Seguidores

sábado, 7 de setembro de 2019

A FUGA PELO DESERTO


Por Beto Rueda

O ano de 1931 assinalou a mais espantosa e dramática aventura de Lampião: seu homízio no Raso da Catarina, magnífico, de uma beleza trágica, nos sertões baianos.


Acossado por diversas volantes policiais, soldados baianos, pernambucanos e alagoanos, a adivinhar-lhe o rastro invisível, misterioso, desnorteante, fez desse pedaço de mundo o seu refúgio.


Lampião estava agindo nas longas extensões que iam de Santo Antônio da Glória a Uauá e de Curaça a Geremoabo, nessas terras de cactus e favelas.

Ninguém sabia do seu paradeiro. E já a lenda começava outra vez a cercar-lhe o nome, a audácia, a memória: morrera, desertara, fugira. As aves do céu testemunharam a sua desdita, agonizando de sede e fome.

Tenente José Sampaio de Macedo

Um dia, o tenente José Sampaio Macedo prendeu um sertanejo, matuto, pobre, mas forte e inteligente. Não permitiu o oficial que o homem sofresse qualquer vexame por parte da tropa. Deixou-o à vontade, no meio da volante. Três dias depois, por livre e espontânea iniciativa, o caboclo disse:

- Seu tenente, eu sei onde está Lampião.

A marcha no rumo indicada pelo prisioneiro, foi penosa. Tenente e soldados, afundaram no Raso a pé, tendo como guia rastejador Antônio Cassiano, um pernambucano, e um sargento de larga experiência e coragem, de nome Luiz Mariano.

Sucedem-se os dias, sem novidade. De repente, ecoam no deserto, partidos de sobre uma pedra, sucessivos tiros de fuzil. Era uma sentinela avançada de Virgolino que, avistando a volante, anunciava ao grupo a sua aproximação. Estabelecera em torno do seu acampamento no Raso, um cinturão de segurança.

A volante cerca o bando. O tenente Macedo foi atingido com um tiro no pé, o sargento Mariano e o guia Cassiano também são feridos. O fogo fechou-se rápido e nutrido.

Virgolino recua, afundando, mais e mais, no Raso. Desaparece em poucos instantes, debaixo de gritos e imprecações dos seus homens e dos soldados.

No chão, o tenente Macedo contempla os despojos deixados pelo famoso cangaceiro: roupa, chapéus de couro, vestidos, pentes, tesouras, chales, agulhas, linhas e...água!

Todos os objetos foram queimados por ordem do tenente, que iniciou a sua longa jornada de volta, carregado nos ombros do sertanejo que lhe revelara o paradeiro de Lampião. Perdera o oficial a dinâmica do pé. Numa rede regressou o sargento Mariano.

O Capitão já ia longe, quando a volante retornou: dois bandos de avoantes ensanguentadas sobre o deserto do Raso...

REFERÊNCIAS: MACEDO, Nertan.

Lampião. 3. ed. Rio de Janeiro: Edições O Cruzeiro, 1970.
PRATA, Ranulfo.
Lampião. 2. ed. São Paulo: Editora Piratininga, 2010. (Fac-símile de 1934).


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário