Seguidores

sábado, 7 de fevereiro de 2015

HISTÓRIAS DO CANGAÇO – RUMO AO MASSACRE DE ANGICO - PARTE I

Por Anildomá Willans de Souza

(Extraído do livro LAMPIÃO. NEM HERÓI NEM BANDIDO. A HISTÓRIA, de Anildomá Willans de Souza)

No capítulo de hoje – HISTÓRIAS DO CANGAÇO - RUMO AO MASSACRE DE ANGICO – vamos conhecer uma curiosidade do cangaço, pouco abordado pelos Historiadores, mas que é de notório saber nas ribeiras do Pajeú.

O PRIMEIRO TIRO -  Depois de um dia espichado de trabalho, em que as famílias e amigos se acomodam nos bancos e tamboretes nos alpendres das casas, saboreando um café torrado no caco e adoçado com rapadura, seguido de umas gostosas baforadas de cigarro de palha, os assuntos fluem com toda naturalidade, quer seja comentando fatos da atualidade, mexericos ou causos e exemplos do passado.

As conversas vão e vem, e vez por outra, qualquer matéria que se aborda, alguém tem na ponta da língua um causo que envolve o nome do Padre Cícero ou Lampião.

Aí já é mote pra todo mundo depor alguma passagem que seu avô ou avó presenciou, tendo um dos dois personagens citados como protagonistas.

E é justamente nestas histórias que quero me agarrar para trazer a tona às versões que escutamos a respeito do motivo de ter levado Virgolino a se tornar o Lampião.Isto é, como começou sua briga com Zé Saturnino, primeiro passo para tornar-se cangaceiro.

As conversas são muitas e todas têm seu fundo de verdade.

Entre um gole e outro de café, entre um cigarro e outro, as variantes vão tomando conta do tempo.

Pelo menos uma coisa temos certeza, que não foi um só incidente que rompeu os laços de amizade entre a família Ferreira e Zé Saturnino com os Nogueiras, e sim um aglomerado de acanhadas desavenças.

Muitas pedras foram postas nos caminhos dos dois:

Como falamos anteriormente, a família Ferreira, tinha como patriarca José Ferreira, que morava com a mulher e os filhos no Sítio Passagem das Pedras.

Tinha como vizinho o patriarca dos Alves de Barros, Saturnino Alves de Barros, da fazenda Pedreira, casado com Alexandrina, carinhosamente chamada de Dona Xanda.


Tamanha era a amizade destas famílias que este casal era padrinho de Antonio Ferreira, irmão mais velho da irmandade dos filhos de José Ferreira.


As residências de ambos tinham apenas uns setecentos metros uma da outra.
Pais amigos.
Filhos amigos.
Era uma relação amistosa.

Por serem tão vaidosos
Os Ferreira sempre andavam
Muito cheirando a perfume
Que nas viagens compravam
E todas festas que iam
As moças lhes perseguiam
E só a eles paqueravam.

Além da boa aparência
Que despertava atenção
Vestiam melhores roupas
Das feiras da região
E sempre que viajavam
Por onde eles passavam
Sobrava admiração.

Com isso outros rapazes
Sentiam-se enciumados
Vendo a fama dos Ferreira
Crescendo em todos os lados
Só pensavam na má fé
Procurando qualquer pé
Para acusá-los de culpados.
(Gilvan Santos)

Juntos iam às festas em Vila Bella, Floresta do Navio, Nazaré do Pico, São Francisco, São João do Barro Vermelho, nas demais fazendas quando por qualquer motivo comemoravam algo.

Trabalhavam nas lavouras.

Pegavam bois na caatinga, vestido num gibão, sem medo de enfrentar a agressividade daquelas brenhas.

Entre as amizades destacava-se a de Virgolino com José Alves de Barros (1).

Estes dois viviam emparelhados, desfrutando da juventude e todo divertimento nas redondezas.

Mas, pequenos detalhes indesejados começaram a fazer a diferença na camaradagem.

Dois jovens temperamentais, impulsivos e donos de si, iam, aos poucos, arranhando a afeição.

Fatos como:

Um certo tempo os dois selavam seus cavalos e embocavam no mato procurando um determinado garrote brabo.

Fizeram isto dias a fio e nada de encontrarem o bicho.

Certa tarde, após voltarem de mãos abanando, sem sucesso da pega, combinaram que só iriam continuar a busca dois dias pra frente, por que Virgolino iria cuidar de outros afazeres.

Tudo combinado.

Só que no dia seguinte José Alves de Barros - que entrou pra história com o nome de Zé Saturnino - preparou sua montaria e danou-se na caatinga e, por pura sorte, não precisou procurar muito, encontrou o tal garrote, laçou, dominou e chegou em casa vitorioso.

Quando Virgolino soube do acontecido ficou irado com o parceiro, alegando não ter o mesmo cumprido o combinado, conforme dito no dia anterior.

Outra ocorrência serviu de tempero para dar gosto neste burburinho: 

Foi numa festa na fazenda São Miguel. Gente de toda redondeza estava lá. Antonio Ferreira vinha chegando montado num cavalo e riscou o animal, acidentalmente, em cima, quase atropelando,  Zé Saturnino. Foi um fuzuê danado. Os presentes contornaram o entusiasmo dos dois e ficou o dito pelo não dito... ou, o feito pelo não feito. As horas foram passando, a festa corria animada com os comes e bebes, muita cantoria e conversas. Tudo parecia tranquilo. Antonio montou novamente no animal, repetiu a cena da chegada e disse desafiando:

“- Da primeira vez não foi por gosto, mas agora é. Esse cavalo que vocês reclamam que não presta e que vive correndo atrás das éguas da vizinhança,  é o que melhor  serve pra minha montaria e pra cruzar com sua mãe e suas irmãs!”

Meteu as esporas no vazio do animal e saiu em disparada soltando gargalhadas. Os que ficaram, não acharam graça nenhuma. Viam, claramente, que boa coisa não estava pra advir.

CONTINUA...

http://pontodeculturacabrasdelampiao.blogspot.com.br/2014/01/historias-do-cangaco-rumo-ao-massacre_12.html

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário