Por: Hélio Pólvora
Depois de
ouvir missa na igreja de Glória, cidade da Bahia nos limites com Pernambuco e
Alagoas, o capitão Virgulino Ferreira da Silva, cabeça descoberta, sem arma de
fogo, cai de joelhos, benze-se e em passo manco, sequela de uma bala, vai
cumprimentar o padre Emílio Ferreira.
Calmo, sorriso
maroto, o sacerdote acolhe-o um tanto alvoroçado.
“Estou mesmo
diante do Rei do Nordeste?”
“Para servir
Vossa Reverência.”
O padre havia
recebido pouco antes, de um caixeiro-viajante, um mapa do Brasil, de um metro
quadrado. Tem a ideia de desdobrá-lo sobre a mesa.
“Pois então
trace aqui o seu reino.”
Munido de um
lápis, capitão Virgulino, dito Lampião (havia adaptado um fuzil, para disparar
mais rápido, e o cano avermelhava na escuridão) firma o olho bom, que era o
esquerdo (o outro parecia um coágulo estagnado no centro de uma mancha branca,
vazado que fora por um espinho) e inicia o traçado. Usado óculos brancos, sem
aro, que pareciam aderir ao rosto comprido, ovalado.
Lampião e o cangaceiro Juriti - Este último foi morto dentro de uma fogueira - assassinato feito pelo sargento Deluz
De Mossoró, a
mão desce para Conceição do Piancó, no Rio Grande do Norte, atinge Poção e
Pesqueira, em Pernambuco, atravessa Alagoas, invade Porto da Folha e Capela, em
Sergipe, e dali, via Itapicuru, entra na Bahia, rumo centro-oeste, via Riachão
do Jacuípe e Morro do Chapéu, de onde se aventurou a Barra de Estiva e Rio de
Contas. Flecha para cima, até Remanso, cruza a caatinga pernambucana, passa por
Juazeiro do Norte, onde pontificava seu devoto Padre Cicero, e Caririaçu, no
Ceará. Depois de Morada Nova, completa o circuito em Mossoró.
O reino
compreendia sete Estados brasileiros. Ao todo, 273 mil km2. O padre admira-se:
“Territorialmente,
seu reino faria inveja a muita cabeça coroada da Europa.”
O Rei do
Cangaço arreganha os dentes, vaidoso.
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Amigo Mendes e caro autor do texto, gostaria de ter conhecimento se é certo que Lampião já esteve na minha vizinha Cidade de Riachão do Jacuípe, pois aqui em nossa região ninguem tem conhecimento desse fato. Será que foi uma passagem tão rápida que seus moradores não chegaram a saber?
ResponderExcluirAbraços,
Antonio José de Oliveira - Povoado Bela Vista - Serrinha-Ba.