Meus Prezados,
Segue relato
da lenta e preocupante recuperação da represa de Sobradinho. As chuvas
continuam caindo abaixo da média em todo Alto e médio São Francisco, embora,
nessa semana, com índices mais elevados, principalmente no Estado da Bahia. Os
bombeamentos do projeto da transposição continuam ocorrendo, com a água fluindo
em território paraibano.
Site - Revista Águas do Brasil
A Bacia
Hidrográfica do Rio São Francisco encontra-se no final do período das águas,
com as chuvas caindo bem abaixo da média histórica, principalmente nas regiões
do Alto e Médio São Francisco. Na atual semana, choveu forte no Estado da
Bahia. Mesmo com esse novo canário na caída das chuvas, as vazões do Velho
Chico se mantiveram estáveis. O rio continua não tendo forças suficientes para
mudanças na sua hidrologia. Além do mais, o projeto da transposição tem
interferido nesse processo de forma negativa, com as retiradas volumétricas
para o atendimento das demandas hídricas da região Setentrional nordestina
(vide gráfico de Pereira Bode Velho, abaixo). Para se ter ideia dessas
questões, a represa de Itaparica (ponto de retirada do Eixo Leste do projeto),
que na semana anterior estava com um percentual de acumulação de 18,82%, na
atual semana esse percentual caiu para 16,09%. Nesse sentido, continua o
alerta para a necessidade da caída de mais chuvas na bacia do rio, para a
pronta recuperação, tanto da represa de Três Marias, como de Sobradinho. As
precipitações ocorridas nessa semana resultaram no seguinte cenário
hidrológico: diminuição de vazão nos postos de observação de Morpará e São
Francisco, que na semana anterior estavam com 744 m³/s e 821 m³/s, passaram a
ter, nessa semana, 571 m³/s e 655 m³/s, respectivamente. Nos demais
postos houve aumentos de vazões. O posto de Bom Jesus da Lapa, que na semana
anterior estava com 616 m³/s, subiu para 911 m³/s e o de Morpará, que
apresentava 698 m³/s, nessa semana foi para 805 m³/s. A afluência volumétrica
na represa de Sobradinho caiu mais um pouco, passando de 750 m³/s, da semana
anterior, para os atuais 650 m³/s. Em termos de defluência houve um pequeno
aumento, passando de 662 m³/s, da semana anterior, para 797 m³/s nessa semana,
voltando ao patamar exigido pela ANA, da ordem de 700 m³/s. O percentual
volumétrico de Sobradinho ficou praticamente estável. Na semana anterior havia
sido registrado 15,22% de seu volume útil. Na atual está com 15,49%. A barragem
continua com o seu percentual volumétrico menos da metade, do que aquele
verificado em igual período do ano anterior (atualmente 15,49% - ano anterior
32,60%).
Na semana (31/03),
devido à continuidade da instabilidade na caída das chuvas, somada à retirada
volumétrica do projeto da transposição, é muito provável que no mês de
novembro, a represa de Sobradinho se aproxime do volume morto. Essa perspectiva
é agravada, ainda, pelo fato de a defluência da represa encontrar-se em
patamares acima dos volumes afluentes (a afluência é de 650 m³/s e a
defluência de 797 m³/s). Para correção dessa triste possibilidade, as
autoridades têm que, necessariamente, inverter essa ordem volumétrica. O
quadro atual de penúria hídrica já vem trazendo reflexos negativos ao projeto
da transposição, conforme denunciou, na semana passada, o ex secretário de
Recursos Hídricos da Paraíba, Francisco Sarmento, em relatório de visita técnica que fez aos canais do
projeto. As incertezas da chegada da água nas torneiras dos municípios
atendidos pelo projeto motivou a população de Monteiro, na Paraíba, a protestar pela falta d´água reinante na localidade,
exigindo providências junto ao governo estadual, para as soluções cabíveis. É
importante observar, também, que a continuidade das baixas defluências de
Sobradinho (797 m³/s) vem agravando o quadro da progressão da cunha salina na
foz do rio (ver a excelente análise de José do Patrocínio Tomaz
Albuquerque, abaixo). Existem relatos de pescadores que estão capturando peixes de hábito marinho na região do Baixo São
Francisco. A cunha salina tem trazido, também, certos transtornos
no abastecimento do município alagoano dePiaçabuçu, que tem servido à população uma água de péssima
qualidade, com elevados teores de sais (água salobra). Em igual situação vivem 70% da população de Aracaju,
que são abastecidos com as águas do Rio São Francisco, por intermédio de uma
adutora, em Propriá, município sergipano localizado em sua margem direita, a
cerca de 60 km da foz.
Apesar de
faltar muito pouco tempo para o encerramento da quadra chuvosa da região
(preocupação de Pereira Bode Velho, com o efeito mostrado nas vazões do rio no
gráfico abaixo), a esperança de todos é que ainda venha a ocorrer alguma chuva
em toda bacia hidrográfica do Velho Chico, que garanta à normalidade da
situação. Além do mais, continuaremos atentos para as questões das defluências
de Sobradinho (797 m³/s) e, agora, de Três Marias (208 m³/s), pois houve
determinação das autoridades do setor, para que essas defluências ficassem
estabelecidas em patamares da ordem de 700 m³/s e 160 m³/s, respectivamente,
conforme divulgadas na mídia e atualmente praticadas.
Abraço
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário