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sábado, 23 de março de 2019

O CANHÃO DE FRANCO RABELO....X...O PADRE CÍCERO....!



Parecia o ronco de um trovão. Só que não vinha do céu, mas do fundo da terra. O estrondo foi tão forte que sacudiu as folhas das árvores. Imediatamente depois, ouviram-se o chiado e longo assobio no ar. Quando o projétil passou chispando sobre a trincheira, os Juazeirenses entenderam o que se passava. O canhão de Franco Rabelo estava atirando contra eles. Uma, duas, três, quatro, cinco vezes. Era ensurdecedor, de perder o juízo.

A despeito de tão assombroso barulho, o alcance dos arremessos mostrou-se bem menor do que se imaginava. Um ou outro disparo alcançava certa altura e a bola de chumbo quente passava zunindo por sobre o telhado das casas localizadas mais próximas ao valado. Não ia muito além disso. O efeito era mais de ordem moral do que bélico – e só logrou sucesso após os primeiros rugidos. Em poucos minutos, percebendo que a anunciada arma mortífera fazia mais zoada do que estragos, os jagunços começaram a se divertir com a balbúrdia.

"Xô, maldita!", gritavam eles, entre gargalhadas, a cada novo disparo que voava sobre a cabeça deles.

O canhão de Emílio Sá se revelara um espalhafatoso malogro. Dias antes, logo que a Guarda Cívica chegou ao Cariri, fora feito o primeiro disparo de teste, com pólvora seca, ainda nas ruas do Crato. O resultado havia sido o mais desastroso possível. O coice provocado pelo disparo fez o canhão praticamente desintegrar a carroça de madeira no qual estava assentado. Ao mesmo tempo, subira uma imensa fumaceira. Quando a fumaça baixou, constatou-se que a força do baque havia feito o canhão virar ao contrário. A boca de bronze estava apontando para o lado oposto. Muitos soldados interpretaram aquilo como um sinal: Deus talvez quisesse mostrar que quem atacava o Padim Ciço acabava sendo vítima do próprio veneno.

Trecho retirado do livro Padre Cícero - Poder, Fé e Guerra no Sertão de Lira Neto. Paginas 376 e 377.


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