Seguidores

sábado, 16 de maio de 2015

Considerações acerca de Benedito Vasconcelos Mendes, o grande sábio do semiárido

Por José Romero Araújo Cardoso

Tive primeiros contatos com a obra de Benedito Vasconcelos Mendes através de títulos da Coleção Mossoroense que eram-me regularmente enviados pelo grande mecenas Jerônimo Vingt-un Rosado Maia. Na época, meados da década de noventa do século passado, residia em João Pessoa, capital paraibana.

Despertou-me interesse em conhecer o autor dos trabalhos magistrais, cujo enfoque centrava-se em busca de tecnologias que permitissem melhor convivência do homem com as adversidades apresentadas pela região que elegi como prioritária para meus estudos, bem como, ainda, significativa ênfase à importância da escolha certa com relação a animais domésticos que permitissem melhorias econômicas significativas para o plantel regional.

Quando de aprovação em concurso para docente realizado pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, lotado no Departamento de Geografia do Campus Central, tive o prazer de conhecer Benedito Vasconcelos Mendes e firmarmos sólida amizade, pois também foi aprovado em concurso público para a mesma unidade funcional da supramencionada instituição de ensino superior.

Professor e escritor Benedito Vasconcelos Mendes

Durante dois anos, Benedito Vasconcelos Mendes esteve à frente da direção da EMBRAPA-Meio Norte, servindo com galhardia ao povo sertanejo, em Teresina-PI, assumindo cátedra somente no ano 2000.

Regressando a Mossoró, reencontrei-me com o grande sábio do semiárido nos corredores da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Sorriso largo no rosto, sempre disposto a tratar bem seus semelhantes, simples, humilde e humano ao extremo, indaguei-lhe se gostaria que fosse meu orientador no mestrado em desenvolvimento e meio ambiente, o qual estava submetendo-me à seleção. Respondeu-me, sem titubear, que sim, pois há tempos imemoriais tinha o desejo em desenvolver trabalho conjunto, tendo em vista que também recebia minhas publicações da Coleção Mossoroense, tendo pleno interesse na área que me fascina, qual seja, o estudo do Nordeste brasileiro, com ênfase à porção semiárida.

Tornamo-nos amigos particulares, respeitosos com total reciprocidade, pois passamos a nos encontrar com frequência em razão do trabalho docente, encontrando-nos a ministrar disciplinas para alunos do curso de licenciatura em geografia do campus central.

Benedito Vasconcelos Mendes é um ser humano formidável, fácil de fazer amizade, aberto ao diálogo, amante das coisas do sertão, amigo extraordinário e um magistral democratizador de conhecimento, de raros dotes, na expressão literal do termo.

Aprovado na seleção para o mestrado em desenvolvimento e meio ambiente, cujo projeto de pesquisa enfatizou a importância da caprino-ovinocultura em assentamentos rurais de Mossoró, tive a grata satisfação de tê-lo não apenas como orientador, mas também como professor em algumas disciplinas, sendo profícuo o acúmulo de novos conhecimentos, tanto em sala de aula como em viagens de estudo de campo.

Realizamos ainda viagem ao núcleo caprino-ovinocultor baiano, pois convidado para participar de evento no município de Jussara, localizado na região de Irecê, levou-me consigo a fim de que eu pudesse dimensionar a importância da atividade pecuária de pequeno porte no Nordeste brasileiro.

Defendida com nota excelente, minha dissertação de mestrado tornou-se título da Coleção Mossoroense para orgulho de Benedito Vasconcelos Mendes, o grande sábio do semiárido.

Avançamos nos estudos sobre o Nordeste, resultando em proposta extensionista sobre o pensamento do cientista brasileiro Josué de Castro, cujo legado ainda se encontra obliterado pelos ditames da ditadura militar.

Produzimos e publicamos diversos trabalhos em conjunto sobre a atualidade do grande legado do saudoso pernambucano que fez história e se tornou uma das mais importantes personalidades do planeta.

Enfatizando a história regional, trabalhamos a seis mãos, em parceria com a professora Susanna Goretti Lima Leite, aspectos da vida conturbada do cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. O resultado de nossas pesquisas também foi publicado pela Coleção Mossoroense.

Padrinho de Jerônimo Vingt-un Menandro, Benedito Vasconcelos Mendes e Susanna Goretti Lima Leite são compadres queridos por quem nutro amizade, respeito e consideração infinitos.

Inúmeras vezes nos encontramos na residência das 17 tamarineiras, localizada na Rua Jorge Coelho de Andrade, para visitarmos o saudoso mecenas mossoroense Jerônimo Vingt-un Rosado Maia e sua grande e eterna companheira Professora América Fernandes Rosado Maia. Nas ocasiões, as conversas descontraídas geralmente descambavam para assuntos referentes ao Nordeste brasileiro, paixão de todos que se encontravam naquelas rodas de amigos.

Possuidor de visão larga e clarividente, Benedito Vasconcelos Mendes dimensionou a importância da preservação da luta árdua do sertanejo a fim de fomentar o que ficou conceituado como Civilização da Seca, sendo responsável pela estruturação do museu do sertão da fazenda Rancho Verde.

O museu do sertão é a mais impressionante experiência de preservação da engenharia empírica sertaneja, a qual foi criada a fim de viabilizar a sobrevivência perante a inclemência das secas dilacerantes que atormentam imemorialmente a gente sertaneja.

Escritor, possuidor de um estilo ímpar e direto, Benedito Vasconcelos Mendes vem contribuindo significativamente à busca de soluções para problemas que afligem a região. Nos últimos tempo, seus livros vem enfocando aspectos socioculturais da denominada civilização da seca, a exemplo de arte e cultura no sertão e culinária sertaneja, importantes documentos que enfatizam a grandeza da produção humana no semiárido.

Ser convidado por Benedito Vasconcelos Mendes para proferir palestras para professores e alunos de escolas que regularmente visitam o museu do sertão, transformou-se em um dos mais significativos momentos de minha vida acadêmica, tendo em vista que as atividades desenvolvidas são realizadas em conjunto com o Departamento de Geografia.

Admirador incondicional da sublime arte do sobralense Belchior, conterrâneo e amigo de infância de Benedito Vasconcelos Mendes, não canso de ouvi-lo falar sobre o gênio cearense que conquistou o mundo e que, assim como Benedito Vasconcelos Mendes, levou o nome da cidade natal a patamares elevados do respeito mundial.

Benedito Vasconcelos Mendes, grande sábio do semiárido, pessoa da minha mais alta estima, compadre, amigo particular e colega dos quadros da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, destaca-se, acima de tudo, por ser uma figura humana com poucos precedentes nos anais da história sertaneja, pois ao lado de Jerônimo Vingt-un Rosado Maia, Nilo Coelho, Felipe Guerra, Paulo Guerra, Guimarães Duque, Joaquim Osterne Carneiro e outros, vem notabilizando-se pela luta sem trégua em prol da região e da grande gente sertaneja.

José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Escritor. Professor-Adjunto IV do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial (UFPB) e em Organização de Arquivos (UFPB). Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA/UERN).

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário