Seguidores

terça-feira, 28 de julho de 2015

TRAUMAS DA VIDA: A EX-CANGACEIRA QUE SILENCIOU

Por Antonio José de Oliveira

Na pesquisa que venho realizando com o objetivo de escrever um livro a respeito da saga do cangaço, e analisando os muitos fatos ocorridos nas vidas dos jovens que embrenharam caatinga adentro em busca de perigosas aventuras, deparei-me com a história e a imagem de um semblante triste de uma senhora que um dia esteve lado a lado com seu companheiro nas mesmas caatingas que embruteceram tantos jovens sertanejos nas veredas perversas do cangaço. Estou falando de Maria, filha de Manoel Jerônimo, vaqueiro da Fazenda Picos.

João de Sousa Lima e a ex-cangaceira Maria de Juriti
         
Maria de Juriti - como passou a ser conhecida -, segundo o escritor João de Sousa Lima, morreu sem dar entrevista e sem falar nada com ninguém a respeito da sua vida no cangaço.
        
Como acima mencionei, era uma mulher de fisionomia triste, mesmo sendo perdoada pelas autoridades por haver acompanhado e vivido com um cangaceiro.
         
Por que tão grande tristeza, e por que não concedia entrevista aos sinceros pesquisadores compromissados com a verdade?
        
Será que tenho o direito de fazer juízo precipitado do seu melancólico comportamento e do seu estado de desconfiança? Não! Não posso; não devo fazê-lo.
        
Seria o extremoso trauma da manhã de 28 de julho de 1938 na Grota do Angico onde estava presente e conseguiu escapar em meio ao estonteante tiroteio de balas "chovendo" por todas direções e companheiros e companheiras perdendo as vidas e as cabeças?
         
Sila ex-cangaceira e companheira de Zé Sereno

Poderia até ser. Contudo, Sila e Dulce - assim como outros -, estavam mergulhados no mesmo tiroteio - passaram pelo mesmo trauma, entretanto nunca recusaram conceder entrevistas e, relatavam as suas histórias naturalmente sem grandes emoções. Porém, elas (Sila e Dulce -, esta ainda viva em nossos dias -, não viram seus companheiros morrerem jogados vivos dentro de uma ardente fogueira nos esconderijos da caatinga, como aconteceu com a então Maria de Juriti.
        
O ex-cangaceiro Juriti

Com a permissão da Ciência da Psicologia e da Psicanálise, logo que a minha experiência Freudiana é de pouca robustez, devido não exercer a profissão, apresento três fatores preponderantes para a formação de um trauma dessa natureza: A propensão do indivíduo; a intensidade pela qual ocorreu o incidente, e o sentimento de culpa.
        
A ex-cangaceira Dulce ao centro

Quanto a intensidade do tiroteio da chacina da Grota do Angico, tanto Sila, Dulce, Maria de Juriti e outros, passaram pela mesma trágica situação, mas quem sou eu - que não analisei pessoalmente o comportamento e as experiências amargas de Maria de Juriti -, para afirmar se a mesma era ou não, propensa a uma grande fragilidade emocional, ou se havia uma remanescência  de culpa por haver sugerido ao companheiro a sua entrega à polícia?!
        
O ex-cangaceiro Juriti - como sabemos -, mesmo após abandonar a vida cangaceira, foi algemado e colocado vivo dentro de uma fogueira nos esconderijos da caatinga, onde ali fora "derretido" como se derrete os espinhos de um mandacaru na fornalha ardente.
       
Mesmo sendo ele, um ex-cangaceiro que no passado havia cometido crueldades, mas era um fora da lei; enquanto que, as volantes eram homens da lei. Portanto, na minha frágil compreensão, o companheiro de Maria, que carregava consigo, carta de liberdade fornecida pelo nobre Capitão Aníbal Ferreira - a quem presto a minha homenagem póstuma por ser um policial de sentimento humano -, não havia mais como ser punido de forma tão cruel. E, creio que tal perversa atitude deve ter abalado o aparelho emocional de sua companheira, a ponto de nunca haver concedido entrevistas.
        
Assim, registro a minha opinião pessoal na qualidade de neófito na área da pesquisa da Saga do cangaço.
         
Serrinha, Julho de 2015
Bahia- Antonio Oliveira

http://blogdomendesemendes.blogspot.com
http://jmpminhasimpleshistorias.blogspot.com

2 comentários:

  1. Excelente texto, grande pesquisador Antonio José de Oliveira!

    ResponderExcluir
  2. Anônimo16:05:00

    Grato companheiro Mendes pela publicação de um modesto texto que aborda uma pequena partícula de uma enorme história, que é a saga do cangaço.
    Antonio Oliveira - Serrinha

    ResponderExcluir