como outras providências de caráter secreto.

Esse convênio foi assinado em dezembro de 1926, dois meses depois de ter assumido o governo de Pernambuco o Dr. Estácio Coimbra, sendo natural que só tivesse entrado em execução algum tempo depois, para serem tomadas as medidas assentada em conjunto, pelos governos dos respectivos Estados; e, quanto a Pernambuco, o Dr. Estácio Coimbra não podia ter escolhido, para auxiliá-lo nessa campanha patriótica, um chefe de polícia mais competente e ativo do que o Dr. Eurico de Souza Leão.

Já conhecemos o Dr. Eurico trabalhando aqui no Rio como advogado, notável, e aliando a uma inteligência culta um trato fidalgo que, aliás, é apanágio da numerosa família Souza Leão, de Pernambuco, cujos membros ocuparam altas posições no antigo regime, quer na agricultura, sendo seu chefe político o senador e conselheiro de Estado, Luiz Felipe de Souza Leão. Conhecemo-lo igualmente como delegado auxiliar da comissão do Senado à Conferência Internacional Parlamentar de Comércio que se reuniu em Londres no ano passado, sob a presidência do senador Rosa e Silva, missão da qual se desempenhou com brilhantismo. Mas nunca julgamos que o novel advogado e diplomata se dedicasse com tamanho ardor à tarefa ingrata e trabalhosa de chefiar o departamento policial de Pernambuco, ao ponto de se estar revelando não só um profissional em matéria criminal, o que teremos ocasião de apreciar, como também um emérito administrador na repartição que lhe foi confiada.

Em menos de dois meses, após a assinatura do convênio, o chefe de polícia de Pernambuco tinha cerca de 1300 policiais espalhados pelas principais cidades, vilas e povoados do sertão pernambucano, preferindo os pontos estratégicos, além de uma força volante e montada no encalço de Lampião.

Toda essa força que, “pela primeira vez em número tão avultado”, defende a população sertaneja, foi confiada ao comando geral do major Theophanes Torres, o capturador de Antônio Silvino. Bastante conhecedor dos sertões nordestinos, esse comandante, tendo embora autonomia para agir por si, conforme as circunstâncias supervenientes, recebe todavia instruções diretas da Chefatura de Polícia de Pernambuco, que se tornou como que o centro de onde irradiam todas as ordens, de acordo com as informações que o Dr. Souza Leão vai recebendo dos seus colegas e dos governadores dos outros Estados, entre os quais devemos salientar os doutores Costa Rego e João Suassuna, governadores de Alagoas e Paraíba, que o têm auxiliado eficazmente.

O resultado não se fez esperar. Acossados por todos os lados, Lampião e os facínoras do seu grupo viram-se forçados a enfrentar algumas vezes as forças que os perseguiam; e, em cada encontro, diversos cangaceiros caíram mortos ou prisioneiros nos combates travados, escapando sempre o famigerado Lampião, porque, apesar de suas bravatas, é sempre o primeiro a fugir, enquanto os seus companheiros lutam com a força pública.

A estatística que damos abaixo, de cangaceiros mortos em combate ou prisioneiros, desde o início do citado convênio pernambucano, demonstra de modo iniludível o esforço enorme que tem desenvolvido o chefe de polícia de Pernambuco, principalmente tendo-se em vista o elevadíssimo número desses criminosos que infestavam os sertões do Nordeste.

Organizamo-la, em primeiro lugar, com uma entrevista concedida ao vespertino “A Rua”, de Recife, pelo esforçado major Theophanes Torres, comandante das forças que operam nos sertões; e, em seguida, com as notícias publicadas pelos jornais de Pernambuco e telegramas transmitidos de diversos pontos do Norte para as folhas cariocas, entre as quais o GLOBO é a que mais informes nos tem fornecido.

É preciso notar-se que o convênio de Pernambuco teve lugar em dezembro de 1926. Pois bem, daquela data até agosto findo, foram mortos os capturados os seguintes cangaceiros:

EM DEZEMBRO DE 1926

1. Sérgio Nogueira, do grupo de Lampião, morto em combate pela força do tenente Lira Guedes, no município de Petrolina.
2. Um tal “Pitombeira”, do grupo de Horácio Novais, morto em combate pela força do anspeçada Hercílio Nogueira, em Floresta.
3. Manoel Marcolino, vulgo “Bom deveras”, comparsa terrível de Lampião, e depois chefe de outro grupo, morto em combate pela força do sargento Afonso Rodrigues, em Jardim (Ceará).
4. Alcides de tal, comparsa do bandido “Bom deveras”, ferido e capturado no município de Exu.
5. Domingos Alves Pereira, criminoso de morte, capturado no município de Floresta pela força de Cabrobó.

EM JANEIRO DE 1927

6. Melchiades de tal, comparsa do bandido Manoel Francisco, morto em combate pela força do tenente Alípio, no município de Exu.
7. José da Costa, do grupo de Lampião, morto em Vila Bela.
8. Manoel de Velho, chefe de grupo no estado da Bahia, morto em combate pela força do cabo Liberato, no município de Tacaratu.
9. Jose Elísio dos Santos, criminoso de morte, capturado em Alagoa de Baixo pela força do sargento João Francisco.
10. Artur Gomes, vulgo “Beija Flor” do grupo de Lampião, capturado pela força do tenente Amadeu, no município de Tacaratu.
11. Luiz Barbosa, vulgo “Luiz Danga”, comparsa de “Bem deveras”, capturado pela força do tenente Alípio, no município de Bodocó.
12. Francisco Lopes Bezerra, vulgo Francisco Quirino, criminoso de morte, capturado pela força do capitão Malta, no município de Flores.
13. José Alves da Silva, criminoso de morte, capturado pelo mesmo capitão Malta.
14. Manoel Joaquim da Silva, vulgo “Manoel da Glória”, criminoso de morte, capturado pela força do capitão Malta.
15. Luiz José do Nascimento, criminoso de morte, capturado pela força do capitão Malta.
16. Manoel Pereira Lima, criminoso de morte, capturado pela mesma força do capitão Malta.
17. Manoel Francisco Menezes, vulgo “Temível”, comparsa do bandido Horácio Novais, capturado pela força do tenente Antônio Francisco, no município de Floresta.
18. Antônio Luiz dos Santos, vulgo “Marreta", comparsa do bandido Elias Zura, capturado no município de Floresta.

EM FEVEREIRO DE 1927

19. Marçal de tal, vulgo “Mosqueiro”, do grupo de Lampião, morto em combate pela força do subdelegado de Ipueiras, no município de Leopoldina.
20. João Camelo, do grupo de Lampião, morto em combate pelo destacamento de Betânia, no município de Floresta.
21. Pedro Romualdo, vulgo “Formiga”, do grupo de Lampião, morto em combate com a força do tenente Amadeu, no município de Tacaratu.
22. Bandido conhecido por “Feroz”, do grupo de Lampião, morto em combate com a força do subdelegado Domingos Nogueira, no município de Belém.
23. Máximo de tal, comparsa dos celerados Sebastião Pereira e Marinheiro, morto em combate no município de Floresta.
24. Severino Vicente, comparsa do bandido “Mocinho Codé”, morto em combate com a força do tenente Alencar, no município de São José do Egito.
25. Jacinto Calixto, chefe do grupo no estado da Bahia, morto em combate com a força do tenente Manoel Neto, em Floresta.
26. Sebastião Guedes, criminoso de morte no município de Exu, onde foi capturado pela polícia local.
27. Antônio Serafim de Lima, criminoso de morte no município de Flores, onde foi capturado pelo capitão Malta.
28. Joaquim Francisco Cavalcanti, vulgo “Joaquim de Noca”, criminoso de morte no município de Flores, capturado pela força do capitão Malta.
29. Pedro Pio, comparsa do bandido “Mocinho Godé”, criminoso de morte em Afogados de Ingazeira pelo tenente Alencar.
30. Antônio Corrêa, criminoso de morte no município de Afogados de Ingazeira, onde foi capturado pela força do tenente Alencar.
31. Miguel Correa, irmão do anterior, criminoso de morte, capturado pela mesma força do tenente Alencar.
32. José Bernardino, vulgo “Peba”, criminoso de morte, capturado em Afogados de Ingazeira pelo tenente Alencar.
33. Mariano Lopes, vulgo “Mariano Neto”, criminoso de muitas mortes, capturado n município de Ouricuri pelo destacamento local.
34. Fuão Bernardo, criminoso de morte em São José do Egito, onde foi capturado pela força do tenente Ibraim.
35. José Virgulino Vieira, criminoso de morte no município de Salgueiro, onde foi capturado pelo destacamento local.

EM MARÇO DE 1927

36. Hermano de tal, comparsa do bandido Emiliano Novais, morto em combate com a força do tenente Alípio, no município de Boa Vista,
37. Manoel Porcino, temível chefe de grupo no estado de Alagoas, e ali criminoso de diversas mortes, morto em combate com a força do anspeçada Manoel Rodrigues de Carvalho no município de Salgueiros.
38. Manoel Soares de Caldas, vulgo “Ventania”, do grupo de Lampião, capturado em Floresta pela força do tenente Gomes.
39. José Marques da Silva, criminoso de morte em Vila Bela, onde foi capturado pela força do cabo Domingos Gomes.
40. Francisco Miguel, vulgo “Pássaro Preto”, do grupo de Lampião, criminoso de morte em Floresta, onde foi capturado pelo destacamento local.
41. Manoel Pereira da Silva, criminoso de morte em Afogados de Ingazeira, onde foi capturado pelo tenente Alencar.
42. Jovino Martins Gomes, chefe de grupo com o bandido Elias Zuza, criminoso de morte em Floresta, onde foi capturado.
43. Aurelino Thiago da Silva, criminoso de morte em Floresta, onde foi capturado pelo destacamento local.
EM ABRIL DE 1927
44. Manoel frutuoso, comparsa do bandido Manoel Francisco, morto em combate com a força do tenente Alípio, no município de Granito.
45. Severino Canoa, comparsa do bandido Manoel Rodrigues, morto em combate com a força do tenente Alencar, em São José do Egito.
46. Cícero Nogueira, do grupo de Lampião, morto em combate com a força do cabo Gouveia, em São José do Egito.
47. Sátiro Nogueira, irmão do antecessor, do grupo de Lampião, morto em combate com a força do sargento José Alves de Barros, no município de Tacaratu.
48. Eliziário de tal, vulgo “Barra Nova”, temível bandido do grupo de Lampião, morto em combate com a força do sargento Manoel Neto, na Serra Uman.
49. João Marreca, criminoso de muitas mortes, morto em combate com a força do sargento Manoel Neto, na Serra Uman.
50. Sebastião Raimundo, vulgo “Três Cocos” do grupo de Lampião, capturado em Vila Bela.
51. Laurindo Gaia, vulgo “Sucena”, capturado com o anterior.
52. Antônio Gaia, também de grupo de Lampião, e irmão do anterior, capturado na mesma ocasião.
53. Emiliano Novais, de grupo de Lampião, capturado em Floresta.
54. Zizuino Ribeiro, vulgo “Zizuino Pequeno”, do grupo de Lampião, capturado no município de Floresta.
55. Manoel Liberal, criminoso de morte, capturado em Afogados de Ingazeira pela força do tenente Alencar.
56. José Rodrigues, idem, capturado pelo mesmo tenente Alencar.
57. Arlindo Pereira da Cruz, criminoso de morte, capturado em Salgueiros.
58. José Barbosa, criminoso de morte, capturado em Belmonte pela força do sargento Francisco David.
EM MAIO DE 1927
59. José Patriota, perigoso chefe de grupo, criminoso de diversas mortes, morto em combate com a força do tenente Alencar, em São José do Egito.
60. João Patriota, irmão do antecessor, morto no mesmo combate.
61. Manoel Nogueira, vulgo “Paturi”, do grupo de Lampião, morto em combate com a força do sargento Arlindo Rocha, no estado do Ceará.
62. Oliveira de tal, vulgo “Criança”, morto no combate anterior.
63. José Quixabeira, criminoso de morte em Floresta, capturado pela força do destacamento local.
64. Joaquim Alves dos Santos, capturado como criminoso de morte Floresta.
65. Epifânio Bezerra, criminoso de morte em Salgueiros, onde foi capturado pelo sargento Arlindo Rocha.
66. Manoel Francisco de Souza, vulgo “Manoel Goela”, criminoso de morte capturado em Tacaratu, pela força do tenente Miranda.
67. Pedro Francisco de Souza, irmão do antecessor, capturado na mesma ocasião, pelo tenente Miranda, como criminoso de morte.
68. Manoel Martins, criminoso de morte, capturado pelo tenente Alencar.
69. José Sá Dezinho, idem, capturado em Floresta pela força local.
70. Luiz Severo da Silva, idem, capturado em Vila Bela, pela força local.
71. Plácido Silva, criminoso de morte, capturado em Tacaratu, pelo tenente Miranda.
72. José Levino Silva, idem, capturado pelo mesmo tenente Miranda.
73. João Rodrigues, vulgo “Francisco Luz”, criminoso de morte em Ouricuri, e capturado pela força baiana em Boa Vista.
74. José Souza Leite, criminoso de morte em Alagoas, e capturado em Tacaratu, pelo tenente Miranda.
75. Januário Sebastião Souza, vulgo “Januário Pequeno”, criminoso de morte em Flores, onde foi capturado pela força local.
76. Manoel de Oliveira, idem, capturado em Floresta.
77. Gregório Gomes, idem, capturado em Floresta.
78. Ignácio Moisés, vulgo “Ignácio pequeno”, do grupo de Lampião, capturado em Floresta.
79. Pedro Fortunato, também do grupo de Lampião, capturado em Floresta.
80. Jovino Sabino da Silva, idem, idem, capturado em Floresta.
81. Luiz David, vulgo “Luiz Rajado”, do grupo do falecido cangaceiro Casemiro Honório, capturado em Floresta.
82. João David, irmão do antecessor, idem, também capturado.
83. Joaquim David, outro irmão, também criminoso de morte e capturado.
84. Isidoro Honorato, idem, idem, capturado.
85. Antônio Honorato, irmã do antecessor, também criminoso e capturado.
86. Cornélio de Souza, criminoso de morte e capturado.
87. Hosano Vitorio de Souza, idem, idem, capturado.
88. Raimundo Paciente Rodrigues, idem, idem, capturado.
89. José Nunes da Cruz, idem, idem, capturado.
90. José Liberato de Moura, idem, idem, capturado.
91. Ângelo Pereira Leal, idem, idem, capturado.
92. Odilon Freire da Silva, idem, idem, capturado.
93. Oscar Freire da Silva, irmão do antecessor, idem, idem, capturado.
94. Manoel Torquato de Amorim, idem, idem, capturado.
95. Manoel Sebastião de Souza, vulgo “Manoel Pequeno”, temível bandido, célebre em todo o sertão, chefe de grupo, e depois companheiro de Lampião, capturado em Floresta.
96. João Donato, vulgo “Gavião”, comparsa de Lampião, capturado pelo anspeçada Antônio Joaquim, tendo declarado cinicamente ter tomado parte, com seu chefe Lampião, em “35 assassinatos”, durante a sua vida de cangaço.

Como esta lista já está longa, deixamos para outro artigo a continuação, referente aos meses de junho, julho e agosto.

Aí temos “25” bandidos mortos em combates com as forças pernambucanos, e 71 “prisioneiros”, dos quais 26, entre mortos e presos, do grupo de Lampião.
Justiniano de Alencar.


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Fonte: facebook
Página: Antônio Corrêa Sobrinho

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