Parecia o
ronco de um trovão. Só que não vinha do céu, mas do fundo da terra. O estrondo
foi tão forte que sacudiu as folhas das árvores. Imediatamente depois,
ouviram-se o chiado e longo assobio no ar. Quando o projétil passou chispando
sobre a trincheira, os Juazeirenses entenderam o que se passava. O canhão de
Franco Rabelo estava atirando contra eles. Uma, duas, três, quatro, cinco
vezes. Era ensurdecedor, de perder o juízo.
A despeito de
tão assombroso barulho, o alcance dos arremessos mostrou-se bem menor do que se
imaginava. Um ou outro disparo alcançava certa altura e a bola de chumbo quente
passava zunindo por sobre o telhado das casas localizadas mais próximas ao
valado. Não ia muito além disso. O efeito era mais de ordem moral do que bélico
– e só logrou sucesso após os primeiros rugidos. Em poucos minutos, percebendo
que a anunciada arma mortífera fazia mais zoada do que estragos, os jagunços
começaram a se divertir com a balbúrdia.
"Xô,
maldita!", gritavam eles, entre gargalhadas, a cada novo disparo que voava
sobre a cabeça deles.
O canhão de
Emílio Sá se revelara um espalhafatoso malogro. Dias antes, logo que a Guarda
Cívica chegou ao Cariri, fora feito o primeiro disparo de teste, com pólvora
seca, ainda nas ruas do Crato. O resultado havia sido o mais desastroso
possível. O coice provocado pelo disparo fez o canhão praticamente desintegrar
a carroça de madeira no qual estava assentado. Ao mesmo tempo, subira uma
imensa fumaceira. Quando a fumaça baixou, constatou-se que a força do baque
havia feito o canhão virar ao contrário. A boca de bronze estava apontando para
o lado oposto. Muitos soldados interpretaram aquilo como um sinal: Deus talvez
quisesse mostrar que quem atacava o Padim Ciço acabava sendo vítima do próprio
veneno.
Trecho
retirado do livro Padre Cícero - Poder, Fé e Guerra no Sertão de Lira Neto.
Paginas 376 e 377.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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