Por Rangel Alves da Costa
A pior espécie das peçonhentas, certamente assim ela é. Víbora astuta, venenosa, traiçoeira, vil, ardilosa, a pior espécie de cobra ruim. E também uma serpente vulgar, safada, prostituta, de rabo sempre pronto a ser cortejado. Para depois envenenar e dizimar sua presa.
Como é própria de toda cobra ruim, de toda víbora perigosa e peçonhenta, sempre se mostra a mais afável, a mais inocente, a mais pura do mundo. Mas em tudo o jogo da artimanha e ludibriação, em cada gesto sedutor apenas a expectativa para dar o golpe certeiro e fatal.
Comparando os reinos animais. Acaso mulher, a víbora seria uma deslavada e barata prostituta, acaso travestida de gente a serpente seria a perfeição da falsidade, da traição e da desonestidade, acaso vestida em pele humana e feminina a peçonhenta seria aquela vagabunda cujo maior prazer na vida é atrair para sugar aquilo que lhe interessa como vítima.
Cobra ruim por que age em surdina, na espreita, pelos escondidos. Cobra da pior espécie por que se reveste de animal inofensivo para atrair sua vítima e depois ferir o calcanhar e a vida. Cobra maléfica por que quando mais veneno produz mais vai resguardando para soltar aos pouquinhos assim que alcança o calcanhar desejado.
Cobra da perdição por que depois que seu olhar frio e calculista avista e persegue não haverá mais salvação a ninguém. Cobra suja e asquerosa mas que se reveste de brilho e perfume para se transformar em atrativa beleza. Cobra pecadora, imoral, lasciva, banal. Por onde anda sorrateira, espalhando sonsice e docilidade, sempre um rastro imundo e lamacento.
Cobra ruim e puta ruim. Víbora peçonhenta e quenga da mais asquerosa espécie. Cobra adulterina, traiçoeira, maléfica. Víbora ruim e prostituta ruim. Mostra-se como a mais bela de todas, como a mais atraente de todas, como a mais fascinante de todas, mas no seu interior de cascavel apenas a reles e nojenta vulgaridade, apenas a fria e asquerosa vulgaridade.
Uma puta na pele de cobra. Uma rampeira por dentro da víbora. Uma devassa e libertina fazendo de tudo para esconder as venenosas escamas. Uma pérfida e infiel se passando como exemplo de virtude, caráter e honestidade. A vulgaridade rastejante querendo erguer uma honra inexistente. Uma lasciva de cabaré querendo se mostrar como dotada de fidelidades.
Uma puta ruim, desprezível e vulgar, na pele de cobra. Uma rampeira ruim, abjeta e lodacenta, por dentro daquela escama repelente camuflada de perfeição. Ou uma cobra que se perdeu na estrada em busca de favores e favorecimentos. Ou uma víbora safado cujo rabo foi entregue de vez às traições mais adulterinas já praticadas em devassos escondidos.
Conheço alguém assim. Conheci muito bem alguém assim. Uma vadia que se passa por mocinha, uma meretriz que se passa por inocente, uma Messalina que ainda quer se passar como a mais virtuosa das mulheres. Puta barata, puta de qualquer um, puta pelo gosto da putaria, e ainda, perante a sociedade, querendo ser vista como honrada e respeitada.
Mas engana qualquer um. A cobra bonita e suave em seu estado de perfeição. A víbora mais peçonhenta em seu estado de maior fingimento. Aquele que a avista logo quer se aproximar, logo deseja tocar sua pele, sentir seu perfume, abraçar, beijar e tudo o mais. E ela, por ser fria e maliciosa, vai apenas deixando que a futura vítima se achegue mais.
Uma víbora que deixa ser possuída muitas vezes e de todas as formas. Uma cobra venenosa que ama como a mais perfeita das amantes. Uma viperina que esconde a língua bifurcada para mostrar somente os lábios apetitosos e o corpo mis que sedoso. Mas que sobre si não carrega senão a frieza mais devoradora da falsidade.
E depois, depois de se deixar seduzir, então passa a agir ao seu modo de cobra ruim e puta safada. Envenena, tira da vítima tudo o que pode, e depois o esvai em corpo, alma e bolso. E sorrindo, apenas segue adiante em busca da próxima vítima, balançando o rabo, chamando quem o deseja ter.
Escritor
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