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quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A vida e a história do maior mito do Sertão


Por: Redação Notícias do Sertão
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Disseram que Lampião estava em Paulo Afonso 
... “Tem boi no pasto”. 

A frase foi transmitida pelo telégrafo da Estação Ferroviária de Piranhas para o tenente João Bezerra, que estava em Delmiro Gouveia seguindo a pista errada sobre o paradeiro de Lampião e seu bando. O autor da mensagem foi o telegrafista Valdemar Damasceno, avô do desembargador Washington Luis e do acadêmico de História, Inácio Loiola.

Inácio nasceu muito tempo depois de a polícia fuzilar Lampião e mais 11 cangaceiros, mas a frase repetida pelo avô nunca lhe saiu da memória. Era um código para avisar ao tenente Bezerra que Lampião estava mesmo em Angico, uma fazenda localizada no município sergipano de Poço Redondo, às margens do Rio São Francisco.

Autor de um livro sobre Lampião, mas que ele foi desaconselhado a publicar por conter revelações que podem, ainda hoje, lhe trazer problemas com os descendentes, Inácio reproduz o que ouviu do avô – que foi testemunha e personagem do final do maior líder de cangaceiros.
“Disseram que Lampião estava em Paulo Afonso e o tenente Bezerra colocou a tropa num caminhão e foi para Delmiro Gouveia, mas Lampião estava mesmo era em Angico, que fica em Sergipe. Aí, o sargento Aniceto, que tinha ficado em Piranhas, procurou meu avô e pediu para ele passar o telegrama para a estação de Delmiro avisando o tenente Bezerra da presença de Lampião em Angico. Mas, não podia ser assim direto, de uma forma direta. Daí, eles usaram o código: tem boi no pasto”, lembra Inácio.

A volante alagoana se recompôs com três colunas – uma comandada pelo tenente Bezerra, outra pelo aspirante Ferreira e a terceira pelo sargento Aniceto. A tropa amanheceu no cerco; era um dia de terça-feira e quando a primeira luz do sol iluminou a caatinga, Lampião não teve tempo de sorver o café matinal – um tiro certeiro varou-lhe o tórax; ele caiu e veio a saraivada. Era o dia 28 de julho de 1938.

Trama envolveu pedido de Getúlio Vargas

Mas não foi fácil pegar Lampião. Durante 22 anos, ele comandou as ações nos Sertões de cinco estados. A versão mais aceita para o cerco fatal a Lampião vem do empenho do, na época, ditador Getúlio Vargas, que cedeu à pressão de uma multinacional do petróleo – que teve um geólogo sequestrado pelo bando de cangaceiro, quando realizada pesquisas no Raso da Catarina, na Bahia.

Getúlio Vargas convocou os governadores (na época, interventores) dos estados nordestinos onde Lampião atuava e pediu que acabassem com o cangaço. A ordem expressa do chefe da Nação levou o interventor alagoano, Osman Loureiro, a reunir os “coronéis” políticos suspeitos de ligação com o cangaceiro para repassar a ordem de Getúlio Vargas.

Vingança, queijo e traição

Para chegar até Lampião e surpreendê-lo no esconderijo, a polícia alagoana contou com acontecimentos extras que lhe foram favoráveis. Por exemplo: a briga do coiteiro Pedro de Cândido com o fabricante de queijo conhecido como Joca Bernardes – e a disposição deste em se vingar, denunciando Pedro à polícia.

Joca Bernardes estava com uma carga de queijo para entregar em Pão de Açúcar, quando Pedro de Cândido apareceu querendo comprar a produção. Joca se negou a vendê-la alegando que o queijo era de um cliente em Pão de Açúcar, mas Pedro de Cândido não atendeu e levou todo o queijo que conseguiu juntar; levou e não pagou – segundo disse a Bernardes – em represália por ter se negado a vendê-lo.

A fama de que Pedro de Cândido era coiteiro de Lampião já havia se espalhado pela região e, com a atitude de levar toda a produção de queijo, Joca Bernardes não teve mais dúvida. Pedro de Cândido não negociava com queijo e se levou toda a produção era para servir a muita gente; e se era para servia a muita gente, só podia ser o bando de Lampião que estava por perto.

Vaqueiro, almocreve, cangaceiro e poeta

Aquele sujeito alto e magro, que passava comandando a tropa de burro carregada de algodão para a fábrica de Delmiro Gouveia confundia-se com o agricultor sertanejo comum: calejado pelo sofrimento de viver numa região assolada pela seca, mas forte igual a um touro.

Assim era Virgolino, o filho mais velho de José Ferreira. Era ao mesmo tempo almocreve, vaqueiro, poeta e depois cangaceiro – o mais famoso dos chefes do cangaço. E nem mesmo nas refregas com os “macacos” – era assim que ele se referia à polícia – perdia o mote.

Roberto Vilanova – Repórter
Fonte: O Jornal
http://www.noticiasdosertao.com.br/ultimas/cultura/4520-vida-histria-maior-mito-Serto.html

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