Por Rostand Medeiros
DOCUMENTÁRIO
“CHAPÉU ESTRELADO – OS CAMINHOS DE LAMPIÃO NO OESTE POTIGUAR” COMEÇARÁ SUAS
FILMAGENS EM BREVE
Yuno Silva –
Repórter, jornal Tribuna do Norte, edição de 10 de abril de 2015
A passagem
meteórica de Virgulino Ferreira da Silva pelo Rio Grande do Norte, em junho de
1927, vai muito além da histórica derrota sofrida em Mossoró. Eterno rei do
cangaço, temido e amado por muitos, Lampião circulou 96 horas por terras
potiguares deixando um rastro de violência que o tempo não foi – e muito
provavelmente não será – capaz de apagar. É no encalço dessa rota, que durou
apenas quatro dias, que o documentário em longa-metragem “Chapéu Estrelado – Os
caminhos de Lampião no Oeste Potiguar” cai na estrada a partir do dia 22 de
abril. A data de lançamento ainda não está definida, mas a intenção da equipe é
lançar ainda este ano.
Com direção do
cineasta carioca Silvio Coutinho, roteiro do escritor e artista plástico Iaperi
Araújo, produção executiva do crítico de cinema Valério Andrade (FestNatal)
e pesquisa de Rostand Medeiros, o filme refaz o caminho que o bando de
Lampião (1898-1938) trilhou entre 10 e 14 de junho de 1927 pelo interior do
Ceará, Paraíba e RN. Período que marcou o início do fim do reinado do Capitão
Virgulino pelo Sertão nordestino.
Tribuna do
Norte, edição de 10 de abril de 2015
A proposta do
‘road movie’, cujas imagens serão capturadas com equipamento de tecnologia 4k
(resolução quatro vezes superior ao padrão ‘Full HD’), é registrar a memória de
herdeiros diretos, gente que está na faixa dos 80 anos, daqueles que
testemunharam episódios envolvendo o famoso cangaceiro. Entre os depoimentos,
imagens antigas e comentários de historiadores e estudiosos do tema.
Sem amparo de
leis de incentivo ou editais, com alguns apoios locais, o documentário será
rodado de 22 de abril a 6 de maio na zona rural de cidades como Luis Gomes,
Major Sales, Marcelino Vieira, Antônio Martins, Caraúbas, Apodi, Felipe Guerra,
Governador Dix-Sept Rosado, Mossoró e Baraúnas – em 1920 o caminho dos
cangaceiros atravessava seis municípios, hoje são 19.
“Nosso ponto
de partida será a fazenda de Ipueira, em Aurora no Ceará, onde Lampião foi
acolhido pelo Coronel Isaías Arruda. Foi lá que ele conheceu o pistoleiro (e
dublê de cangaceiro) Massilon, que seria seu guia pelo RN. O alvo do bando era
Mossoró”, disse Rostand Medeiros, escritor e autor da pesquisa que embasou o
projeto “Nas Pegadas de Lampião” encomendada pelo Sebrae-RN em 2010. Saindo de
Aurora, o filme segue Lampião pela Paraíba, sobe a ‘tromba do elefante’ e
termina na cidade de Limoeiro do Norte também no CE.
O livro
“Lampião e o Rio Grande do Norte: a história da grande jornada”, de Sérgio
Dantas, está sendo utilizado como base de dados para o trabalho de percorrer
e filmar o caminho de Lampião no RN – Fonte da foto – lampiaoaceso.blogspot.com
O mapeamento
inicial do trajeto dos cangaceiros pelo RN foi feito pelo juiz Sérgio
Dantas, que em 2005 lançou o livro “Lampião e o Rio Grande do Norte: a história
da grande jornada”. No livro, Dantas desfaz equívocos e tira das costas de Virgulino
Ferreira uma série de crimes que o cangaceiro não teria como cometer por
questões temporais e geográficas.
Dinheiro e
vingança
“A resistência
em Mossoró é um fato histórico muito importante, mas a curta passagem de
Lampião pelo RN vai além”, garante Rostand, que já percorreu todo o percurso de
moto para se aproximar da trilha original feita à cavalo. O pesquisador
ressalta que Lampião tinha pretensões puramente financeiras na empreitada,
enquanto Massilon e o Cel Isaías Arruda também tinham motivação pessoal,
política e de vingança. “Quando Virgulino percebeu que estava sendo usado era
tarde, o estrago estava feito. O plano dos cangaceiros era subir sem alarde até
Mossoró, queriam manter o elemento surpresa, mas Massilon tocou o terror logo
no primeiro povoado (Canto do Feijão, atual Santa Helena na PB) matando o
delegado do lugar”.
Jornal de
Caicó repercutindo o ataque de Lampião e seu bando a Mossoró
Sobre o
combate em Mossoró, Rostand informa que há um entendimento de que Lampião não
foi para a linha de frente propriamente dita, e sim enviou subgrupos comandados
por Massilon (que conseguiu fugir do massacre), e os cangaceiros Sabino,
Colchete e Jararaca – este último capturado, executado e que hoje é tido como
santo para devotos que visitam seu túmulo todo Dia de Finados na capital do
Oeste.
Em 2010,
realizando uma consultoria para o SEBRAE-RN, percorri junto com o amigo Solón
Rodrigues Netto o caminho de Lampião no Rio Grande do Norte, baseando a rota no
trabalho de Sergio Dantas, Já naquele período este trabalho havia sido notícia
no jornal natalense Tribuna do Norte.
“Mossoró
utiliza, com razão, muito a memória desse ataque, mas tem muita coisa no
caminho”, avisa Rostand, citando o exemplo da igreja de São Sebastião
construída no alto da Serra de Veneza, em Antônio Martins, por pessoas que
conseguiram escapar do bando e que prometeram rezar uma missa anualmente se
sobrevivessem.
Diretor Silvio
Coutinho – Fonte festnatal2013.blogspot.com
“Até hoje essa
missa é rezada”, acrescenta o pesquisador, que ainda não conhece Silvio
Coutinho pessoalmente, mas tem trocado ligações telefônicas frequentes com o
diretor que chegam a durar horas.
Iaperi
Araújo
O roteiro de
Iaperi Araújo, que também assina parte da trilha sonora original, teve como
base, além das pesquisas, os três livros publicados por ele sobre o assunto: “A
Cabeça do Rei – A morte e a morte de Virgulino Ferreira da Silva Lampião”
(2007), “No Rastro dos Cangaceiros” (2009) e “Angico 1938” (2013).
O escritor e
artista plástico Iaperi Araújo é o roteirista de “Chapéu Estrelado – Os
caminhos de Lampião no Oeste Potiguar”
“Há um tempo
escrevi um roteiro de ficção sobre Lampião no RN. Acabou não vingando, aí
surgiu essa oportunidade do documentário. Quando Silvio Coutinho esteve em
Natal, em 2013, para o FestNatal, conversamos e ele ficou muito animado com a
ideia”, lembrou Iaperi. “Pediu o básico do básico (passagem aérea, hospedagem e
alimentação) pois acredita no potencial do projeto”.
Visão do
Diretor
“Não conhecia
a dimensão dessa passagem de Lampião aí pelo RN, fiquei fascinado com o que
ouvi e me ofereci para ajudar a levar essa história para o cinema”, contou o
diretor Silvio Coutinho por telefone ao VIVER. “Estamos fazendo tudo com muito
cuidado, muito carinho. O projeto está sendo conduzido com seriedade e acredito
muito nesse filme”.
Coutinho
adiantou que o formato do documentário, que conta com parceria da produtora
Locomotiva Cinema de Arte (RJ), será moderno, dinâmico. “Vamos explorar
bastante a paisagem dos três estados onde vamos filmar (CE, PB e RN) e ouvir
herdeiros dessa memória pelo caminho”.
A produção executiva
deste documentário esta a cargo de Valério Andrade, crítico jornalista e
diretor do Festnatal.
O cineasta
carioca ressalta que o prioridade “máxima” é que a primeira exibição pública
seja no RN, “pelo menos” em Natal e Mossoró. “pelo menos”. O plano é
lançar ainda em 2015, mas a data não foi definida. “Depois do lançamento, e
antes de chegar ao circuito comercial, pretendemos fazer o circuito de
festivais nacionais e internacionais. O cangaço é um tema internacional e
continua atual, vide o filme ‘A Luneta do Tempo’, de Alceu Valença, que aborda
o cangaço de forma lúdica e poética”
Em 2010,
percorrendo o caminho de Lampião no RN e entrevistando aqueles que tinham
historias inesquecíveis daquele junho de 1927, que o Rio Grande do Norte jamais
esquecerá.
Ele destaca
que, apesar de contar com apoio de instituições potiguares, grande parte do
investimento é próprio. “Apostamos na repercussão do filme, por isso resolvemos
rodar sem esperar por editais e captação via lei de incentivo. Tudo para não
perder, como diz Iaperi, ‘o trem da história’. Essa memória da passagem de
Lampião pelo RN ainda está muito impregnada nas pessoas, na paisagem, e através
do cinema podemos compartilhar com um público maior”.
Colaborou:
Cinthia Lopes – editora
AOS LEITORES E
VISITANTES DO BLOG TOK DE HISTÓRIA – DEVIDO A MINHA PARTICIPAÇÃO NESTE
DOCUMENTÁRIO, FAREMOS UMA PAUSA NAS PUBLICAÇÕES DO NOSSO BLOG. CONTAMOS COM A
COMPREENSÃO DE TODOS E EM BREVE VOLTAREMOS.
UM GRANDE
ABRAÇO!
ROSTAND
MEDEIROS
Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros
http://tokdehistoria.com.br/2015/04/11/pelos-caminhos-de-lampiao/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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