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sábado, 2 de julho de 2011

O ataque a Belmonte Parte I

Por: Rostand Medeiros


          Como já foi bastante comentado, devido as sérias perseguições contra a família de Virgulino Ferreira da Silva, seguido do assassinato do seu pai pela ação desastrosa de um grupo de policiais alagoanos no lugar Matinha de Água Branca, em 9 de junho de 1920, fez com que ele e seus irmãos Antônio e Livino, se transformem definitivamente em cangaceiros.

Família de José Ferreira da Silva

             Os irmãos Ferreiras se juntam ao bando conhecido como Porcinos e depois, em agosto de 1920, passaram a servir sob as ordens do chefe cangaceiro Sebastião Pereira, o conhecido Sinhô Pereira.

Bando do Sinhô Periera

            Em meio às ações junto com Sinhô, Virgulino recebe a alcunha de Lampião. A ligação de amizade entre Sinhô e Lampião vai ocasionar, em outubro de 1922, a morte de um importante comerciante chamado Luiz Gonzaga Lopes Gomes Ferraz, da cidade de Belmonte (atual São José do Belmonte), no sertão pernambucano.

Luiz Gonzaga Ferraz

            Este caso, um dos mais emblemáticos do período em que parte do Nordeste foi flagelado pela figura do temido cangaceiro Lampião, teve uma grande repercussão. Muito já foi comentado sobre este episódio, mas no Arquivo Público do Estado de Pernambuco, nas amareladas páginas dos antigos jornais, foi possível encontrar novas informações.

O temido Lampião
       
          Uma Interessante Carta. No domingo, 11 de março de 1923, foi publicada no jornal recifense “A Província”, uma grande carta vinda da cidade de Belmonte, cujo autor se intitulou “Um Assignante”. Neste volumoso documento ele narra pormenorizadamente o conflito ocorrido na sua cidade em outubro do ano anterior, que culminou na morte do comerciante Gonzaga. Em maio de 1922, segundo o autor da missiva publicada no periódico, se encontrava em Belmonte a volante policial Pernambucana, comandada pelo tenente Cardim. Esta volante estava a caça do grupo de cangaceiros de Sinhô Pereira e tinham informações que estes se encontravam no lugar “Olho D’água”, uma serra próximo a fronteira do Ceará e da Paraíba.

Sinhô Pereira

           Para alcançar seu objetivo o tenente Cardim solicitou apoio de uma volante da polícia cearense, que teria em torno de sessenta membros, cujo autor da carta não declina o nome do comandante, mas afirma que este era “um antigo cangaceiro”. Consta que Cardim desejava realizar um cerco contando com o apoio dos cearenses. Mas o comandante desta volante não participou da ação policial e, pior, saiu a praticar toda sorte de atrocidades contra a população, principalmente terríveis surras. Este fato assustou toda a comunidade e alertou o bando de Sinhô Pereira que desapareceu na caatinga. A carta afirmava que Cardim se encontrou com seu colega cearense, dispensou seu apoio, mas antes passou uma ríspida descompostura no seu comandante pela ação dos seus soldados.
             Evidentemente insatisfeito com a reprimenda, com a frustrada ação policial no estado vizinho ao Ceará, onde a sua marca principal era a tortura em larga escala na busca de informações, o tenente cearense buscava alguma compensação.
             Consta que o militar recebeu uma informação sobre um possível coiteiro e parente de Sinhô Pereira e, para não “perder a viagem”, no caminho de volta para casa fez uma “visitinha” a esta pessoa e sua família. A propriedade era conhecida como Cristóvão, pertencia a Crispim Pereira de Araújo, conhecido como Ioiô Maroto, um homem pacato e que vivia longe de complicações, apesar de ser membro da família de Sinhô Pereira.


Crispim Pereira de Araújo, o "Ioiô Maroto" com seus filhos ou netos. Acervo de Ivanildo Alves da Silveira

             Segundo comenta a tradição oral da região, e que conseguimos apurar em nossa visita a Belmonte em 2008, o mínimo que posso dizer em relação à visita da volante cearense ao pobre do Ioiô Maroto foi que “o cacete comeu”. Sobrou até para sua já vetusta mulher e suas filhas. Consta que um policial negro, conhecido como “Uberaba”, teria praticado contra as mulheres “toda sorte de misérias e imoralidades, entre a risadaria de todos, inclusive do tenente que achava em tudo muito espírito”. Depois do ocorrido, segundo a versão publicada no jornal de 1923, consta que Ioiô Maroto soube que o oficial da polícia cearense esteve na cidade de Belmonte, onde se arranchou na casa de seu compadre e amigo, o comerciante Luiz Gonzaga Lopes Gomes Ferraz. Foi informado ao fazendeiro ultrajado que Gonzaga declinou ao perverso tenente que Ioiô Maroto era parente de Sinhô Pereira. O autor da carta publicada no jornal, por razões óbvias, não declinou o nome do militar, mas se sabe que ele era o tenente Peregrino de Albuquerque Montenegro.
 

Continua...
 
Rostand Medeiros


Extraído do blog: "Cariri Cangaço"

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