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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

ANTONIO CONSELHEIRO


E o sertão virou mar... de sangue … Na tomada de Canudos, o Exército matou pelo menos 25 mil rebeldes

Não consigo imaginar coincidências quando vemos que todas as iniciativas politicas partidas das classes populares, tratadas como se fossem contra os governos no Brasil, tiveram um fim trágico. A começar pelas insurreições, pela independência do Brasil, passando pelas revoluções de l930, Coluna Prestes, Caldeirão da Santa Cruz, Araguaia e por aí vai. Em todas elas, a força das armas literalmente matou ideias e ideais que podiam ser tomados como exemplo de cidadania.

Nada comparado às atrocidades cometidas pelos que são adestrados para “defender a pátria”, principalmente nas frentes de batalha dos movimentos situados nos lugares mais longínquos da sociedade urbana, como no caso de Canudos. E eu, francamente, não me canso de ler e reler histórias como a de Canudos, Caldeirão, Pau de Colher, Contestado, entre outras. Continuo a cada leitura, sem entender o motivo da ação covarde do poder dominante...

A mim, reações à intervenção urbana nestes movimentos são exemplos de uma rebeldia valente, objetiva, aguerrida, decidida. A mim, eles poderiam servir como exemplo para a promoção de avanços sociais. Avanços estes que dependem da inclusão de ideias simples, vinda de pessoas simples, que ao invés de optarem pela teoria (ora acadêmica, ora politica) preferiram tomar decisões baseadas na solução de problemas diretamente ligados às suas necessidades. Este foi o caso de Canudos.

Diziam que Conselheiro era um louco quando pregava o fim do mundo. Pregava como se fosse um alerta para as nossa obrigações religiosas. Quando perguntado sobre o fim do século, dizia Ele em seus sermões que...”em 1900 as luzes se apagariam e choveriam estrelas. Antes, porém, aconteceriam fatos extraordinários...Em 1896 mil rebanhos correriam da praia para o sertão e o mar se tornaria sertão e o sertão mar. Em 1897 o deserto se cobriria de pasto, pastores e rebanhos se misturariam e a partir de então haveria um só rebanho e um só pastor. Em 1898 aumentarias os chapéus e diminuiriam as cabeças, e em 1899 os rios ficariam vermelhos e um planeta novo cruzaria o espaço.(SIC)...(trecho do livro A GUERRA DO FIM DO MUNDO, Vargas Llosa)

Pelo que li, essa profecia também foi feita por Nostradamus para outra data, outros fatos, porém, de ideia semelhante. Só não compreendo por que Nostradamus é profeta e Conselheiro é “louco”. Mas isto é ideia para outra discussão.

Certo, é que Antônio Mendes Maciel, levou grande parte da sua vida sertões adentro, a aconselhar pessoas, principalmente no interior da Bahia, conclamando a todos a se voltarem pra Deus, ao trabalho e às orações. Conclamava o povo de sertão a recuperar e cuidar de igrejas católicas para, junto com eles, rezar e pedir a Deus a providencia divina para os sofrimentos de todos os sertanejos daquela sofrida região do Nordeste.

“Dava conselhos ao entardecer, quando os homens tinham voltado do campo e as mulheres terminado os afazeres domésticos e as crianças já estavam dormindo. Dava-os nos descampados desmatados e pedregosos que existem em todos os povoados do sertão...falava de coisas simples e importantes, sem olhar para ninguém em especial entre as pessoas que o cercavam, ou melhor, olhando, com olhos incandescentes, através através do ajuntamento de velhos, mulheres, homens e crianças, algo ou alguém que só ele podia ver...Os vaqueiros e os peões do interior escutavam-no em silêncio, intrigados, atemorizados, comovidos, e assim o escutavam os escravos libertos dos engenhos do litoral e as mulheres e os pais e os filhos de uns e de outras(idem)”.

Assim foi que Antônio Mendes Maciel ganhou a alcunha de “CONSELHEIRO”, passando a ser tratado como Antônio Conselheiro. A caminhar pelos sertões levando palavras de enlevo aos que lhe retribuíam com a atenção peculiar do sertanejo.

Um dia a sociedade urbana resolveu que era hora de acabar com a sua história. Conselheiro já tinha se fixado num parte de terra, fundado uma vila (arraial) chamada “CANUDOS. Os homens da cidade empenharam-lhe guerra. Exércitos foram mandados para liquidar com a sua historia. Os sertanejos que o seguiam, em defesa do arraial venceram três de quatro grandes expedições empreendidas. Tombaram na quarta investida, quando o exercito se utilizou da mais cruel e sangrenta tática de guerra, se utilizando inclusive de canhões.

Contam os pesquisadores que a ultima derrota do Beato deu-se por conta de uma disenteria aguda, quando Antônio Conselheiro morre no dia 22 de setembro. O cadáver não foi sepultado de imediato pois que, os seus seguidores, acreditavam que ele pudesse ressuscitar e continuar na luta. Só quando o corpo do beato começa a se deteriorar, já com a fedentina a atrair a sanha dos urubus, os sertanejos o enterram.

O cerco do Exército torna-se mais rigoroso. Passada uma semana, no dia 1º de outubro daquele ano, as tropas do governo empenham o ultimo e decisivo ataque, conseguindo por fim tomar a vila.

Em seu livro, Os Sertões, Euclides da Cunha descreve esse momento final da seguinte forma:

"Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a História, resistiu até o esgotamento completo. Expugnando palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam, raivosamente, cindo mil soldados.(Euclides da Cunha, OS SERTÕES)”.

De inicio cerca de trezentas mulheres levando pelo braço um contingente de crianças se rendem ao exército, mas os homens continuam resistindo numa luta desigual, com as poucas armas que ainda restam, aí incluídas armas brancas, artesanais como foices, pedras e pedaços de pau. No dia cinco de outubro tombam os últimos sertanejos. Eram os quatro heróis falados por Euclides da Cunha.

“Caiu o arraial a 5.No dia 6, acabaram de o destruir desmanchando-lhe as casas, 5 200, cuidadosamente contadas."Depois da invasão, as ruínas da vila são destruídas e dinamitadas pelos militares. No final, de 25 mil a 35 mil rebeldes morreram nos combates. Entre os soldados, o total de baixas chegou a 5 mil. O corpo de Conselheiro foi desenterrado e sua cabeça foi levada como um troféu do Exército para Salvador, simbolizando o fim de Canudos.

(http://mundoestranho.abril.com.br)
Extraído do blog "Cariricaturas"

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