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terça-feira, 14 de abril de 2015

"O GLOBO" - 21/07/1984 NUM SÓ DISCO, O QUE HÁ DE MELHOR NA MÚSICA DO CANGAÇO

Por Antônio Mafra

SÃO PAULO – De “Mulher rendeira” a “Mulher nova, bonita e carinhosa faz o homem gemer sem sentir dor”, esta última, uma recente toada em versos de martelo agalopado, de Otacílio Batista e Zé Ramalho, o cangaço sempre foi um bom filão para os compositores brasileiros. Dele, saíram obras esporádicas enaltecendo o movimento ou um de seus personagens, que, na maioria dos casos, nunca foram retomadas. “A música do cangaço”, álbum do Selo Eldorado lançado há menos de dois meses, reúne as melhores e mais significativas canções que a população urbana já ouviu sobre a saga de Lampião e seu bando, compondo, com o texto de Fernando Portela, que acompanha o disco, um painel histórico que até mesmo o mais leigo vai entender.

“A música do cangaço” começa com “Olha a pisada” (Zé Dantas e Luiz Gonzaga), interpretada pelo Rei do Baião. A inclusão desta música é ainda mais válida porque recupera versos de “Mulher rendeira” – “Ô Ô mulher rendeira/ Ô Ô mulher rendá/ Chorou por mim não fica/ Soluçou vai no emborná” – que estavam esquecidos.

“Cavalos do cão” (Zé Ramalho), a canção seguinte, um xaxado que lembra as harmonias que Elomar Figueiredo descobriu nas suas pesquisas em busca de uma linguagem musical do sertão brasileiro, dá um flash da vida de Lampião e suas fugas: “Correr da volante no meio da noite/ No meio da caatinga/ Que quer me pegar”. Essa composição e “Mulher nova...”, que está no bloco que inicia o lado B e fala das mulheres cangaceiras, eram para serem cantadas, respectivamente, por Zé Ramalho e Amelinha, a CBS, inexplicavelmente, não cedeu os fonogramas originais, mas o tiro saiu pela culatra; escolhendo outros intérpretes, com destaque para a bela voz de Teca Calazans, o Selo Eldorado deu novo brilho a obras que estavam desgastadas.

“Se eu soubesse que chorando/ Empato a tua viagem/ Meus olhos eram dois rios/Que não te davam passagem”. Quem é que não se lembra desses versos? E com eles, num registro quase inédito do ex-cangaceiro Volta Seca, que se diz autor da música, que se abre o lado B. O destaque aqui é o frio e impressionante depoimento de Sila, viúva de Zé Sereno, companheiro de Lampião sobrevivente do célebre Massacre de Angico.
Uma canção homenageando o líder do cangaço (“Lampião” de Sérgio Ricardo e Glauber Rocha), um texto enaltecendo a bravura de Corisco (“Reza do Corisco”, da mesma dupla) e uma música que faz uma advertência sobre a continuação do cangaço nos dias de hoje, “De gravata e jaquetão/ Sem usar chapéu de couro/ Sem bacamarte na mão (“Lampião falou”, de Venâncio e Aparício Nascimento) fecham o álbum.

Fonte: facebook
Página: Antônio Corrêa Sobrinho

http://blogdomendesemendes.blogspot.com


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