Por Antonio José de Oliveira
Na pesquisa que venho realizando com o objetivo de escrever um livro a respeito
da saga do cangaço, e analisando os muitos fatos ocorridos nas vidas dos jovens
que embrenharam caatinga adentro em busca de perigosas aventuras,
deparei-me com a história e a imagem de um semblante triste de uma senhora que
um dia esteve lado a lado com seu companheiro nas mesmas caatingas que
embruteceram tantos jovens sertanejos nas veredas perversas do cangaço. Estou
falando de Maria, filha de Manoel Jerônimo, vaqueiro da Fazenda Picos.
João de Sousa Lima e a ex-cangaceira Maria de Juriti
Maria de Juriti - como passou a ser conhecida -, segundo o escritor João de
Sousa Lima, morreu sem dar entrevista e sem falar nada com ninguém a respeito
da sua vida no cangaço.
Como acima mencionei, era uma mulher de fisionomia triste, mesmo sendo perdoada
pelas autoridades por haver acompanhado e vivido com um cangaceiro.
Por que tão grande tristeza, e por que não concedia entrevista aos sinceros
pesquisadores compromissados com a verdade?
Será que tenho o direito de fazer juízo precipitado do seu melancólico
comportamento e do seu estado de desconfiança? Não! Não posso; não devo
fazê-lo.
Seria o extremoso trauma da manhã de 28 de julho de 1938 na Grota do Angico
onde estava presente e conseguiu escapar em meio ao estonteante tiroteio de
balas "chovendo" por todas direções e companheiros e companheiras
perdendo as vidas e as cabeças?
Sila ex-cangaceira e companheira de Zé Sereno
Poderia até ser. Contudo, Sila e Dulce - assim como outros -, estavam
mergulhados no mesmo tiroteio - passaram pelo mesmo trauma, entretanto nunca
recusaram conceder entrevistas e, relatavam as suas histórias naturalmente sem
grandes emoções. Porém, elas (Sila e Dulce -, esta ainda viva em nossos dias -,
não viram seus companheiros morrerem jogados vivos dentro de uma ardente
fogueira nos esconderijos da caatinga, como aconteceu com a então Maria de
Juriti.
O ex-cangaceiro Juriti
Com a permissão da Ciência da Psicologia e da Psicanálise, logo que a minha
experiência Freudiana é de pouca robustez, devido não exercer a profissão,
apresento três fatores preponderantes para a formação de um trauma dessa
natureza: A propensão do indivíduo; a intensidade pela qual ocorreu o incidente,
e o sentimento de culpa.
A ex-cangaceira Dulce ao centro
Quanto a intensidade do tiroteio da chacina da Grota do Angico, tanto Sila,
Dulce, Maria de Juriti e outros, passaram pela mesma trágica situação, mas quem
sou eu - que não analisei pessoalmente o comportamento e as experiências
amargas de Maria de Juriti -, para afirmar se a mesma era ou não, propensa a
uma grande fragilidade emocional, ou se havia uma remanescência de culpa
por haver sugerido ao companheiro a sua entrega à polícia?!
O ex-cangaceiro Juriti - como sabemos -, mesmo após abandonar a vida
cangaceira, foi algemado e colocado vivo dentro de uma fogueira nos
esconderijos da caatinga, onde ali fora "derretido" como se derrete
os espinhos de um mandacaru na fornalha ardente.
Mesmo sendo ele, um ex-cangaceiro que no passado havia cometido crueldades, mas
era um fora da lei; enquanto que, as volantes eram homens da lei.
Portanto, na minha frágil compreensão, o companheiro de Maria, que carregava
consigo, carta de liberdade fornecida pelo nobre Capitão Aníbal Ferreira - a
quem presto a minha homenagem póstuma por ser um policial de sentimento humano
-, não havia mais como ser punido de forma tão cruel. E, creio que tal perversa
atitude deve ter abalado o aparelho emocional de sua companheira, a ponto de
nunca haver concedido entrevistas.
Assim, registro a minha opinião pessoal na qualidade de neófito na área da
pesquisa da Saga do cangaço.
Serrinha, Julho de 2015
Bahia- Antonio Oliveira
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
http://jmpminhasimpleshistorias.blogspot.com
Excelente texto, grande pesquisador Antonio José de Oliveira!
ResponderExcluirGrato companheiro Mendes pela publicação de um modesto texto que aborda uma pequena partícula de uma enorme história, que é a saga do cangaço.
ResponderExcluirAntonio Oliveira - Serrinha