Seguidores

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

O PERRENGUE DO SUB DELEGADO HERCULANO BORGES E O CANGECEIRO CORISCO.

 Por Rubens Antonio

A raiz mais antiga da história aponta para uma ascendência mais antiga pernambucana, que migrou para a Bahia no final do século XVIII, aparecendo a família em 1812, em Monte Santo, na Bahia, com Rafael dos Anjos.

Este era proprietário de uma posse de terra na fazenda Abóbora, onde, mais tarde, se desenvolveu o cenário de um embate em que morreu o cangaceiro Mergulhão.

A partir daí, a família se espalhou rumo Uauá e Vila Nova da Rainha, com Joaquim Cardoso da Silva Matos, filho de Rafael dos Anjos, sendo avô de Francisco Borges.

Entre seus descendentes destacaram-se os Borges de Sá, de Uauá, dentre os quais emergiram sete prefeitos dessa cidade.

Entretanto, o filho de Francisco cujo nome assumiu maior significado na História do Cangaço foi Herculano Borges, nascido em Uauá, cerca de 1894.

Herculano Borges, que se casou com Maria Ossanta Borges Salles.

Foi este Herculano Borges que, em 1931, aos 37 anos de idade, foi trucidado por Corisco...

2 de outubro de 1931, no “Diario de Noticias”

... Um negociante cortado em postas!

Corisco e seu grupo torturaram uma ex–autoridade policial.

GUERRA IMPLACAVEL AOS BANDOLEIROS ATÉ QUE O SERTÃO SE LIBERTE DA PRAGA SINISTRA

Santa Rosa é um districto de paz do ex–municipio de Jaguarary, ultimamente annexado a Bomfim, de onde dista cerca de 12 léguas. Não é um lugar prospero: caracteriza–o o abandono em que jazem as localidades do Nordeste, onde apenas as feiras conseguem offerecerum pouco de vida, de movimento, de intensidade commercial, um dia em cada semana.

Em Santa Rosa residia o sr. Herculano Borges, sobrinho do coronel João Borges de Sá, de Uauá. Negociava com relativo exito, vivendo vida corrente e tranquilla com sua mulher e filhas. Era estimado e possuia amigos. Nada mais que isso desejava, para se considerar feliz.

NO “INDEX” DO BANDIDO

Um dia, indicaram–no para as funcções de subdelegado local. Relutou elle em aceitar, porque não era politico: disseram–lhe que esse seria um relevante serviço que ia prestar ao Governo e á população local, cooperando na campanha empenhada contra Lampeão.

Herculano Borges pensou melhor e aceitou o cargo; no exercicio do mesmo, fez–se uma autoridade util áquella campanha, trazendo o sicario apertado e, por isso mesmo, caiu–lhe no ról das pessôas condemnadas.

Além disto, o seu tio coronel João Borges de Sá é velho inimigo de Virgolino, tendo–o mettido, certa feita, na cadeia, em Uauá, quando elle era, apenas, tropeiro de Delmiro Gouveia.

PRIMEIRO, OS BENS INCENDIADOS

Lampeão, chefe dos bandidos, e como tal tido e obedecido por elles, conseguiu, ha tempos burlando a vigilancia da autoridade de Santa Rosa, penetrar, de surpresa, nessa localidade.

Herculano mal teve tempo de fugir com a familia, numa inevitavel viagem desabalada, vindo a fixar residencia, com suas cinco filhas menores, na cidade de Bomfim. Mas perdeu quanto possuia. O grupo sicario quebrou, espatifou, os moveis do seu perseguidor policial; na loja que elle possuia, praticou um saque de vandalos e depois, ateou fogo á casa com todo o “stock” nella existente.

Era o inicio da vingança.

Herculano experimentou, assim, o castigo de haver sido um homem de bem, que não compactuou com o crime, na sua vida de cidadão. Ficou residindo em Bomfim, não sem ir, de vez em quando, a Santa Rosa, menos para enfrentar o risco ou matar saudades, que por irrecusavel necessidade de alli commerciar, na feira local, ás sextas feiras, como negociante ambulante.

A ESMAGADORA SURPRESA!

No dia 19, penultimo sabbado de setembro, Herculano Borges, feita a feira na vespera, regressava, pela estrada quente, interminavel, a serpentear entre capoeiras sombrias, descampados nús de vegetação, a subir encostas fatigantes e a descer serrotes. Vinha montado e trazia suas mercadorias no lombo da burrama docil á voz do “pagem”...

Fazia calor e Herculano, cansado da viagem, fez uma parada, Apeou. Perto havia uma “cacimba”. Para ella encaminhou–se e, descuidado, pensando certamente na familia, que ia revêr satisfeito, abaixou–se mitigando, no fio claro dagua corrente, a sêde que lhe seccava a garganta.

Surpreendeu–o nessa posição o tropel de cavalleiros inesperados. Elle voltou–se, na convicção de que talvez se tratasse de algum caixeiro viajante. Mas, não; a divida durou o tempo de um relampago, porque alguem, do grupo, despertava–o para a negra realidade:

– Cel. Herculano, levnte–se para morrer, que vocês está com “Corisco” pela frente”

VERDADEIRO SUPPLICIO

Era, realmente, aquelle grupo composto do emulo de Lampeão, e de mais 9 cáibras, que detinham o infeliz sertanejo.

O crime deste era não ser “coiteiro”, era o de haver servido á sociedade contra salteadores e assassinos; era o de haver cumprido com o dever que assiste a todos os sertanejos, nessa luta contra os bandidos de Lampeão.

Não descreveremos o supplicio pelo qual padeceu, como um martyr christão, o sr. Herculano Borges.

Amarraram–no.

Cortaram–lhe os braços.

Cortaram–lhe os pes.

Degollaram–no.

E, esquartejado, feito em postas, os pés sangrentos dentro das botinas, foram seus restos mortaes enfiados em estacas, como demonstrações do quanto é perverso o odio da horda de Lampeão...

PELO SANGUE DERRAMADO, GUERRA AOS SICARIOS!

O doloroso fim desse sertanejo deve inspirar ás populações do Nordéste um compromisso sagrado – o de lutar, ao lado da Força Publica, contra os sicarios.

Pelo sangue que elles teem derramado das victimas que surpreendem, o de prestigiar os perseguidores da gente de Lampeão, dennunciando–lhes os seus “coiteiros”.

É proposito do Governo do Estado não dar tréguas a Lampeão, lançando em pratica um traçado modo de campanha que não póde ser divulgado, mas que deve ser facilitado.

O Capitão Facó espera, conforme ainda hoje declarou ao DIARIO DE NOTICIAS, que os sertanejos favoreçam as tropas volantes com um ambiente de facilidações, contando para isso com o auxilio da imprensa. É o que fazemos – apontando esse novo barbaro crime á execração geral!

.

Aparece em Felippe de Castro (1975), a narrativa do início do problema:

Corisco foi para a cidade de Bonfim, corrido, afastando-se para sempre da região de Glória e Pedra de Delmiro. Na nova cidade que passou a residir iniciou vida nova, negociando com bugingangas na feira - era camelô - aos dezessete anos.

Certo dia, Herculano Borges, delegado de polícia daquela cidade, homem, segundo conceito popular, de máus bófes, recebe de um dos fiscais da feira uma queixa contra o camelô, acusando-o de sonegação de imposto, naquela época, cinqüenta réis de ocupação do solo. Apresentado ao delegado, este indaga-lhe o motivo da protestada recusa, tendo o acusado se justificado, alegando já ter pago a outro fiscal, por isso que a acusação era injusta. Não se conformando, todavia, o delegado, mandou recolhê-lo ao xadrez debaixo d eimpropérios ofensivos, culminando por agredi-lo com um pontapé nas nádegas. Sabe-se que no percurso da feira ao quartel, onde ficava o xadrez, os soldados da escolta espancaram o rapaz que, raivoso com o ato injusto e violento, prometeu vingar-se declarando, em presença do próprio delegado, chorando de ódio: “Quando eu saí daqui o sinhô me paga seu Herculano”. Só depois de vinte e quatro horas soltaram-no.

Desesperado com os maus tratos que lhe deram, injustamente, resolveu vender o que tinha e com o produto desse negócio comprou um rifle e internou-se nas caatingas.”

Depoimento de Raimundo Gonçalves, nascido em 1926, em Jaguarari:

Fonte:

O Cangaço na Bahia imagens e texto professor: Rubens Antonio. Rubens Antonio.

https://www.facebook.com/groups/334870950556962

http://blogodmendesemendes.blogspot.com

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário