Por Raul Meneleu Mascarenhas
Como em um
passe de mágica ali estava eu em plena mata, na caatinga cheia de
espinhos, com o vento tangendo os passarinhos e fazendo suas pequenas
asas esvoaçarem-se graciosamente em um bailado doce e suave, amostrando-se umas
pra outras e tinindo seus cantos em contra partida com o silvo dele. Aprumei
minha oiças e escutei ao longe um canto de vozes humanas misturadas com sons de
zabumba e ferro, acompanhadas por acordes de sanfona.
Mirei pr'onde
deveria ir e olhando para meus pés, os vi calçados com alpercatas de couro
sem verniz e me assustei pois a poucos instantes estava calçado com um tênis
branco e fazia caminhada pela Orla da Prainha da cidade de Propriá às margens
do Velho Chico, o rio da redenção do nordeste. Mais uma vez tinha viajando em
meus pensamentos e relaxei.
Caminhando
velozmente, mas sem medo agora, parti com ímpeto para ver de perto aquilo que
estava imaginando: Deve ser uma festa.
Ao local chegando, encontrei-o varrido provavelmente com uma vassoura de piaçava, pois essa encontrava-se encostada em um pé de umburana e o chão como se tivesse sido encerado com carnaúba. Vários homens e mulheres vestidos com roupas que identifiquei rapidamente, eram cangaceiros.
Ao local chegando, encontrei-o varrido provavelmente com uma vassoura de piaçava, pois essa encontrava-se encostada em um pé de umburana e o chão como se tivesse sido encerado com carnaúba. Vários homens e mulheres vestidos com roupas que identifiquei rapidamente, eram cangaceiros.
O chão
escorregando muito, fazia que ajudasse aquelas alegres e despreocupadas pessoas
dançarem ao som tirado por um grupo de pessoas com indumentárias totalmente
diferentes, e de rosto sérios como se medo estivessem daquela situação
inusitada. Um deles cantando um xote que pude gravar bem sua letra que dizia...
Pra dançar eu
mais tu,
roçando queixo
com queixo,
se
botando remelexo,
escorregando
mais de um.
O ambiente
era cheiroso como se tivessem derramado no chão, um perfume de hibiscos e pra
melhorar a questão, caia como que um chuvisco, das folhas de um
juazeiro frondoso uma suave neblina, refrescando aquela tardinha. Vi com esses
olhos da imaginação, todo o carinho, de uma cabocla do sertão,
abraçando seu homem, que não era outro, senão Lampião.
O baile estava
perfumado, todo mundo agarrado, rodopiando pelo chão, e as belas
cangaceiras, todas elas faceiras, riam e cantavam, pra Maria e
Lampião.
Naquela festa
na caatinga do sertão seco e espinhento, os cabras tocados, embriagados de
perfume e pinga da boa, levantavam suas mãos, gritavam vivas, ao
famoso capitão, seu líder Lampião.
É
lampa, é Lampião!
É
lampa, é Lampião!
Seu nome é
Vigulino,
apelido
Lampião!
Lampião, tocou
também o oito baixos, esquentando a diversão, Maria dançava solta no
salão, não teve homem que se atrevesse, lhe puxar pela mão, era a Maria
do Capitão.
Maria dançava, toda
faceira e Lampião, a sanfona botou no chão, pra dançar com ela, rodopiando
e abraçando, Maria Bonita do sertão, a mais linda do Capitão.
Queria eu
ficar naquela final de tardinha, olhando e vendo a inocência, a criança de
cada fera daquelas, rodopiarem mais ao som do xaxado e baião onde
flutuavam notas musicais tocadas com maestria por aqueles homens sisudos.
Até hoje o baile é falado, em filmes, literaturas de cordel e sendo passado de pai pra filho, registrando e gravado o que se passou, naquele baile perfumado, onde xaxou o Capitão, e onde até hoje se ouvem os gritos cantados...
Até hoje o baile é falado, em filmes, literaturas de cordel e sendo passado de pai pra filho, registrando e gravado o que se passou, naquele baile perfumado, onde xaxou o Capitão, e onde até hoje se ouvem os gritos cantados...
É
lampa, é Lampião!
É
lampa, é Lampião!
Seu nome é Vigulino,
Apelido
Lampião!
Extraído do blog do pesquisador do cangaço Raul Meneleu Mascarenhas
http://meneleu.blogspot.com.br/2014/11/viajando-no-tempo-o-baile-perfumado.html
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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