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sábado, 3 de junho de 2017

UM CANGACEIRO JUSTIÇADO SEM TER SIDO JULGADO

Por José Mendes Pereira
José Leite de Santana

Segundo alguns pesquisadores do cangaço  afirmam que José Leite de Santana o cangaceiro Jararaca havia nascido em Moderna, município de Sertânia, no Estado de Pernambuco, em 05 de maio de 1901, mas fora registrado como filho de Buíque, também Pernambuco, e era filho adotivo de Manuel Leite de Santana (Mané Zuza) e de dona Maria Luíza de Santana, sendo ele filho de um irmão do Mané Zuza. 


Pesquisador Geraldo Júnior

Diz o pesquisador Geraldo Júnior que, de acordo com o professor João Lúcio, Secretário de Cultura e Juventude do Município de Sertânia, Jararaca foi registrado em Buíque-PE, pelo fato de ser mais próximo o cartório daquela localidade. Mas a vida de Jararaca foi em solo sertaniense, e a sua casa ainda está lá, conservada. 

A partir de 1921 a 1926 o José Leite de Santana que ainda não era cangaceiro, serviu o Exército Brasileiro em Aracaju, no Estado de Sergipe, tendo abandonado as Forças armadas por ter participado de uma Insurreição Militar na base onde servia, d
eixando o exército, José Leite de Santana retornou à sua querida Moderna, e posteriormente foi trabalhar na "Empresa de Cangaceiros Lampiônica & Cia" de Virgolino Ferreira da Silva o já afamado cangaceiro e capitão Lampião.


  O guerreiro Lampião

Logo em 1927, em 13 de junho, José Leite de Santana já com o apelido no cangaço de "Jararaca", como chefe de um grupo de cangaceiros (mas sendo subordinado ao chefe maior o capitão Lampião), participou da frustrada tentativa de assalto à segunda maior cidade do Rio Grande do Norte, Mossoró, e neste dia, o cangaceiro "Jararaca" foi baleado, quando foi apanhar os armamentos e possivelmente riquezas de um cangaceiro apelidado de "Colchete", morto em plena avenida Alberto Maranhão, ao lado da igreja de São Vicente de Paulo, localizada no centro da cidade de Mossoró. 


Igreja de São Vicente de Paulo em Mossoró

Jararaca que atrás caminhava, e não querendo que os mossoroenses ficassem com as riquezas do facínora assassinado, seguiu em direção ao corpo, mas foi alvejado com tiros que saíram da torre da igreja de São Vicente de Paulo, disparados por armas dos que defendiam a cidade de Mossoró, e já baleado, retirou-se do local de combate, escondendo-se próximo à ponte de trem, já nas proximidades do Saco.


Jornalista Alexandre Gurgel

Conta o jornalista Alexandre Gurgel em um dos seus textos que, se os armamentos eram poucos para combaterem os facínoras, muito menos era a munição. E se caso a munição se acabasse, os resistentes findariam nas mãos dos cangaceiros, e com certeza, irados, não perdoariam, e os matariam sangrados, como era de costume Lampião matar os prisioneiros de combates. 


Grota de Angico no Estado de Sergipe

Assim como em Sergipe, lá na Grota de Angico, no dia 28 de Julho de 1938, 11 anos antes, aconteceu em Mossoró, no dia 13 de junho de 1927, pois o cheiro de pólvora queimada não era para qualquer um despreparado suportar, sem que não tivesse um desmaio. A cidade estava desesperada. Sim senhor! Era coisa triste! 


Trincheira do coronel Rodolfo Fernandes em frente ao seu palácio no dia 13 de junho de 1927

Vendo que não tinha condições de vencer Mossoró, porque ela estava bem preparada para defender o que lhe pertencia, Lampião resolveu fugir às pressas da cidade com toda cabroeira, com destino à Limoeiro do Norte, em terras do Estado do Ceará, deixando para trás, o cangaceiro "Colchete" morto, e o "Jararaca" baleado e desaparecido. No dia seguinte, o cangaceiro Jararaca fora capturado e tangido para a cadeia pública, e lá, passou cinco dias sobre escoltas da polícia militar.


Cadeia pública de Mossoró local onde foi preso o cangaceiro Jararaca

Mas os seus dias estavam contados, foi cruelmente assassinado e enterrado ainda vivo (segundo depoentes) pelas forças policiais do Estado Potiguar, o que levou a algumas pessoas, diante de seu tamanho sofrimento, acreditarem que o mesmo tenha virado Santo. Muitas pessoas fazem promessas para o mesmo, e seu túmulo é cercado de romeiros e fies que pedem a ele curas, proteção, saúde... 


Túmulo do cangaceiro Jararaca


Um dos defensores de Mossoró o civil Manoel Duarte Ferreira que mesmo despreparado para tal fim, acertou o Jararaca no peito direito, e com o impacto da bala, foi ao chão. Mas sem demora, levantou-se, e saiu se protegendo como pode. Mas não levou sorte. Outro tiro recebeu, e desta vez, foi atingido na perna.



Civil Manoel Duarte

Um dos estudiosos do cangaço de Mossoró (não revelo o seu nome), jornalista e de grande conceito no que diz respeito ao estudo do ataque de Mossoró, naquela tarde de 13 de junho de 1927, e que hoje reside em Natal, certo dia, me enviou e-mail, dizendo-me que não se tem certeza que o cangaceiro Colchete foi morto e Jararaca baleado pelas armas do civil Manoel Duarte. E quem sou eu para duvidar do grande jornalista e pesquisador do cangaço?
     
Lampião que estava desmoralizado e arrependido, por ter ido na conversa de Massilon Leite l
á pelas tantas, os facínoras ouviram um apito, indicando a desistência de Lampião. E o bando disparou numa desesperada carreira, com medo da violência dos nossos heróis combatentes. 


Sabino Gomes

Tempo depois, a maioria dos cangaceiros já se encontrava no coito. Seis cangaceiros estavam baleados. Sabino Gomes era um dos tais, mas não corria perigo de vida. Menino de Ouro sofrendo muito com o ferimento, gritava exageradamente. Mas logo cuidaram de amenizar as suas dores com um curativo preparado com pimenta malagueta. Lampião tentava acalmá-lo, mas as dores eram insuportáveis.
    
Assim que fizeram o curativo no "Menino de Ouro" partiram com os reféns, tomando rumo ao Ceará, amparando-se em um sítio de nome Baixa da Broca.  Todos estavam pesarosos pela morte de Colchete e o cruel Jararaca baleado, que eles não sabiam o seu paradeiro. E nem Mossoró tinha conhecimento que um dos cangaceiros de Lampião se encontrava enfermo nas matas.



Ponte ferroviária de Mossoró

Jararaca baleado foi se arrastando, seguindo os trilhos do trem, e aproximou-se da ponte ferroviária. Mesmo o ferimento sangrando, enfiou-se às águas do rio, e do outro lado se escondeu numa moita, e depois, deparando-se com uns vigias que faziam serviços rotineiros.
   
Ao vê-los, pediu para que um deles fosse arranjar material de curativo, dizendo-lhe que trouxesse pimenta malagueta para ele esmagá-la e colocar dentro do ferimento. Ainda garantiu que quando retornasse com o medicamento caseiro lhe pagaria pelo serviço prestado.  
    
Na saída do vigia Jararaca apontou a arma para matá-lo, pois achava impossível que ele voltasse sem a polícia. Mas desistiu, baixando a sua maldita arma. Imaginou que o vigia poderia voltar sozinho. 
    
O vigia incumbido da compra de medicamentos ao sair da presença de Jararaca, em vez de ir à farmácia, foi direto ao destacamento policial. E lá, comunicou o esconderijo de um suposto cangaceiro. Meia hora depois, a polícia chegou e cercou a área. Ele foi dominado com facilidade, pois estava muito debilitado. Prenderam-no e o conduziram para a cadeia pública de Mossoró.
            
Lampião continuou correndo em direção ao Estado do Ceará. E em uma fazenda de nome Jucuri, distante 21 km de Mossoró, o bando prendeu um comerciante do lugar, um senhor de nome Manoel Freire, e passaram a exigir por ele uma quantia de 10 contos de réis. Caso não fosse atendido o seu pedido, o matariam. Mas logo os familiares fizeram arrecadação da quantia solicitada e entregaram ao capitão Lampião. E ao recebê-la, colocou no seu bornal e o liberou. 
     
No dia 14 de  junho do mesmo ano, Lampião e o bando chegaram ao sítio Lagoa do Rocha, lugar pertencente às terras do Estado do Ceará, onde lá pernoitaram como se nada tivesse acontecido. 
   
15 de junho, entraram em Limoeiro, exigindo do vigário da cidade de nome Padre Vital Lucena, uma quantia de 2 contos de réis da população. Como foram atendidos, não fizeram desordens e nem se demoraram.  E às 6;00  horas da noite, foram embora. 

Vamos leitor, saber o que aconteceu com Jararaca?

Segundo o escritor e jornalista do Jornal “O Mossoroense”, Geraldo Maia Jararaca era de físico avantajado, de estatura mediana, moreno-escuro, e de temperamento fora do comum. E com esse tipo violento, saiu às carreiras de sua cidade, amparando-se na capital de Maceió, lá no Estado de Alagoas.


 Geraldo Maia do Nascimento

Mais ou menos no ano de 1925, antes de ser contratado pela "Empresa de Cangaceiros Lampiônica Cia", do famoso Lampião, o José Leite de Santana mostrava a sua força e coragem pelos sertões de Pernambuco. E lá, já era alcunhado por Jararaca, e chefe de um bando de cangaceiros, que sem nenhuma piedade, eles assaltavam fazendas, comboieiros, assassinavam, incendiavam casas e depredavam o que viam pela frente.
    
Este, ao se incorporar ao bando de Lampião, levou em sua companhia oito asseclas, sendo já famoso por ser valente, bom atirador e lutador de faca. E com isso, fez com que Lampião o entregasse um subgrupo de cangaceiros.


Vamos leitor, assistir a execução de Jararaca? 
José Leite de Santana o cangaceiro Jararaca
                                                                
Diz ainda o jornalista  Geraldo Maia que no depoimento baseado que Pedro Sílvio de Morais um dos integrantes da escolta que matou o cangaceiro fez ao historiador Raimundo Soares de Brito, disse-lhe o seguinte: “- Pelas onze e meia horas da noite, de um luar claro e frio, do mês de junho, uma escolta composta de oficiais, sargentos e praças, conduziu em automóvel o bandido (Jararaca), dizendo que ele iria ser trancafiado na cadeia de Natal. No momento da saída, e ao dar entrada no carro, Jararaca disse que tinha deixado as alpargatas na prisão, e pediu ao comandante para mandar buscá-las, pois não queria chegar à capital com os pés descalços". 
     
O tenente-comandante então disse que em Natal lhe daria um par de sapatos de verniz. Quando os automóveis pararam no portão do cemitério São Sebastião (Mossoró), Jararaca interrogou-os: 
    
- Mas isto aqui é o caminho de Natal? 
    
Como resistisse descer do automóvel, um soldado empurrando-o deu-lhe uma pancada com a coronha do fuzil.
     
No cemitério mostraram-lhe uma cova aberta lá num canto, e um deles perguntou-lhe: 
     
- Sabe para que seja isso? 
     
Saber de certeza não sei não. Mas, porém, estou calculando. Não é para mim?
Agora, isso só se faz porque me vejo nestas circunstâncias, com as mãos inquiridas e desarmadas! Um gosto eu não deixo para vocês: é se gabarem de que eu pedi que não me matassem. Matem! Matem que matam, mas é um homem! Fiquem sabendo que vocês vão matar o homem mais valente que já pisou neste...
     
Mas o  Jararaca não teve tempo de dizer o que queria. Um soldado por trás dele, deu-lhe um tiro de revólver na cabeça. Ele caiu e foi empurrado com os pés para dentro da cova.


O poeta, escritor e pesquisador do cangaço Kydelmir Dantas diz que não houve este diálogo, possivelmente foi criado. Se o pesquisador do cangaço Kydelmir Dantas diz que não aconteceu este diálogo, quem sou eu para duvidar dele?
               
Observação: “Existem alguns textos contados diferentes do que afirmou Jararaca quando estava prestes a ser executado. Mas apenas os autores usaram sinônimos, sem fugirem do que disse Jararaca. O importante é não criar fatos diferentes do que aconteceu na hora da execução do bandido”.

Sobre a execução de Jararaca foi uma crueldade que os policiais da época fizeram com o cangaceiro Jararaca, porque, homem que é homem não mata outro homem amarrado. Solta-o, e o convida para tentar salvar a sua vida. 

Dizem os historiadores  que o grupo de Lampião sofreu violenta perseguição no Estado do Ceará pelas tropas do major Moisés, dos tenentes: Laurentino, Abdon Nunes e Agripino do Rio Grande do Norte e Quelé da Paraíba.
     
Massilon Leite vendo seus  planos indo por água abaixo, abandonou o bando de cangaceiros. E a partir daí, os que restaram sofreram tanto que acabaram fugindo para a Bahia, aonde chegaram apenas oito companheiros famintos e esfarrapados. Foram eles:




Sobre esta imagem acima, Ivanildo Régis afirma que Ivanildo Silveira, pesquisador e colecionador do cangaço, faz a seguinte observação: “Embora a identificação dos cangaceiros da foto acima seja um tanto polêmica, consultando especialistas, é quase unânime que a legenda mais que mais se aproxima da realidade, é a seguinte: Lampião, Ezequiel, Virgínio, Luiz Pedro, Mariano, Corisco, Mergulhão e Alvoredo.

Um pouco da biografia deles:

1 - Virgulino Ferreira da Silva, “o Lampião”, ou ainda o patenteado “capitão”. Nasceu em 1898, no Estado de Pernambuco. Era filho de José Ferreira da Silva e Maria Sulena da Purificação. Depois de mais de vinte anos como chefe de cangaceiros, foi abatido juntamente com a sua rainha Maria Bonita e mais nove cangaceiros, na madrugada de 28 de julho de 1938, na grota de Angicos, lá no Estado de Sergipe. Um dos maiores líderes de cangaceiros.
    
2 - Ezequiel Ferreira da Silva, o Ponto Fino (irmão de Lampião); Nasceu no ano de 1908, no Estado de Pernambuco. Foi abatido no dia 23 de abril de 1931 – no tiroteio da Fazenda Touro, povoado Baixa do Boi, no Estado da Bahia, ponto conhecido como Lagoa do Mel.


3 - Virgínio Fortunato da Silva, o Moderno. Ex-cunhado de Lampião. Nasceu em 1903 e faleceu em 1936, aos 33 anos de idade.

Segundo o escritor e pesquisador do cangaço de nome Franklin Jorge, há suspeita, não comprovada, que Virgínio era da cidade de Alexandria, no Estado do Rio Grande do Norte.

Era companheiro de Durvalina, que com a sua morte ela amasiou-se com Moreno. Durvalina faleceu no dia 30 de junho de 2008. Moreno faleceu no dia 06 de setembro de 2010.     

4 - Luiz Pedro do Retiro, companheiro de Neném do Ouro. Ele foi abatido juntamente com Lampião, Maria Bonita e mais oito cangaceiros, na madrugada de 28 de julho de 1938, na grota de Angicos no Estado de Sergipe. Dizem que quem o assassinou foi o policial Mané Véio. 


5 - Mariano Laurindo Granja, companheiro de Rosinha.  Entrou para o cangaço em 1924. Foi um dos poucos que em agosto de 1928, cruzou o Rio São Francisco, em companhia de Lampião, em direção à Bahia. Foi morto no dia 10 de outubro de 1936. Segundo Alcindo Alves em: (... – Mentiras e Mistérios de Angicos), o ataque foi entre os municípios de Porto da Folha e Garuru, região conhecida como o Cangaleixo. 

A pesquisadora do cangaço Juliana Pereira afirma que Rosinha foi morta a mando de Lampião. Era filha de Lé Soares e irmã de Adelaide, esta última sendo companheira de Criança, e parenta próxima de Áurea, companheira de Mané Moreno.  Sendo Áurea filha de Antonio Nicárcio, que era primo/ irmão de Lé Soares.

6 - Cristino Gomes da Silva Cleto, Corisco, companheiro da cangaceira Dadá. Ele foi abatido no dia 25 de maio de 1940, pelo tenente Zé Rufino, na fazenda Cavaco, em Brotas de Macaúbas, no Estado da Bahia. Dadá foi ferida e presa. Ela faleceu em 1994. Com a morte de Corisco, finalmente o cangaço foi enterrado com ele.

7 – Mergulhão foi abatido juntamente com Lampião e mais nove cangaceiros, na madrugada de 28 de julho de 1938, na grota de Angicos, no Estado de Sergipe. (Não tenho maiores informações sobre este cangaceiro).

8 - Hortêncio Gomes da Silva, o Arvoredo. – Desligou-se do bando no momento do ataque a Jaguarari, no Estado da Bahia. Fez dois meninos como reféns. Mas eles conseguiram o dominar, desarmando-o. Em seguida mataram-no a facadas. Achando que o serviço ainda não tinha sido concluído, degolaram-no e cortaram as suas mãos. Após o trabalho concluído acionaram a polícia. (Não tenho maiores informações sobre este cangaceiro).

Fontes de Pesquisas:

O cangaceiro Massilon – Por Alexandre Gurgel - 31/03/2005. 
O cangaceiro Jararaca – Por Geraldo Maia.  

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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