Por José Mendes Pereira
Este Material não tem nenhum valor para a literatura lampiônica. É apenas uma brincadeirinha para quem gosta de ler.
Bem cedinho, assim que o sol apontou no nascente seu Galdino deu de garra do seu machado, mais uma bacia d’água e foi afiá-lo em uma pedra de amolar instrumentos agrícolas que permanecia na calçada da casa com uma parte dela enterrada. E assim que se acocorou para iniciar o ofício de amolador dona Dionísia chamou lá de dentro:
- Galdino, o café já está pronto!
- Já estou indo, mulher!
E às presas foi lá dentro. E sem muito se demorar veio com a xícara de café em uma das mãos. E ao mirar em direção ao Nordeste, viu que vinha um homem a pé se aproximando da sua casa. Era o seu amigo, compadre e vizinho de propriedade seu Leodoro, mas as casas onde eles residiam eram um pouco distantes uma da outra. E ao avistá-lo disse em voz medida:
- Lá se vem compadre Leodoro já para mentir, e antes que ele conte uma história cabeluda eu crio logo uma mentira bem mentirosa..., e, o que houve compadre, o senhor a estas horas aqui, coisa que não é do seu costume?
- Compadre Galdino, vim até aqui para ver se o senhor e eu possamos fazer umas marcas de ferro nos meus bezerros, porque eu quero os soltar, isto é, para tomarem de conta do pasto por aí, o senhor sabe, sem marcas eu corro o risco de perder os meus bichinhos.
- É verdade compadre, é verdade! Gado sem marca é mesmo que filho sem mãe. Eles poderão tomar outro rumo e todo fazendeiro quer ser dono. Eu vou amolar este machado, dizia ele o apontando que permanecia encostado à cerca da frente que protegia a casa, e assim que eu terminar, irei para lá.
- Sim senhor! – Fez seu Leodoro Gusmão.
- Quando o senhor falou que quer ferrar os seus bichinhos eu me lembrei da judiação que fazia o capitão Lampião e seus cabras, quando pegavam uma mulher com o cabelo curto.
Tinha um tal de Zé Baiano que ferrou bem quatro delas, e o ferro tinha as iniciais do seu nome “J-B”. Aqueles homens meu compadre, ninguém sabe o porquê de tantas maldades que eles fizeram por aí.
- O homem maldoso é assim mesmo, compadre Galdino. O que ele quer é satisfazer a sua mente, e não importa que vai envenenar a sua alma diante de Deus. Se ele faz terríveis maldades contra os outros, é porque tem dúvida da existência de Deus.
- Bom raciocínio compadre Leodoro, esse seu. Eu tenho plena certeza no que as Escrituras Sagradas dizem, porque um livro tão bem feito e bem organizado como é a bíblia, não foi fruto do homem. Foi a força de Deus que entregou sabedoria a cerca de 40 homens para escrevê-la.
- Verdade, meu compadre. Mas nos dias de hoje o homem avacalhou o que diz a bíblia. O que é de pastores safados que inventam fundar igrejas, mas que na verdade, o que eles querem é tomar o dinheiro daqueles que ainda pensam em Deus. Não podemos dizer isso com todas as igrejas, porque o senhor sabe, em toda regra há exceção, e têm muitas igrejas por esse mundo afora com responsabilidade mesmo.
- Sim senhor. – Fez seu Leodoro.
- Aliás, compadre, vamos deixar as igrejas pra lá e vamos continuar a nossa conversa..., pois bem, eu tinha saído de casa à noite para caçar um tatu para um amigo meu criá-lo em cativeiro. Como o senhor sabe, se for para matar eu não retiro nenhum animal da natureza. E sei que é errado criar os bichinhos em cativeiros, mas têm pessoas que a gente tem aquele respeito e finda fazendo o que não se deve.
- Consideração e respeito por pessoas que merecem compadre Galdino, nada melhor.
- Inhô sim, já eram mais de 12:00 da noite quando eu encontrei um tatu. Ele correu e logo bem pertinho entrou num buraco. Aí eu pensei. Vou pegá-lo agora. Aproximei do buraco e com uma picareta comecei a cavar. Com o tempo do trabalho fui suando, e aquele suor me fez sentar e descansar um pouco. Fiz um cigarro. E quando eu levo para acendê-lo, na minha frente, vi um homem bem alto, com mais ou menos 1.80 de altura, cego de um olho, chapéu sobre a cabeça com a aba virada para cima, e todo enfeitado de moedas, com cartucheiras cruzadas no peito, cantil, um mosquetão, um revólver enfiado à cintura, um punhal que eu calculo que tinha mais ou menos 80 centímetros de tamanho; e além destes, mais outros utensílios.
- Era o capitão Lampião em carne e osso, compadre Galdino?
- Não senhor! Era o seu espírito que estava me oferecendo uma botija lá no “Saco” que antes era sítio de Mossoró, mas nos dias de hoje como o senhor sabe, já é bairro nomeado de Belo Horizonte.
- Mas compadre Galdino, me desculpe, mas Lampião não Morreu em Mossoró. Morreu na madrugada de 28 de julho de 1938, na Grota do Angico, no Estado de Sergipe...
- Oxente! Parece que o senhor não conhece nada sobre a história de Lampião. – Esbravejou seu Galdino.
- Eu não sei de tudo, compadre Galdino, mas eu sei uma porção de coisas sobre Lampião. Mas vamos deixar isso pra lá e continue a história sobre a botija.
- Quando ele veio a Mossoró ele fez coito lá no “Saco” e como tinha muito dinheiro, dizia seu Galdino, antes de fugir para o Ceará enterrou uma parte lá. Continuando o meu raciocínio. E assim que eu o observei dos pés à cabeça, ele me perguntou:
- Está me reconhecendo, cabra?
- Estou, sim senhor! É o capitão Lampião!
- Isso mesmo. Sou eu mesmo. E lembra que foi você quem me avisou que a cidade de Mossoró estava bem preparada para fazer eu e meus comandados correrem daqui?
- E como lembro, capitão Lampião!
- Pois bem, eu vim te agradecer. Procura logo saber o local lá no “Saco” que hoje é um bairro de Mossoró com o nome de Belo Horizonte, onde meus cabras e eu fizemos o coito antes da tentativa do assalto à Mossoró. Ao lado direito da estrada que leva para a antiga São Sebastião, cuja, eu lá me dei bem - hoje Governador Dix-sept Rosado, eu tenho uma botija cheia de dinheiro em moedas de ouro, cédulas, mas lá no Saco. Lembrei-me de você. Vá procurá-la lá que a botija está bem pertinho do tronco de uma carnaúba solitária. Não é difícil cavar para achá-la.
- E o senhor foi tirar a botija, compadre Galdino.
- E eu brinco! Certa noite me arrumei e fui ver se eu a achava. E quando cheguei lá, diga quem estava antes de mim?
- O capitão Lampião?
- Que capitão Lampião que nada, compadre! O senhor me parece que só lembra de Lampião. Era o Sabino Gomes em espírito, que foi só para me dizer que não adiantava cavar nada.
- Mas por que não adiantava o senhor cavar e tentar arrancar a botija, compadre?
- Disse-me que quando Lampião estava cavando o buraco para enterrar a mochila cheia de dinheiro, ele viu. E antes de fugir de Mossoró, foi lá bem escondidinho e arrancou e ficou com ela.
- Este Sabino era Sabido, compadre Galdino! Se isto tivesse acontecido comigo, eu ainda estava o açoitando com um bom três pernas...
- Dizer é fácil, compadre Leodoro...
http://blogdomendesemendes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário