Por Sálvio
Siqueira
O incansável
pesquisador/historiador João de Sousa Lima, em uma de suas inúmeras aventuras,
buscando resquícios sobre a 'conturbada' história do cangaço, com os seus
confrontos, principalmente em testemunhos de seus remanescentes, nos delicia
mais uma vez com um documento histórico. trata-se de um relatório encaminhado
ao 'estado maior' do comando contra os bandoleiros do cangaço. apreciem a
matéria.
Segue em
anexo a esse texto uma das cartas de interrogatórios realizados pela polícia e
que mostra a importância desses lugares citados com a história do cangaço e a
referência com pessoas da localidade. A carta vai transcrita na integra com os
erros e incorreções:
Aos três do
mês de maio de 1932, no arraial de Várzea da Ema em casa de residência do
segundo tenente Antonio Justiniano de Souza, sub delegado de policia, foi
interrogado o bandido acima referido que disse:
Em 1929, estando ele bandido, em seu rancho no lugar denominado São Francisco, foi surpreendido pelo grupo de Lampião que ali chegava a mando do Cel. Petronílio de Alcântara Reis, para que fosse as imediações do Icó e ali receber dinheiro enviado para Lampião, cuja importância era 20:000$000, mas só foram entregues 18:000$000 e que dois restantes Lampião disse que dava por recebido, quando lhe mandasse um cunheito de munição; o que não se sabe se isso efetuou-se, mais depois ouviu do bandido ferrugem a declaração de que teve referido Cel. Petronilio havia comprado munição. E que devido a esse encontrão foi ele depoente obrigado a refugiar-se nas Caatingas, pois as forças andavam a sua procura tendo por isso de quando em vez constantes encontros com os cangaceiros, merecendo do mesmo consideração a ponto de lhe ser entregue por “Lampião” um rifle com cem cartuchos, os quais conservou até a data de sua prisão, não tendo, porém feito uso da dita arma para a prática de crime.
Em 1929, estando ele bandido, em seu rancho no lugar denominado São Francisco, foi surpreendido pelo grupo de Lampião que ali chegava a mando do Cel. Petronílio de Alcântara Reis, para que fosse as imediações do Icó e ali receber dinheiro enviado para Lampião, cuja importância era 20:000$000, mas só foram entregues 18:000$000 e que dois restantes Lampião disse que dava por recebido, quando lhe mandasse um cunheito de munição; o que não se sabe se isso efetuou-se, mais depois ouviu do bandido ferrugem a declaração de que teve referido Cel. Petronilio havia comprado munição. E que devido a esse encontrão foi ele depoente obrigado a refugiar-se nas Caatingas, pois as forças andavam a sua procura tendo por isso de quando em vez constantes encontros com os cangaceiros, merecendo do mesmo consideração a ponto de lhe ser entregue por “Lampião” um rifle com cem cartuchos, os quais conservou até a data de sua prisão, não tendo, porém feito uso da dita arma para a prática de crime.
Que sempre foi seduzido por “Lampião” para fazer parte do seu grupo, mas nunca
aceitou, apesar de ter parente no grupo, como sejam: Azulão, Carrasco e Moita
Brava. Que esses encontros se efetuavam no lugar denominado Quirino para Lagoa
Grande, sendo os sinais convencionados para os referidos encontros, três
pancadas em um pau seco, ou então berrando como boi; que nunca recebeu dinheiro
de “Lampião” a não ser algumas roupas dadas pelos cãibras.
Que nos últimos encontros que “Lampião” teve com as tropas. Ele respondendo notou que alguns companheiros estavam desgostosos por verem os sacrifícios da causa, que nessa data viajaram nos “cascalhos” das aroeiras com direção a Várzea pernoitando a três quilômetros de distância.
Que nessa mesma noite desligou-se do bando a meia noite com Manoel Sinhô de Aquileu, sem que fossem pressentidos pelos outros e vieram pairar nas “Canouas” onde foram informados por Pedro de Aquileu que havia garantia para todos aqueles que tinham ligações com cangaceiros, uma vez que procurassem as autoridades para se entregarem.
E baseado nisso em companhia de Pedro veio à procura do Tenente Justiniano em Várzea de Ema onde se acha. Disse mais que “Lampião” depois do combate do touro com o Tenente Arsênio cuja força foi imboscada e morreu quase toda, escapando o referido oficial, pois é um herói que infrentou o grupo que era numeroso, com um fuzil metralhadora dando somente três rajadas conseguiu matar o irmão de Lampião, Ponto Fino e sendo forçado a abandonar a arma deixando-a inutilizada pelos bandidos.
Que nessa ocasião encontrou Lampião cartas ao Cel. Petronilio acusando Lampião, por isso Lampião resouveu queimar algumas fazendas referido Cel. Petronilio.
Disse mais que ouviu de Lampião dizer que tinha mil tiros de fuzil enterrados em um ponto lá para baixo, não declarado ao certo o lugar e que ia também a Curaçá a procura de outros mil tiros que tinha para lá.
Quanto ao armazenamento sabe que Lampião tem alguns rifles ensebados em ocos de pau (ensebados, para não darem o bicho próprio de madeira).
Perguntado quais são as pessoas que fornecem armas a Lampião respondeu que não conhece mais sabe que nas fazendas Juá, Várzea, e São José há “coitos” onde lhes prestam bastante serviços em abastecimentos.
E por nada mais dizer nem lhe ser perguntado deus-se por findo estas declarações ao presente auto que vae por todos assignados pelo tenente e testemunhas.
Várzea da Ema,
7 de maio de 1932” ".
Escritor/historiador João De Sousa Lima
Escritor/historiador João De Sousa Lima
Fonte: facebook
Página: Sálvio Siqueira
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