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quarta-feira, 26 de junho de 2013

O SEGUNDO PROTESTO: A LEGITIMIDADE E A DESORDEM (Artigo)

Por: Rangel Alves da Costa(*)

O SEGUNDO PROTESTO: A LEGITIMIDADE E A DESORDEM (Artigo) 

Depois do marco histórico do dia 20/06, quando mais de 30 mil pessoas tomaram as ruas e avenidas de Aracaju para mostrar suas indignações contra o aumento da tarifa do transporte e outras pautas populares, novamente o povo se reuniu na capital sergipana. E dessa vez para deixar bem claro que não vai mais tolerar calado os descalabros das administrações em todas suas esferas.

Tendo como mote principal a revogação da tarifa de ônibus, o que se viu foi uma avalanche de reivindicações, provando o descontentamento do povo com a ineficácia dos serviços públicos e a omissão deliberada dos governantes e seus agentes. As faixas e cartazes deixavam induvidosas as cobranças da população.

Como já era esperado, a classe política em geral se transformou em alvo preferencial da repulsa das ruas. Os médicos também se fizeram presentes em protesto contra as medidas de importação de profissionais anunciadas emergencialmente pelo governo federal. Outras classes profissionais e estudantes de cursos específicos igualmente apresentaram suas reivindicações.


Contudo, o número de manifestantes foi bem inferior ao avistado no primeiro ato. Em nenhum momento a Praça Fausto Cardoso, local da concentração, foi tomada pelos revoltosos. Um grupo maior circundou o coreto, onde permaneceu tocando instrumentos, gritando palavras de ordem e entoando motes de protesto, tendo outras pequenas aglomerações espalhadas pelos arredores. Bem diferente da multidão compacta do último dia 20.

Diante do ocorrido no primeiro ato, quando os manifestantes rejeitaram a presença de bandeiras partidárias e de centrais sindicais, dessa vez estes grupos decidiram não participar. Daí não haver qualquer carro de som nem discursos inflamados. Talvez por isso que a multidão de hoje estava mais silenciosa, mais arredia e menos encorajada. Já não havia aquelas feições predispostas, aqueles olhares efervescentes, aqueles gestos de descontentamento.

Por volta das cinco horas a caminhada teve início. Mas sem a organização devida, as pessoas não seguiam conjuntamente. Enquanto um grupo seguia na frente, muitas outras pessoas ainda continuavam pela praça. E assim prosseguiu, com alguns vazios, até a esquina da Av. Barão de Maruim. Neste momento, os manifestantes da dianteira tiveram de parar para esperar que as pessoas se pusessem em caminhada num só bloco.

Após isso, e já pela Barão de Maruim, então a multidão começou realmente a mostrar sua força, tomando completamente as duas pistas e calçadas, numa extensão que talvez chegasse a cinco quarteirões num só passo. Batucadas, palavras de ordem, cantorias, tudo isso efervescendo a caminhada sempre aplaudida pelos moradores dos edifícios ao redor.

Profissionais saíam de seus escritórios para aplaudir a manifestação, dos edifícios surgiam gestos de apoio, nos veículos parados o contentamento dos motoristas e passageiros. E assim a multidão, mesmo menos numerosa que a anterior, foi mostrando sua força e sua capacidade de união diante dos males que tanto corroem Sergipe e o Brasil.


Novamente helicópteros vigiaram do alto. Policiais novamente estavam infiltrados em meio à multidão, mas certamente não conseguiram avistar uma só ação de vandalismo, depredação ou exaltação mais exacerbada. Mas só até a multidão chegar ao Centro Administrativo Municipal.

Ao chegar ao local programado para a finalização do ato, um grupo mais exaltado logo procurou macular a imagem da multidão pacífica e ordeira. Verdadeiros vândalos começaram a depredar o patrimônio público e ameaçar invadir a sede do governo municipal. E em casos tais é preciso o uso da força para inibir a ação daqueles que traíram a legitimidade da ação da grande maioria. E o povo não marchou com essa bárbara finalidade.

É por essas e outras que o encanto, repentinamente, se torna em desencanto. E, em decorrência de tais atos, dificilmente haverá outra manifestação vitoriosa pelas ruas da capital. Pena que tenha acontecido assim. Mas eis as feras escondidas nos labirintos da multidão.

(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos seguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Burlamaqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.
  
Poeta e cronista
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