Cruzar
diferentes países de bicicleta é uma aventura para poucos. Se hoje em dia uma
façanha dessas ainda impressiona, imagine na década de 1920. Pois ela foi
realizada por um jovem baiano que pedalou de Salvador até Nova York.
Em 1927, às
vésperas de completar 18 anos, Rubens Pinheiro pegou sua bicicleta Opel e
partiu em direção à Big Apple. A ideia para a viagem surgiu durante uma
aventura anterior. Quando ia a pé da capital baiana até o Rio de Janeiro, aos
16 anos, ele topou com o pernambucano Mauricio Monteiro, que viajava de
bicicleta de Recife até Buenos Aires. O ciclista propôs que Pinheiro o
acompanhasse, mas o adolescente recusou. Isso fez com que Monteiro o
provocasse, dizendo que baianos não tinham coragem. Foi aí que Pinheiro
prometeu realizar uma façanha ainda maior.
O jovem
conseguiu juntar dinheiro para a viagem por meio de doações de comerciantes. Em
sua bagagem, levou dez mil réis, algumas roupas, uma arma e um caderno com capa
de couro de cobra que serviria de diário de bordo. "Quero conhecer Nova
York sem ser em fotografia", disse ao jornal Diário de Notícias quando
partiu, em 15 de março de 1927.
Apesar de a
jornada ter começado com um pequeno acidente que danificou sua bicicleta,
Rubens não desistiu. Para se manter durante a viagem, o jovem arrecadava
dinheiro fazendo malabarismos sobre duas rodas e pedindo ajuda a políticos.
Além disso, ele sabia a importância da autopromoção: a cada cidade que chegava,
logo procurava a imprensa para contar a sua história.
Em sua aventura,
Pinheiro percorreu mais de 18 mil quilômetros e passou por 11 países. Na
Venezuela, conseguiu uma contribuição de 5 mil bolívares do ditador Juan
Vicente Gómez. Na Nicarágua, viajou ao lado do revolucionário Augusto César
Sandino. No México, teve uma audiência com o presidente Emilio Portes Gil, que
também contribuiu financeiramente para a viagem, além de facilitar a emissão do
visto de entrada para os EUA.
Pinheiro
chegou a Nova York no dia 1º de abril de 1929, dois anos depois de sair de
Salvador. "Agora estou quebrado. É bom ver Nova York!", afirmou o
jovem aos jornalistas. Na cidade, o ciclista foi recepcionado pelo cônsul-geral
do Brasil, Sebastião Sampaio, e recebeu um banquete de brasileiros residentes
no Brooklyn. Depois disso, trabalhou lavando pratos e na General Motors, até
que seu visto expirasse, em junho do mesmo ano.
O jovem voltou
ao Brasil no navio Southern Cross. Seu desembarque no Rio de Janeiro foi
ofuscado pela recepção à Miss Brasil Olga Bergamini de Sá, que estava na mesma
embarcação, retornando do concurso de Miss Universo, nos Estados Unidos. Na
então capital do Brasil, Pinheiro teve um breve encontro com o presidente
Washington Luís. Ao retornar a Salvador, reuniu uma multidão em uma missa
organizada por ele. Na ocasião, impressionou o público ao pedalar de costas na
escadaria e na ladeira do Bonfim.
Nos anos
seguintes, Pinheiro teve diversas atividades, como piloto do globo da morte em
um circo e dono de um hospital de bonecas. Em 1979, quando sua viagem completou
50 anos, foi homenageado com uma nova missa e uma comemoração na Praça
Municipal. No mesmo ano, publicou um livro contando suas façanhas ciclísticas.
O aventureiro morreu em 1981, aos 71 anos.
Fontes: BBC e Tripedal.net
Imagens:
Arquivo pessoal, via Tripedal.net
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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