Material do acervo do escritor Junior Almeida
Pegando o
gancho na postagem de Geraldo Júnior,
aproveito e posto também nesse grupo:
Lourival
Marques era um caixeiro viajante que estava em Juazeiro do Norte naquele 20 de
julho de 1934, quando o Padre Cícero Romão Batista fez sua "última
viagem", pouco antes das 7 horas da manhã. Lourival escreveu tudo que
presenciou. Seu relato foi publicado em alguns jornais da época. Texto esse que
disponibilizo aqui:
"Acordei
pelo tropel de gente que corria pela rua. Fiquei sem saber a que atribuir
aquelas carreiras insólitas. Quando cheguei à janela tive a impressão de que
alguma coisa monstruosa sucedia na cidade. Que espetáculo horroroso, esse de
milhares de pessoas alucinadas, correndo pelas ruas afora, chorando, gritando,
arrepelando-se... Foi então que se soube... O Padre Cícero falecera... Eu, sem
ser fanático, senti uma vontade louca de chorar, de sair aos gritos, como toda
aquela gente, em direção à casa desse homem, que não teve igual em bondade e
nem teve igual em ser caluniado.
Um caudal de
mais de 40 mil pessoas atropelava-se, esmagava-se na ânsia de chegar à casa do
reverendo. O telégrafo transbordava de pessoas com telegramas para expedição,
destinados a todas as cidades do Brasil. Para fazer ideia, é bastante dizer que
só em telegramas, calcula-se ter gasto alguns contos de réis. Logo que os
telegramas mais próximos chegaram ao destino, uma verdadeira romaria de dezenas
de caminhões superlotados, milhares e milhares de pessoas a pé, marcharam para
aqui. Joaseiro viveu e está vivendo horas que nem Londres, nem Nova Iorque
viverão jamais... O povo, uma onda enorme, invadiu tudo, derrubando quem se
interpôs de permeio, quebrando portas, passando por cima de tudo. Pediu-se
reforço à polícia, mas o delegado recusou, alegando que o Padre era do povo e
continuava a ser do povo.
Arranjaram, no
entanto, um meio de colocar o cadáver exposto na janela, a uma altura que
ninguém pudesse alcançar e, durante todo o dia, várias pessoas encarregaram-se
de tocar com galhos de mato, rosários, medalhas e outros objetos religiosos, no
corpo, a fim de serem guardados como relíquias. Milhares de pessoas continuavam
a chegar de todos os pontos, a pé, a cavalo, de automóvel, caminhão, de todas
as formas possíveis.
Quatro horas
da tarde... Surge no céu o primeiro avião do exército. Depois outro. Lançam-se
de ponta para baixo, em voos arriscadíssimos, passando a dois metros do telhado
da casa do Padre Velho. Duram muito tempo os voos. É a homenagem sentida que os
aviadores prestam ao grande vulto brasileiro que cai... Desceram depois no
nosso campo, vindo pessoalmente trazer uma riquíssima coroa, em nome da aviação
militar.
A cidade é uma
colmeia imensa; colmeia de 60 mil almas, aumentada por mais de 20 mil, que
chegaram de fora. Nenhuma casa de comércio, de gênero algum, barbearias, cafés,
bares, nada abriu. A Prefeitura decretou luto oficial por três dias. O mesmo
imitaram as cidades do Crato, Barbalha e outras. Todas as sociedades e
sindicatos têm o pavilhão nacional hasteado a meio-pau com uma faixa negra, em
funeral".
Fonte:
facebook
Página:
Junior Almeida
Grupo:
Lampião,
Cangaço e Nordeste
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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