Seguidores

domingo, 1 de janeiro de 2012

Por sorte, consegui sobreviver a 2011...

Por: José Cícero

Estou razoavelmente feliz. Esperei cronologicamente, segundo a segundo após a meia noite, a entrada do ano-novo. Ouvi o estourar dos fogos de artifícios, o buzinar dos carros, os gritos entusiasmados das pessoas, enfim...
Dei-me por inteiro a esta visão gregária ocidental. Etiqueta judaico-cristã que há muito tenta nos fazer pequenos escravos de uma comemoração comercial. Um momento prenhe de estranhamento que nos impulsiona a fazer contas, balanços, prestações, votos de congratulações mecânicas sem que nada disso viesse espontaneamente do coração.
Expediente quase obrigatório em plena consonância com as convenções sociais que na prática, estão falidas e fossilizadas no âmbar das nauseantes emoções. Isso é, sem dúvidas, uma tragédia para o espírito humano. Justamente pelo simples fato de sermos forçosamente obrigados a nos igualar a todos os demais.
Malgrado tudo isso, direi que estou razoavelmente contente. Afinal de contas, nunca a ninguém é dado o direito de estar feliz por completo. Creio que isso seria terrível, posto que esgotaria em nós a sensação da expectativa. Ou seja, nos tornariam ainda mais acomodados e passivos diante do elo perdido da felicidade. Visto que, por outro lado, nos tiraria o desejo da busca, a crença na sorte. A chamariz de estarmos quase sempre de olhos postos na possibilidade do porvir. Algumas das muitas amenidades desta vida ingênua que em geral, nos é enfadonha demais para que possamos suportá-las sem maiores traumas e decepções quase padronizadas.
Por esta razão, digo que sou um sobrevivente de 2011. Um ano assaz draconiano. Um dragão de muitas faces e muitas garras. Um ano devorador de esperanças e sentimentos altissonantes. A besta-fera do milênio. Um ano que ao meu juízo durou muito mais que todos os outros... Porém o suficiente para se acabar. Portanto, muito mais que o necessário. Mas a duras penas, sobrevivi a ele, como um heróico e moribundo soldado que milagrosamente saíra sã e salvo de uma guerra suja, cruel, sanguinária e fratricida.
Muito mais que a simples luta pela sobrevivência, tendo eu que matar um leão feroz a cada dia. De modo que me recuso terminantemente a participar do banquete dos falsos deuses. Aninhados pelos profetas do apocalipse. Aquilo que o velho Gramsci uma vez denominou de ‘o Júbilo coletivo obrigatório’. 
Acordei tarde pelas 10 h. Uma bela manhã de sol tropical. 2012 agora me é muito mais que uma mera e nova promessa que firmo com mim mesmo. Ao abrir meus olhos, sinto e vejo que grandes desafios se acumulam diante de mim como se fossem altas muralhas medievais entrepostas entre o meu ser e o azimute que visualizo ultrapassar a partir deste instante inovador. Mistérios e fantasmas me aguardam. Eis aí o meu eterno devir! Tudo a partir de então, é muito mais que uma longa e interminável caminhada. Uma aventura que julgo sem nenhum precedente.
Estou pronto para uma nova guerra. Tenho que vestir de novo esta tremenda e pesada armadura que herdei dos que partiram ante de mim. Serei, desde estão, um novo Dom Quixote a seguir seu destino - Dulcinéia e Sancho Pança não estão comigo. Que me perdoe o velho Miguel de Cervantes, mas o mundo e a vida agora em 2012, como dizem: "são outros quinhentos".
Não espero nada de muito novo neste ano que adentrou a minha vida sem sequer pedir licença. Posto que todo ano em essência, não passa de uma abstração criada pelo gênero humano. Alguns ansiando o poder e o ócio encheu-se de escravos a sua volta. Outros, por incrível que pareça, querendo sê-los impreterivelmente a qualquer custo. Assim é que sinto ódio e medo desta infeliz cronologia dos anos que, vez por outra, bate a minha porta mendigando uma celebração a que se convencionou chamá-la de ano-novo. Penso que este relógio cronológico é a caveira da nossa própria história. E eu não quero ser o seu coveiro. Quero sim, me renovar por dentro e a partir de então, sentir um ano verdadeiramente novo o suficiente para me fazer grande diante da sorte.
Preciso agora, a todo custo, lutar com todas as minhas forças contra os inimigos naturais da vida e do mundo. Necessito tal qual uma pulsão de quase morte, sobreviver a partir de agora a 2012 porque todo o resto me causa asco, ojeriza e me embrulha o próprio estômago.
Afinal de contas, não tenho tanta bílis para outras besteiras, além do fisiologismo comportamental desta sociedade maquiada demais para o meu senso prático. Deste ambiente soturno marcada pelo mau-gosto, o faz-de-conta e a mentira. Estou cheio de tudo isso. Estou farto de tantos anos velhos, simplesmente porque as pessoas não mudam o suficientemente necessário, tampouco se renovam. Não conseguem sair nem se desvencilhar da mesmice nem do lugar-comum.
Estou, por assim dizer, encharcado de tanta covardia, indiferença e passivida dos que me cercam. 2012 precisa se transformar de vez, numa trincheira de luta em favor da construção efetiva de um mundo novo, justo e coletivo.
---------------------------
José Cícero
Secretário de Cultura
Aurora-CE.

Independente do texto acima
Clique nos links abaixo para você ler os artigos que ainda não leu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário