Por: Francisco
Pereira Lima
A
História do Cangaço está recheada de mistérios, segredos, injustiças,
violências, equívocos e tantos outros adjetivos que representam esse fenômeno.
Uma família,
no município de Cajazeiras (PB), vivenciou um equívoco, que durou 66 anos,
envolvendo o atroz cangaceiro Jararaca. Vamos aos fatos:
Nas
minhas andanças e entrevistas atrás de novidades sobre o Cangaço, fui informado
que aqui em Cajazeiras (PB) existia uma família, parenta próxima do cangaceiro
Jararaca. Procurei localizá-la e cheguei, em dezembro de 2005, à Dona Maria
Pedro da Silva, 81 anos, viúva, residente no Bairro Vila Nova em Cajazeiras.
Depois
dos cumprimentos de praxe, perguntei a mesma sobre o seu parentesco com
Jararaca e ela me respondeu: "Sou neta de Jararaca, que ficou ferido e
depois morreu em Mossoró, quando Lampião tentou invadir aquela cidade". Em
seguida, perguntei à Dona Maria, o que ela sabia sobre a pessoa e a
história do seu avô Jararaca e a mesma, com uma lucidez impressionante,
foi relatando:
-
"O meu avô se chamava Patrício Pedro da Silva, era natural de São José de
Lagoa Tapada (PB). A minha avó dizia que o mesmo era moreno, de cabelo bom e
muito corajoso. Pai de cinco filhos: José, Hanorina que era a minha mãe,
Antônia, Severino e Raimundo".
Procurei
saber de Dona Maria o motivo do seu avô ter entrado no cangaço e ela me
respondeu:
- "Meu avô largou minha avó e se juntou com outra mulher chamada Maria José, no ano de 1921. Com essa teve um filho e como moravam todos próximos na Beira do Rio, no município de Cajazeiras, a minha avó aproveitou que Maria José foi tomar banho frio, do final do resguardo, e lavar os panos do neném recém-nascido no rio e lhe aplicou uma grande surra. O meu avô ficou muito revoltado com a esposa e mandou lhe dizer que vinha acertar as contas com ela. Um irmão dele, chamado Manuel Pedro da Silva, tomou as dores da cunhada e mandou avisar ao irmão Patrício, que se fizesse algum mal a minha avó, morreria na hora. A família da mulher, vítima da surra, queria uma providência, então o meu avô ficou sem saída. Foi na casa da minha avó e disse a ela que ia para o Cangaço de Lampião, ia se chamar Jararaca e não voltaria nunca mais. Foi embora e até hoje".
Quis
saber quando e como a família ficou sabendo da morte de Jararaca, em junho de
1927, na cidade de Mossoró, ela respondeu:
- "Os meus pais moravam no distrito de Boqueirão município de Cajazeiras
em 1939, eu tinha 13 anos. Vizinho da gente morava seu Nezim Guarda, o qual
tinha um irmão chamado Quinco que morava em Mossoró. O mesmo vindo passear em
Boqueirão falou para minha mãe Hanorina, filha de Jararaca, que o mesmo tinha
morrido em Mossoró, quando Lampião tentou invadir aquela cidade. Daí em diante,
nós todos da família, passamos a acreditar na história contada por seu Quinco,
como sendo a verdade sobre o fim de Patrício Pedro da Silva, o Jararaca".
Ouvi tudo atentamente e no final da conversa disse a Dona Maria que, com
absoluta certeza, o Jararaca de Mossoró não era o seu avô Patrício Pedro da
Silva e que se tratava de um equívoco, pois o cangaceiro com esse nome que
morreu em Mossoró, foi José Leite de Santana, nascido em 1901, natural de
Buíque (PE) e que entrou no Bando de Lampião em 1926. Dona Maria me agradeceu
as informações, mas lamentou ter ficado tanto tempo acreditando numa história
que não representava a verdade sobre seu avô.
Em
2006, Kydelmir Dantas e Paulo Gastão o último já falecido, Diretores da SBEC (Sociedade Brasileira
de Estudos do Cangaço), fizeram uma visita a Dona Maria, aqui em Cajazeiras e
ouviram essa história. A pergunta que fazemos e não temos a resposta exata, é a
seguinte: seria Patrício Pedro da Silva, o Jararaca I, que foi morto em
combate, entre abril e maio de 1922, na localidade Açude velho, Vila Bela, hoje
Serra Talhada, pelas volantes comandadas pelos tenentes Manuel Benício,
paraibano e Optado Gueiros, pernambucano?
Érico
de Almeida, no seu livro "Lampião, sua história" (1998, p.27), faz
referência a esse fato afirmando que foram mortos, nesse combate, os
cangaceiros "... Coruja, Jararaca e Vereda...".
O pesquisador e escritor paraibano Bismarck Martins de Oliveira, no seu livro
"O Cangaceirismo no Nordeste" (2002, p. 232-233), menciona a
existência de três cangaceiros do Bando de Lampião com o nome Jararaca, em
épocas diferentes. Sobre o Jararaca I, o autor não tem dados biográficos,
apenas que foi morto em 1922, em Vila Bela; sobre o segundo, José Leite de
Santana, o Jararaca de Mossoró, a sua história é contada em verso e prosa.
Sobre o terceiro, era baiano e entrou no bando de Lampião, quando o mesmo
passou a agir naquele Estado a partir de 1928. Com essas, linhas fica
registrada mais uma das milhares de "Histórias do Cangaço".
O autor é Professor de Historia, Pesquisador do Cangaço, membro da União Nacional de Estudos Históricos e Sociais (UNEHS)
e sócio da
SBEC.
Autor:
Francisco Pereira Lima - lentescangaceiras.blogspot.com
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