Por Geraldo Maia do Nascimento
Os primórdios do nosso Carnaval II
O jornal “O Mossoroense”, de fevereiro de 1950 noticiava: “Estiveram coroadas de êxito as festividades carnavalescas deste ano. Durante os três dias de tradicional festa, o povo acorreu, indistintamente, às ruas e aos salões de danças, numa demonstração de alegria, em homenagem ao Rei Momo”.
E
foi assim aquele carnaval. As ruas fervilhavam de foliões, cantando alegremente
as modinhas da época. Blocos e os mais diversos tipos de agremiações surgiam a
todo instante com seus estandartes coloridos, suas fantasias vistosas e alegria
contagiante, fazendo com que todos entrassem no ritmo da agremiação.
Toda
concentração se dava na Praça do Pax, como era conhecida. Ali era montado o
corso, por onde todos desfilavam, sendo aplaudidos pela multidão que se
aglomeravam nas calçadas.
Já
a edição de março de 1957 trazia em manchete: “Em pleno reinado do Rei Momo.
Imponentes festas nos clubes e nas ruas. Sete clubes desfilarão pela cidade”.
Era época de carnaval, portanto toda a cidade acorria a via pública para
prestigiar os blocos que desfilavam.
Por
todo lado o assunto era carnaval. Na ACDP os preparativos superavam as
expectativas, tal era a beleza da decoração, aguardando a hora de abrir os seus
salões para os foliões. O mesmo acontecia no Clube Ypiranga. Mas para
participar dos bailes, era preciso que os sócios estivessem em dias com as suas
mensalidades. Os trajes eram os de passeio ou as tradicionais fantasias. Mas já
havia na época a preocupação com o uso de drogas. E os clubes tinham em suas
metas punir severamente as pessoas que estivessem inalando “éter”. Outra grande
preocupação era a do Poder Judiciário para evitar a presença de menor nos
clubes. Para tanto, o juiz Jaime Jenner de Aquino, que era titular da 2ª Vara
Cível, nomeou vários comissários de menores para atuar em todos os cantos da
cidade.
Mesmo
quando a cidade ainda não dispunha de serviço de rádio, a programação
carnavalesca era divulgada através da Amplificadora Mossoroense, que era
responsável pelo serviço de alto-falantes. Esse empreendimento foi inaugurado
pelo Padre Mota, quando Prefeito da cidade. A Amplificadora, em parceria com o
Cine-Pax, se encarregava de divulgar os detalhes das comemorações momescas. Uma
equipe formada pelos locutores Jim Borralho Boavista, Edmilson e José Leite de
Aragão Mendes, movimentava a grande festividade popular, divulgando os eventos.
No
final dos anos 50 o país se emocionava com a radionovela “O Direito de Nascer”.
O sucesso da novela era tão grande que acabou virando marchinha de carnaval. A
novela serviu de inspiração para um jovem folião Mossoroense, Luís Gonzaga da
Rocha. E no carnaval de 1957 ele idealizou uma boneca gigante, feita com
armação de arame e aspas, coberta com papel de saco de cimento. Depois da
estrutura pronta, pintou a boneca de preto e cobriu seu corpo com um grande
vestido de estampa colorida. Na hora de escolher o nome da boneca, não teve
dúvida: o resultado do seu trabalho tinha ficado semelhante a descrição de uma
das personagens da telenovela que era Mamãe Dolores. Nascia assim a primeira
boneca gigante do carnaval de Mossoró.
A
iniciativa de Luís Gonzaga de criar a Mamãe Dolores fez escola em Mossoró,
tanto assim que em 1967 um outro folião, o mecânico de automóveis Edmilson
Cassiano da Silva, mais conhecido por Chapita, resolveu também criar uma boneca
gigante para brincar o carnaval. Nascia assim a “Maria Manda Brasa”, que saiu
pela primeira vez no carnaval de 1967, ao som de um fole tocado pelo próprio
Chapita, acompanhado por bombos, taróis e reco-reco, tocados pelos amigos.
E
assim o carnaval de Mossoró ganhava animação, renovando-se a cada ano,
reinventando-se a cada carnaval. Mas a partir da década de 80 a nossa festa de
momo foi enfraquecendo, diminuindo a cada ano. Hoje não existe mas nem sombra
dos nossos grandes carnavais. Nesse período a cidade se esvazia, o comércio
fecha suas portas, o marasmo toma conta da cidade. E o que nos resta? Bem, é melhor
imitar o poeta e dizer: “Acabou nosso carnaval, ninguém ouve cantar canções,
ninguém passa mais brincando feliz, e nos corações, saudades e cinzas foi o que
restou”. (“Marcha de Quarta-Feira de Cinzas”, de Vinícius de Morais).
Geraldo
Maia do Nascimento
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