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quinta-feira, 2 de abril de 2015

NAS TRILHAS DO CANGAÇO EM FLORESTA DO NAVIO. “FAZENDA TAPERA, DA FAMÍLIA GILO: VÁRIOS CORPOS SEM VIDAS’”.

Por João de Sousa Lima

Dia 31 de março de 2015 (por coincidência, 169 anos da emancipação política de Floresta, que aconteceu em 31 de março de 1846), eu, Marcos Antônio de Sá “Marcos De Carmelita”,  Cristiano Luiz Feitosa Ferraz, Manoel Serafim Ferraz Cornélio, Edmilson Rodrigues Fontes “Site Sertão Eventos e a professora Silvana, vistamos alguns pontos históricos que retratam a passagem do cangaço na cidade. Fomos a casa do chefe político Antonio Boiadeiro, que fez o acordo dos Ferreiras de Nazaré, após Livino ser baleado e preso. Livino foi libertado após o acordo e a saída dos Ferreiras para Alagoas. Fomos ao prédio onde Livino foi preso e hoje funciona os correios. Em frente aos correios morou Theófanes Ferraz Torres. Visitamos também o prédio que era a sede das forças volantes.

 Depois saímos de Floresta, em direção a fazenda Tapera, antigo reduto da família GILO. Nessa localidade, em 1926, aconteceu um dos mais cruéis ataques de cangaceiros a famílias daquela região.

Em dezembro de 1925 o senhor Gino Donato do Nascimento descobriu que 12 burros de sua propriedade tinham desaparecidos. Manoel Gilo, filho mais velho de Gilo Donato, seguiu as pistas dos animais indo encontra-los em Lavras de Mangabeira, Ceará, em posse do coronel Raimundo Augusto, que havia comprado os animais de Horácio Grande.

A verdade é que Horácio Grande foi processado e preso por esse roubo e depois jurou matar Gilo Donato.

Tempos depois realizou um frustrado ataque a residência de Gilo onde saiu baleado e perdeu o comparsa apelidado de Brasa Viva.

Horácio Grande depois entrou no bando de Lampião e através de seu irmão e sua esposa forjou cartas falsas como se fossem de Gilo Donato afrontando o Rei do Cangaço.

No dia 26 de agosto de 1926, quinta-feira, às 4 horas da manhã, Lampião com um grupo em torno de 120 cangaceiros, atacou a fazenda Tapera. Um longo tiroteio rompeu o silencio do local. Por horas as pessoas da vizinha Floresta ouviram os tiros ecoando.

O capitão Antônio Muniz de Farias, comandante das forças volantes que estavam na cidade, não mostrou coragem pra ir lutar contra os cangaceiros e defender a família Gilo.

Quando a casa da sede se encontrava quase totalmente destruídos e vários mortos banhavam de sangue seus compartimentos, Lampião comandou a invasão a residência.

Manoel Gilo foi capturado ainda vivo, estando morto seu pai Gino Donato, o irmão Evaristo, o cunhado Joaquim Damião e Ângelo de Rufina.

Na estrada ficaram mortos Permino, Henrique (casado com uma irmã de Gilo), Zé Pedro, Ernesto (da fazenda São Pedro), Janjão, Alexandre Ciriaco (morto quando tentava defender os Gilos e que tinha vindo da fazenda São Pedro), Pedro Alexandre (na Barra do Silva).

Ainda tombou morto um soldado que havia ido com Mané Neto, que mesmo estando baleado e com poucos homens sob seu comando, mesmo assim contrariou as ordens do capitão Muniz e foi tentar salvar a família Gilo.

Com a quantidade de cangaceiros sendo muito superior ao grupo de Mané Neto ele comandou uma retirada.

Lampião pegou Manoel Gilo e perguntou o porquê dele mandar as cartas confrontando Lampião. Manoel Gilo respondeu que era analfabeto e não sabia escrever; nesse momento Horácio Grande pegou a pistola e atirou, matando Manoel Gilo. Só ai Lampião percebeu a trama que Horácio o havia colocado. O Rei do Cangaço o expulsou na hora do seu bando.

Consta que Lampião saiu lamentando tardiamente do assassinato de tantas pessoas inocentes, arrependimento tardio.

Horácio sumiu e nunca mais deu notícias. Seu parente Emiliano Novaes continuou no bando, só deixando o cangaço quando seu sogro, o coronel Antonio Boiadeiro e o padre José Kehrle, pediram para que ele seguisse outra vida.

Daquele cruel morticínio, só escapou o jovem, de 15 anos de idade, Cassimiro Gilo, que havia ido comprar açúcar e rapadura no Ceará.

Hoje a filha de Cassimiro, a senhora Djalmira Maria de Sá, relembra os fatos narrados por seu pai. Ela nos levou aos escombros da casa onde houve o combate e ao pequeno cemitério sem cruzes que guarda os ossos e as lembranças de inocentes que tombaram diante da fúria vingativa de uma carta pérfida escrita por um desejo de vingança que envolveu pessoas inocentes e manchou de sangue o solo imaculado da fazenda Tapera, reduto eterno dos Gilos, geração à geração, tempo a tempo...

João de Sousa Lima
Membro da SBEC – Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço
Conselheiro do Cariri Cangaço
Membro da ALPA- Academia de Letras de Paulo Afonso.

Marcos, Manoel, João Lima e Cristiano
Casa onde residiu Theófanes Torres


Local onde Livino ficou preso
Prédio onde ficam as volantes


Dona Djalmira de Sá mostra o local onde houve a chacina


Marcos de Carmelita aponta onde os corpos foram enterrados






João de Sousa Lima é escritor, pesquisador, autor de 09 livros. Membro da Academia de Letras de Paulo Afonso e da SBEC- Sociedade Brasileira de estudos do Cangaço. Telefones para contato: 75-8807-4138 9101-2501 email: joaoarquivo44@bol.com.br joao.sousalima@bol.com.br

http://www.joaodesousalima.com/2015/04/nas-trilhas-do-cangaco-em-floresta-do.html

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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