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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

LAMPIÃO Cangaceiro: 1898 – 1938 - PETIMETRE, DA CABEÇA AOS PÉS - Parte III

Por: Hélio Pólvora

Se o sertanejo era, “antes de tudo, um forte” (Lampião tinha 1,79m de altura, carnes enxutas), como disse Euclides da Cunha em Os Sertões, um de seus produtos, o cangaceiro, era acima de tudo um vaidoso. Vingou-se do ostracismo ao criar para si uma indumentária no mínimo extravagante, mas que muito atiçou o imaginário popular e lhe rendeu temerosa admiração. Socialmente excluído, espezinhado, escravo de novos senhores feudais, instalou mostruário em que exibir-se, ancho e exultante.

Ao contrário dos bandidos lendários de países ricos, que usavam roupas simples de cores esmaecidas, ele se pavoneava nas cores fortes, nas jóias de ouro e prata, adornos florais, tecidos finos. Queria mostrar-se morgado e poderoso. 

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Lampião costurando numa máquina Singer - http://www.istoe.com.br

Consta que antes de se lançar no cangaço, costurava ele próprio suas roupas, com ademanes de estilista, e sabia bordar bem à maquina.

Dadá e Corisco - cariricangaco.blogspot.com

Dadá, mulher de Corisco (Cristino Gomes da Silva Cleto), fixou em definitivo a moda desses outlaws nordestinos. Cabe-me aqui não a honra, mas apenas o ensejo de vos reapresentar a figura vulgarizada pelo cinema, folclore e literatura de cordel. Eis o cangaceiro típico:

Chapelão de couro em estilo napoleônico, de aba dianteira larga, dobrada e alevantada, nela bordadas em couro branco três estrelas de oito pontas que semelhavam sóis, de mistura com moedas de ouro e prata.

No pescoço, lenço comprido de seda inglesa ou tafetá francês, vermelho e verde, ou axadrezado. As pontas eram atadas com anéis ou moedas valiosas sobre a camisa cáqui ou azul. A de Lampião era vermelha ou listrada, com botões de ouro.

Calças de cintura alta, em geral curtas, porque a elas seguiam- se perneiras de couro enfeitadas com ilhoses presos por fivelas. Sapatões de couro ou alpercatas de couro cru.

Cartucheiras trespassadas para 120 balas. Fuzil Mauser modelo 1918, bandoleiras enfeitadas com moedas de prata e ilhoses brancos. Duas cintas laterais para sustentar os cantis. Anéis graúdos em quase todos os dedos (Lampião sempre trazia um, regalo de algum coronel catingueiro, que assim pagava o estipêndio da trégua). Acrescentem as luvas (as de Lampião eram bordadas), os cabelos compridos — e terão o tipo. Dadá, com o seu faro de modista digna da maison Dior ou griffe Hermès, muito contribuiu para essa indumentária, com enfeites, adornos e bordados, entre os quais as estrelas nos chapéus e os motivos florais.
 
Maria Bonita - portalbr93.blogspot.com

A revista Time-Life alinhou Maria Bonita entre as mulheres da moda. Até os cães viviam nos trinques: Dourado, o de Lampião, trazia coleira de ouro e prata, o danado. Meninos cantavam nas póvoas sertanejas:

Minha mãe me dê dinheiro
Pra comprar um cinturão
Pra botar uma cartucheira
Pra brigar pra Lampião


Conforme observou Constanza Pascolato em entrevista a Bia Lemos, Lampião, Maria Bonita e outros misturavam “riqueza, extravagância e barbárie”. Lançaram a moda do “banditismo de ostentação” e este encontrou terreno fértil. Viceja no Brasil.

http://www.vidaslusofonas.pt/lampiao.htm
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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