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domingo, 1 de dezembro de 2013

Lampião: o Capitão do sertão! - Cap II

Por A. Fleming

Extraído do GEH - Grupo de Estudos Humanus 
A origem do cangaço ? (1870-1940)

Naquela época, as condições sociais do sertão nordestino podem ser sintetizadas em duas palavras: atraso e abandono. Nem escolas, nem estradas, nem médicos e postos de saúde, nenhuma assistência agrícola... (E até os dias atuais é de pasmar a desigualdade social que ali impera, a falta de trabalho, de justiça, de amparo, de humanidade). Mundo regido pelo absolutismo do grande fazendeiro mandão e político, promovido naturalmente a "Coronel", teúdo e manteúdo pela força dos cabras e pelo reforço da fiadora de seu prestígio político ? a polícia. Essa última, aliás, o único sinal de Governo naquelas brenhas!

A organização econômica do sertão se apresentava (e ainda hoje se apresenta) como latifundiária em relação à forma de apropriação do solo, e de servidão quanto ao regime de trabalho. Há muitas terras improdutivas - de forma total ou parcial - por causa da própria natureza do solo. O sistema de trabalho ainda não se liberou de todo das condições, próprias ou equivalentes, do servilismo, etapa de evolução entre a escravidão de outrora e o regime salarial de hoje, convencionado por Lei. Trabalho servil, mediante a paga ínfima arbitrada pelo patrão, cujo miserável padrão de vida e pauperismo intriga o observador mais cediço, obrigando-o a perguntar: "Como é mesmo que essa gente consegue sobreviver?!".

Casa da família de Lampião no Poço Negro, Floresta, Pernambuco, erguida em 1917

A política do sertão possui suas peculiaridades. Em primeiro lugar, uma política de clã. Os municípios interioranos do sertão, naqueles tempos muito pequenos, chegando os maiores a ter cerca de mil habitantes, formavam, como ainda muitos deles hoje em dia, uma só família, de parentes e aderentes, ligados pelos laços de consangüinidade, afinidade, compadrio ou do espírito clânico. Por isso, as divisões político-partidárias, com suas inevitáveis futricas e hostilidades, viravam questões de família.

Fechada hermeticamente na sua organização partidária, açulada pelas paixões inflamadas, a filosofia do "machismo" revelava-se no chefão mandão ou no cabra macho (cabra da peste): valente só ele!

As fazendas não possuíam cercas, mas apenas fronteiras naturais bastante imprecisas. O gado, identificado apenas por uma marca a ferro, constantemente invadia terras estranhas, sendo necessário recuperá-lo, quando não era simplesmente roubado pelos vizinhos e bandos de assaltantes. Além desses problemas, havia a disputa entre asparentelas pelos melhores pastos e fontes de água numa região constantemente assolada pelas secas. Não raro, também, a agressão ou perseguição movida por um vizinho a um agregado ou parente do senhor obrigava-o, por razões morais, a mobilizar toda a parentela em defesa da honra do ofendido. Outra fonte de conflitos, bastante comum, eram as questões de herança, as disputas amorosas e outras mais por qualquer nada. Em suma, a violência estava inscrita no cotidiano dessa gente.

Lampião , Moderno, Zé Baiano e Arvoredo, sentados; Mariano, Ponto-Fino,, Calais, Fortaleza, Mourão e Volta-Seca. Fazenda Fazenda Jaramataia, - Gararu, Sergipe, 27 de novembro de 1929.

A luta pela manutenção da ordem entre os domínios dos senhores constitui um dos traços definidores da sociedade sertaneja. Toda a sua história, aliás, está marcada pelo que os sociólogos chamam de lutas de família, guerras de clãs ou vendetas. Nestas lutas de família, a autoridade dos coronéis fundava-se basicamente na capacidade de fazer cumprir suas decisões e impô-las, ainda que pela força, às demais facções ou parentelas. Tratava-se, portanto, de um poder emanado da força militar, da capacidade de manter um determinado número de homens em armas, mobilizados dentre a sua clientela.

Tal situação resultava frequentemente na formação de bandos armados, em especial quando o coronel que a liderava contava com o apoio do governo e, por isso, conseguia mobilizar mais gente e gozar de impunidade perante o poder. Elas, além dos parentes, reuniam dois tipos de elementos: em primeiro lugar, o jagunço, uma espécie de guarda-costas do senhor que, em geral, era um trabalhador com antecedentes criminais ou um pistoleiro profissional e que vivia sob a proteção do coronel em troca de serviços de natureza militar; em segundo lugar, o já citado cabra ou cangaceiro manso, um morador comum, que trabalhava na terra ou na lida com o gado, cujo contrato de trabalho implicava na defesa incondicional do senhor. Sendo assim, as causas determinantes do cangaço são duas: o coronelismo e a falta de justiça. O coronelismo, forma de oligarquia política rural, acabou estabelecendo, diante da falta de polícia na região, suas próprias milícias por meio do aliciamento dos cabras, facínoras para defesa de suas fazendas e garantia de seu prestígio político. Intitulado o chefão territorial de "coronel" por autopromoção ou por adulação de seus vassalos, fazia de sua vontade a própria "lei", visto que tinha a cobertura da política, o que equivale a dizer que contava com proteção judicial e policial.

Em decorrência disso, proliferavam as injustiças: o crime impune e a perseguição irreversível. E reagindo contra essa total carência de justiça tanto nas questões de terra como no trato dispensado ao trabalhador rural, tanto nas desonras de família como nos desvirginamentos de donzelas, tanto nas desfeitas como nos homicídios, surgiram oscangaceiros-heróis à frente de todas as esperanças perdidas. E, não só como um desesperado oprimido, mas na tentativa de mudar esse estado de coisas, surgiu Lampião! 

"Que não se julgue feliz
O que vive em bom estado,
Que vem a naufragação
E acaba em mau resultado".

 Lampião

Fontes: 
http://www.geh.com.br/forum/viewtopic.php?f=62&t=6333 
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2010/12/482270.shtml?comment=on


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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